1. O Mundo chorou no inferno com o violento incêndio que deflagrou na Catedral de Notre-Dame de Amiens. Ó dor, ó triste dor! O Mundo sucumbiu estupefacto perante a dor pela perda de uma parte substancial do seu passado comum e viu arder uma parte d’alma gótica da Europa e da história da humanidade (destruição da cobertura do templo, das entranhas do pináculo e das rosáceas). Ó dor, ó triste dor! Cathédrale Notre-Dame de Amiens, em Paris, é uma das mais antigas e emblemáticas catedrais góticas da França. A construção é dedicada à Virgem Maria, mãe de Jesus, no ano sagrado de 1220. Edificada no coração d’ île de la Cité em Paris rodeada pelas águas das luzes do rio Sena amamentado e herdeiro da Meseta de Langres, de bateaux mouches e de pássaros como estorninhos-comuns (Sturnus Vulgaris), de gaivotas e de Mallards (Anas platyrhynchos) que espalham-se numa revoada.
2. Ó Deus celestial rezai (!) pela memória do Victor Hugo por ter escrito o romance “O Corcunda de Notre-Dame” personalizado na figura apaixonada de Quasímodo pela cigana Esmeralda associado ao monumento para sempre. Quasímodo era uma personagem tão monstruosa quanto a Catedral de Notre-Dame. Ó asas d’anjos do paraíso perdoai (!) ao Victor Hugo pelos insultos viscerais com mistura de malícia, de espanto e de tristeza como uma verruga de um monstro em plena Île de la Cité como lugar sagrado.
3. Ó rezemos pela sapiência e paciência dos arquitetos de estilo gótico: Robert of Luzarches, Thomas de Cormont e Renaud de Cormont por terem libertado e recriado no interior dos edifícios da Notre-Dame um clima de misticismo: com aspetos mais leve; mais amplas e altas das janelas; com belos vitrais coloridos que filtravam a luz natural; com detalhes do relevo que cubra a entrada principal; das fantásticas gárgulas com asas e chifres. Ó sinos replicados na Catedral de Notre-Dame: Marie, Emmanuel, Gabriel, Anne-Geneviève, Denis, Marcel, Étienne, Benoît-Joseph, Maurice e Jean-Marie dobrais e ressoais (!) nos céus do Mundo, em simulacros, para ajudar à reconstrução da Catedral de Notre-Dame. Amém, amém e amém.
4. Ó gótico que não é “bárbaro” como manifestações artísticas, estéticas e comportamentais; ó gótico da literatura romântica da minha paixão (!) Ó gótico d’Igreja da Nossa Senhora d’Oliveira em Guimarães de Portugal da (brava, célebre e poderosa mulher), d’Igreja da Nossa Senhora do Rosário n’ilha de Santiago de Cabo Verde como a (mais antiga igreja colonial do mundo) e da Cathedralé Notre-Dame de Amiens (!) Logo, esqueço-me d’O Corcunda de Notre-Dame e do apaixonado Quasímodo e zangando-me com Victor Hugo para refugiar-me na releitura de “Por Quem os Sinos Dobram” do escritor Ernest Hemingway e da personagem da narrativa Robert Jordan.
5. Ao reler “O Corcunda de Notre-Dame” pediria hoje, encarecidamente, à alma de Victor Hugo que escolha, sim, uma personagem apaixonada, romântica e bombeiro mas não Quasímodo, o monstro, e, ao Ernest Hemingway segredava-lhe para manter a mesma personagem mas não de Robert, terrorista, mas sim, de um Jordan pacifista por que “Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade”.
Os comentários publicados são da inteira responsabilidade do utilizador que os escreve. Para garantir um espaço saudável e transparente, é necessário estar identificado.
O Santiago Magazine é de todos, mas cada um deve assumir a responsabilidade pelo que partilha. Dê a sua opinião, mas dê também a cara.
Inicie sessão ou registe-se para comentar.
Comentários