O administrador da TACV, Mário Barbosa, reconheceu hoje que as operações domésticas da transportadora aérea nacional eram “altamente deficitárias”, provocando um prejuízo anual que rondava os 500 mil contos.
“Daí que tenha contribuído, de forma determinante, para que o montante da dívida (da TACV) fosse tão avolumado”, indicou Mário Barbosa, conhecido na empresa pelo nome de comandante Socorro.
O comandante da TACV que trabalha na companhia aérea nacional desde 1982, fez estas declarações durante a audição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para apurar a verdade sobre a gestão daquela empresa desde 1975 a 2016.
Questionado sobre os valores injectados na TACV neste momento, preferiu não entrar em detalhes, alegando que não os tem em mente, mas sobre o pagamento das dívidas admitiu que há “várias operações feitas”, nomeadamente o lançamento de obrigações e “empréstimos feitos por entidades bancárias”.
“Com a operação internacional e a pouca receita que temos, vamos fazendo ginástica financeira, pagando as dívidas mais críticas, nomeadamente aos parceiros como a ASA (Empresa de Segurança Aérea), CV-Handling e aeroportos na Europa”, precisou o depoente, acrescentando que a TACV tem ainda que pagar a entidade que controla o espaço europeu, porque, diz, caso contrário, a “operação pára”, assim como as empresas petrolíferas.
Conforme deixou entender, houve negociações no sentido de as dívidas da transportadora aérea serem pagas de “forma parcelada”, permitindo assim que houvesse continuidade das operações.
Sobre os aviões ATR vendidos à companhia irlandesa, Helix, e, que depois, a TACV passou a alugá-los a um “custo elevadíssimo”, o comandante Socorro lamenta que o negócio tivesse sido feito desta forma.
“Feitas as contas, os valores que íamos pagar, caso houvesse contracção de um empréstimo junto à banca para pagar as dívidas acumuladas, a prestação mensal seria consideravelmente inferior à renda que passamos a pagar depois de tomarmos os aviões em regime de aluguer”, esclareceu o administrador da TACV, acrescentando, porém, que a opção de vender aqueles ATR se deveu às “dívidas acumuladas” e em relação às quais a empresa não estava em condições de as pagar.
Segundo ele, a operação com a Helix foi “catastrófica” e até ainda “não foram clarificadas completamente quais foram as verdadeiras razões”, que ele não entende.
“Se era só para pagar as dívidas, se calhar, era melhor ir à banca fazer o empréstimo e pagar as dividas e amortizá-las ao longo do tempo, a um valor aceitável”, indicou aquele responsável.
Não tem dúvidas de que o negócio dos ATR com a Helix foi “lesiva” para a transportadora aérea nacional.
Revelou, por outro lado, que, em 2016, quando voltou a assumir as funções de dirigente na TACV, encontrou uma “situação complicada”.
“Encontramos um contrato em cima da mesa para ser assinado, que era para a troca desses ATR para dois aviões mais antigos. Tivemos que adiar este processo, pedindo a intervenção do Governo, ajudando junto do alocador, para que tivéssemos tempo de analisar os contratos e decidir se valia a pena ou não”, destacou Mário Barbosa, adiantando que acabaram por assinar o contrato de substituição de um dos ATR, sendo que o outro teve que ser devolvido.
Quanto aos recursos humanos afectos à TACV, diz não ter dúvidas que a companhia sempre teve “pessoal excedentário”, apesar do volume de negócios e aumento da frota.
Instado sobre a devolução do Boeing -757 denominado “B. Léza”, que, segundo consta, custou bastante dinheiro aos cofres do Estado, o actual administrador da TACV disse que até hoje não compreendeu por que razão houve tal decisão.
“A devolução de um avião exige, pelo menos uma preparação de seis meses. Não é chegar a entregar. No contrato do aluguer do avião fica tudo decidido como que se faz a devolução”, explicou o comandante Socorro, que acha que na altura “as condições não foram cumpridas”.
Conforme fez saber, o referido avião ficou durante cerca de nove meses em Frankfurt (Alemanha) à espera do cumprimentos dos checks que tinha ser efeitos para a repor as condições exigidas para a devolução do avião.
“Durante esse tempo, a companhia teve que pagar a renda do avião com penalizações e acho que foi um valor superior a dois milhões de dólares”, concluiu.
Segundo aquele responsável, enquanto o “B. Léza” estava em Frankfurt para ser devolvido, a TACV teve que alugar um outro aparelho para cumprir o seu plano comercial.
“Daí o descalabro da companhia”, acentuou, lembrando que foi assinado um acordo para a aquisição de um Boeing-767 e um Air Bus A-320, mas que quando foram feitas inspecções aos aparelhos se constatou que se tratava de “aviões velhos e que não serviam para nada”.
Para ele, a companhia aérea nacional não cumpriu os procedimentos, ou seja, devia inspeccionar os aparelhos antes de assinar o contrato.
“Tanto o “767”, como o A-320, nunca foram trazidos para cá e acho que o dinheiro nunca mais foi devolvido”, sublinhou, dizendo que o dono dos referidos aparelhos impôs à TACV a aquisição de dois Boeing-737.
Com Inforpress
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