Santa Catarina, a alternância necessária
Ponto de Vista

Santa Catarina, a alternância necessária

Santa Catarina é o maior município em termos territoriais da ilha de Santiago. Composto por várias localidades com alguma dimensão territorial e populacional, este concelho ocupa uma centralidade única na chamada região norte de Santiago. Com grandes potencialidades nos domínios do comércio, agricultura, pecuária e pescas, Santa Catarina tem assistido a uma perda sucessiva das suas oportunidades no quadro do desenvolvimento global de Santiago e de Cabo Verde, fruto, em certa medida, de uma visão redutora e miope das suas autoridades locais.

Quem chega a Santa Catarina, entrando pela sua porta de entrada principal, nota-se algumas alterações no ornamento da cidade de Assomada, o que consequentemente leva as pessoas a pensarem que o município no seu todo está numa dinâmica de desenvolvimento sem igual. Puro engano!! Santa catarina nunca foi só a vila de Assomada e nunca será só a cidade de Assomada. As obras ornamentais, maquetes, podem até mascarar ao ponto de iludir e induzir as pessoas menos atentas acerca do real desenvolvimento do município, mas ela não consegue iludir os mais atentos. Pois, o abandono das localidades periféricas da cidade de Assomada, nomeadamente as suas diversas localidades de vocação agrícola, advoga a favor da ideia de que as cercas de 50 localidades periféricas do concelho têm sido meros espetadores, não tendo igual oportunidade de desenvolvimento.

A visão centralista da atual equipa camarária tem deixado ao abandono milhares de famílias do mundo rural, nomeadamente jovens que sentem na pele o tal abandono. Estes que clamam por políticas de emprego e também clamam por igualdade de oportunidade no acesso às oportunidades de desenvolvimento pessoal e comunitário.

Com a área territorial de cerca de 243 km quadrados e com cerca de 50 mil habitantes, é nas suas localidades periféricas é que concentra o maior numero dos seus habitantes e estes que são o verdadeiro motor do desenvolvimento do município, labutando no campo e no mar diariamente, e que hoje se encontram numa deriva sem igual, motivada pelas opções políticas erradas que vêm sendo tomadas por quem devia zelar pelo bem-estar de todo eles, sem exclusão de ninguém.

Como se explicar a um jovem de Gil Bispo, Boa Entrada ou Entre Picos, que vê sucessivamente negado a sua oportunidade de pleitear de igual por igual com outro jovem de centro urbano, porque quem devia criar meios para que ele tivesse oportunidades iguais a esses ao invês de cumprir com as suas obrigações, optou por fazer obras de enfeites que tão pouco servem aos interesses dos seus munícipes?

Cabo Verde tem vivido nos últimos três anos uma grande seca e Santa Catarina, como sabemos, é um município de vocação agrícola, o que tem criado grandes dificuldades a uma franja considerável da sua população. A esta grande afronta provocada pela seca dos últimos 3 anos, associam-se ainda a ausência de políticas locais viradas para o mundo rural, agudizando ainda mais a vida da população de campo.

A falta de visão e de políticas claras e inclusivas que servem o município no seu todo só pode ter uma única explicação - desgaste da equipa camarária e do partido que o sustenta. Passados mais de 10 anos do MPD à frente da Câmara Municipal de Santa Catarina é hoje notória a necessidade de uma alternância política para o bem da democracia local e do desenvolvimento do nosso amado município.

Os santa-catarinenses devem enfrentar com otimismo as próximas eleições autárquicas, sendo este o derradeiro momento e oportunidade de promover Santa Catarina para a ribalta, e não podendo desperdiçar tal oportunidade, sob pena de perderem o comboio do desenvolvimento, e ficarem para trás.

Hoje mais do que nunca é preciso pensar Santa Catarina no seu todo, porque nenhum município ou país desenvolve sem um programa inclusivo e extensivo a toda sua população.

Eu, sendo filho de Santa Catarina, junto a minha voz a milhares de outras vozes de filhos e amigos deste concelho, para junto clamarmos por uma alternância que nos dê garantia de que todos de forma igual terão direito a sua gota de água, e que a nenhum jovem de Engenhos, Ribeirão Manuel ou Rincão será negada a oportunidade de lutar pelos seus sonhos.

Winston Churchill havia dito que “a alternância fecunda o solo da democracia”. A essa verdade pode se acrescentar que, além de fecundar ela também abre novas oportunidades e pode trazer novas dinâmicas. E Santa Catarina bem precisa de uma nova dinâmica, onde se pode propor a todos os seus munícipes e a todas as suas localidades uma igual oportunidade de desenvolvimento.

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