A economia está a crescer, o investimento idem aspas e é bom o ambiente de negócios… no entanto, apropriadamente, há uma interrogação que não se pode calar: a ser assim, por qual razão, sempre que vão ao supermercado, os cabo-verdianos e as cabo-verdianas levam para casa cada vez menos produtos essenciais?
O primeiro-ministro continua a persistir na velha narrativa de que a economia cabo-verdiana está a crescer, acantonado naquilo que define como bom ambiente de negócios, os incentivos fiscais e o investimento privado. A narrativa foi retomada com maior estridência a propósito da apresentação do Orçamento do Estado para 2025.
Recuando aos orçamentos dos últimos anos, até se poderá dizer que Ulisses Correia e Silva parece fazer um reiterado copy-paste de todas as declarações já proferidas, porque a narrativa é sempre igual e os impactos junto da maioria da população, também: praticamente nenhuns!
Crescimento da economia só chega aos bolsos de alguns
A economia está a crescer, o investimento idem aspas e é bom o ambiente de negócios… no entanto, apropriadamente, há uma interrogação que não se pode calar: a ser assim, por qual razão, sempre que vão ao supermercado, os cabo-verdianos e as cabo-verdianas levam para casa cada vez menos produtos essenciais?
A razão é simples: o suposto crescimento da economia é direcionado para os bolsos de alguns e, por via fiscal, para o Tesouro (para sustentar as mordomias de um Estado e de um governo gordos), porque a maioria, refém de salários baixos, tem um precário acesso ao consumo.
Ora, é bom de ver que não basta o investimento se não for acompanhado do aumento do consumo. Porque é isso que faz, de facto, crescer a economia. E o aumento magro do salário mínimo para dezassete mil escudos irá ter reduzido impacto em matéria de transações comerciais.
A falácia da formação e capacitação dos jovens
Especialista em ilusionismo, Ulisses Correia e Silva tem vindo a reiterar, ainda, a narrativa das oportunidades para os jovens, alardeando a formação profissional e ações de capacitação que, segundo o próprio, irão gerar mais empregos entre este setor etário.
É uma narrativa também antiga, que já ouvimos em anos anteriores, cujas políticas se traduzem na debandada de milhares de jovens cabo-verdianos para o exterior, tendo como destino a precariedade laboral e os baixos salários na Europa, em tarefas profissionais indiferenciadas.
Isto é, como já toda a gente percebeu, não há uma relação de causa e efeito entre a formação tão alardeada por Ulisses e as oportunidades para os jovens, cujo destino é o exílio forçado por razões económicas, exercendo funções sem correspondência com as ações de formação.
O disco das narrativas de Ulisses Correia e Silva já está riscado, girando infindáveis vezes e tocando sempre a mesma música. E essa perceção, junto da população, já se começa a generalizar.
Comentários