“União para resgatar Cabo Verde”, é o desafio lançado por Francisco Carvalho
Política

“União para resgatar Cabo Verde”, é o desafio lançado por Francisco Carvalho

O reiterado desafio foi lançado ontem, em São Filipe, quando intervinha no encerramento da Assembleia Regional do PAICV. Direcionado para o interior do partido, mas, principalmente, olhando para as eleições do próximo ano. “Somos obrigados a juntar-nos, outra vez, para o PAICV retomar a sua vocação de assumir Cabo Verde para trazer o desenvolvimento”, disse o líder do principal partido da oposição perante uma Casa das Bandeiras cheia de militantes.

Perante o salão da Casa das Bandeiras repleto de militantes, o líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), no encerramento da Assembleia Regional do PAICV, onde falou sempre de improviso, reiterou o desafio que vem lançando desde que ganhou as eleições internas de maio último.

Desde quarta-feira na ilha do Fogo, na sua primeira visita enquanto líder do PAICV, Francisco Carvalho esteve, quase sempre, num sinal significativo, acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal de São Filipe, Nuías Silva, seu principal opositor nas eleições internas.

Pesem os rumores de desunião e as tentativas de desestabilização interna (parte inevitável do cardápio dos períodos pré-eleitorais), a imagem que passa desta deslocação de Francisco Carvalho à ilha do Fogo é a de um partido unido, que já lambeu eventuais feridas da corrida para a liderança, pelo que o reiterado desafio à “união para resgatar Cabo Verde” parece ter saltado do interior do partido para a sociedade, num apelo à mobilização dos cabo-verdianos (com e sem partido) para ajudarem à construção de uma vitória eleitoral em 2026 e à abertura de um novo ciclo político.

Resgatar Cabo Verde e retomar o desenvolvimento

Francisco Carvalho revisitou a governação do PAICV no período anterior a 2016, assumindo como património do partido aquilo que considera serem “grandes coisas” e elencando o que ficou, também, nas memórias coletivas, certamente por pensar que sem se conhecer a história dificilmente se projetará o futuro.

“De 2001 a 2016 fizemos grandes coisas em Cabo Verde, portos aeroportos, barragens, estradas, Casa para Todos, é uma lista grande de coisas que o PAICV fez”, disse o presidente do partido, fazendo uma comparação inevitável com o momento presente, em que considera estarmos “perante uma situação de falhanço da governação” de Ulisses Correia e Silva, embora não se tenha referido ao nome do primeiro-ministro.

“Somos obrigados a juntar-nos, outra vez, para o PAICV retomar a sua vocação de assumir Cabo Verde para trazer o desenvolvimento”, salientou Francisco Carvalho, dando o mote às propostas do PAICV para o novo ciclo político.

Numa referência à ilha do vulcão, o líder do PAICV considerou que há condições para esta se transformar num celeiro de Cabo Verde e avançou soluções para dar um novo fôlego ao desenvolvimento. Transportes, principalmente de carga, desencravamento de zonas altas e mais especialidades médicas para reduzir evacuações e garantir o direito à saúde, foram as primeiras referências.

Com olhos postos na numerosa comunidade foguense residente no outro lado do Atlântico, Francisco Carvalho defendeu que “o Fogo tem de ter uma ligação aérea com a América”, já que “é uma necessidade profunda das pessoas do Fogo e de termos condições para o desenvolvimento do turismo”, destacou o líder do PAICV.

Um desenvolvimento que chegue a todos

Defendendo que os poderes central e local devem rumar no mesmo sentido, de modo a que o desenvolvimento chegue a todos, Francisco Carvalho sustentou que se devem estabelecer prioridades e não se poupou a indicá-las, desenhando uma linha de governação para o futuro.

“O desenvolvimento tem que chegar para todos. Apostamos, sim, no setor primário, apostamos na agricultura, apostamos nas pescas, apostamos na criação de animais, de modo a aumentarmos o rendimento, fazendo com que o crescimento toque as pessoas diretamente, para que sintam vantagens com o desenvolvimento do país”, adiantou aquele que pretende ser primeiro-ministro de Cabo Verde a partir do próximo ano.

Para o líder do PAICV, “é evidente que temos de definir prioridades”. Saúde, educação, transportes, energia, habitação, foram as áreas sublinhadas como primazias da governação a partir de 2026.

“A saúde não é um luxo, é um direito” a que todos os cabo-verdianos devem ter acesso. E “a educação é investimento no futuro”, foram desafios lançados por Francisco Carvalho, que não deixou de reiterar as propostas já avançadas ainda durante as eleições internas e desenvolvidas já enquanto líder do PAICV.

Saúde gratuita, ensino superior público sem propinas, redução dos preços dos transportes marítimos e aéreos, energia acessível e a preço justo para todos, dotar com casas de banho as habitações de famílias que vivem em condições precárias e investir na habitação, seja através de realojamento, mas também retomando o programa Casa para Todos.

Ouvir as pessoas e reforçar a plataforma de governação

Desde o primeiro dia que chegou à ilha do Fogo, Francisco Carvalho deu o mote para a agenda da sua estada, à qual se juntaram dirigentes locais, autarcas e deputados nacionais, que estavam em visita de trabalho à região (incluindo a ilha Brava).

Ouvir as pessoas e recolher contributos para o reforço da plataforma de governação que se encontra já em construção e irá ser apresentada ao país no próximo ano, mas também consolidar a unidade interna do partido foi o objetivo da visita, à imagem das anteriores deslocações ao Sal e a São Vicente.

Defendendo uma governação onde cada cidadão se sinta representado e apoiado pelo poder central, que dê resposta aos problemas do dia a dia e às necessidades locais, era inevitável que, logo no primeiro dia, Francisco Carvalho identificasse a principal preocupação dos cidadãos comuns: a precariedade do sistema de transportes interilhas, que afeta “gravemente o desenvolvimento económico” local, como fez questão de sublinhar.

“É doloroso ver comerciantes, empresários e empreendedores com vontade e capacidade de trabalhar, mas impossibilitados por falta de transporte para conectar as ilhas e distribuir bens essenciais. Na Brava, por exemplo, já falta água engarrafada, o que é inaceitável e representa um retrocesso”, disse o presidente do PAICV aos jornalistas.

Francisco Carvalho aludiu, ainda, às potencialidades produtivas da ilha, nomeadamente, na agricultura, pecuária, pescas e produção de vinho. E dirigiu, ainda, uma palavras aos jovens, considerando ser necessário inverter o ciclo de migrações para outras ilhas e para fora do país, por não encontrarem na sua terra condições para fixação de mão de obra, principalmente qualificada.

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SOBRE O AUTOR

Redação

    Comentários

    • Casimiro Centeio, 7 de Dez de 2025

      Não somos nós que apelamos por esse resgate, é o próprio Cabo Verde que o implora, aflituosanente, por não poder aturar mais.Embora os efeitos acumulativos dessa desgovernação ruinosa levem tempíssimo para serem sanados, mas a verdade é que a situação não pode continuar por mais 5 anos. Cabo Verde está numa situação aparentemente babélica. Só não o vê quem é desprovido de discernimento mental.

      • Casimiro Centeio, 7 de Dez de 2025

        ... Não podemos continuar a viver de promessas de MOINHO DE VENTO. Cabo Verde não é uma lavoura . As promessas de Ulisses são como um círculo, não tem começo e nem fim.

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