Ana Isa Correia, que nasceu com albinismo, disse que nunca se sentiu diferente, e apesar das suas limitações vive como uma pessoa "normal”, defendendo que esta condição genética não deve ser uma barreira a conquistas pessoais.
Ana Isa Correia, ou simplesmente Isa, como é conhecida por todos, nasceu no bairro de Achada Santo António, na cidade da Praia. Logo após o seu nascimento, a família recebeu o diagnóstico de albinismo, que é uma condição genética que afecta a produção de melanina, ou seja, o pigmento que dá cor à pele, aos cabelos e aos olhos.
O facto de ter nascido albina, conforme contou em entrevista à Inforpress, não foi uma surpresa para a sua família.
“Os meus pais não são albinos, eu nasci albino, considero isso como uma decisão divina. Tenho dois filhos albinos. Pelos relatos que tenho do meu nascimento, o facto de eu ter nascido albina não foi uma surpresa para a minha família porque na família do meu pai já tinha albino, por isso não foi um choque”, declarou.
Ao recordar a sua infância, Isa realça ter boas memórias, descrevendo como sempre chamou a atenção das pessoas e foi bem tratada e acarinhada.
"Não sofri preconceitos na minha infância, claro que a minha cor sempre chamou a atenção das pessoas. Eu sou grata por ter crescido no bairro de Achada Santo António porque aqui não temos este hábito de discriminar as pessoas e sou dos tempos em que os vizinhos cuidavam dos vizinhos e sempre tivemos esta protecção, o cuidado e o carinho", recordou.
Apesar de ter sido sempre bem acarinhada, Isa refere que os momentos de brincadeiras, que hoje considera ‘builling’, sobre a sua cor de pele e cabelo, foram sentidos um pouco durante o período do pré-escolar e no ensino básico, mas que ignorava quando a chamavam de “boneca” por entender que as crianças não o faziam por maldade.
À medida que foi crescendo, sublinhou, as brincadeiras cessaram. Quando teve dois filhos que também são albinos, Isa afirma que por saber que os seus filhos poderiam não encarar bem as “brincadeiras” na escola, ensinou-os a amar a cor da sua pele e cabelo, a se aceitarem como são e a não se importarem com o que os outros diziam.
“Eu não me sinto diferente, nunca me senti diferente das demais pessoas. Posso ter as minhas limitações porque tenho que evitar exposição ao sol, vento, poeiras, problemas de visão, mas como albina, tanto eu como os meus filhos, vivemos normal como qualquer outra pessoa considerada ‘normal’”, sublinhou, recordando ser frequentemente confundida com turista.
Na mochila, Isa e os filhos sempre levam um protetor solar, essencial para proteger a pele dos raios ultravioleta, e disse que o custo elevado deste produto é uma das dificuldades para quem tem albinismo, devido à grande demanda.
Já trabalhou em empresas como a Moura Company, Confecções Alves Monteiro, no sector de vendas, mas foi na área de Ciência de Educação que se formou. No entanto, salienta que foi na costura que encontrou a sua paixão, seguindo os passos da mãe que foi costureira por mais de 40 anos.
“Sempre gostei da costura. Desde 2016 sempre sonhei em ter o meu próprio negócio para ser uma empreendedora. Hoje, tenho o meu próprio negócio na área da costura, mas na vertente confecções de têxteis para decoração de lares, ainda é uma empresa pequena, mas tenho a trabalhar comigo mais duas pessoas”, indicou.
Hoje, a residir no bairro de Fonton, Isa sonha em expandir a sua microempresa para uma de maior dimensão. Quando não está no ateliê a trabalhar, Isa encontra refúgio e lazer a cuidar da sua horta em casa.
Questionada porque não seguiu os caminhos da docência, já que era a profissão dos sonhos desde criança, disse que entendeu com o passar dos anos que os planos mudam, que o seu o sonho foi sendo substituído por outras paixões que na altura estavam em sintonia com a sua vivência.
“Abracei a profissão de costureira, mas é uma costura diferente daquela que a minha mãe fazia. É uma profissão que exerço com muito amor e recebi muito apoio da minha família e isso motivou-me a não desistir. Tenho várias parcerias de trabalho e a minha missão é continuar a dar o meu melhor para agradar os meus clientes”, concluiu.
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