
O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas (MCIC) disse hoje que o Governo quer ouvir cineastas no encontro “Nôs Filme, Nôs Voz”, visando recolher contributos e propostas essenciais para orientar novas estratégias de desenvolvimento do cinema cabo-verdiano.
Augusto Veiga fez essa afirmação durante a sessão de abertura do evento, que decorre na Cidade da Praia e sublinhou que, mais que “prestigiar” estes jovens que estão a fazer cinema um pouco por todo o mundo e também aqui em Cabo Verde, o governo quer ouvir as suas propostas.
Augusto Veiga sublinhou que a iniciativa foi criada para promover um “diálogo directo” entre criadores, público e autoridades.
“Quisemos organizar esta conversa aberta exactamente para discutirmos a situação do cinema cabo-verdiano. Estamos aqui não só para abrir o encontro, mas para assistir à conversa, ouvir, anotar e trabalharmos em conjunto para o desenvolvimento do cinema no país e na diáspora”, afirmou.
Questionado sobre os próximos passos, o governante destacou que o plano de acção do ministério da Cultura já prevê o aumento do financiamento ao cinema e o reforço das parcerias internacionais com Brasil, Portugal, Marrocos e Luxemburgo, estando igualmente em curso a procura de novos parceiros, incluindo Angola, no âmbito da cooperação Sul-Sul.
“O processo formativo é muito importante para nós. Queremos trabalhar com essas cabeças pensantes para definir o futuro do sector para os próximos cinco anos”, acrescentou.
Moderador da conversa e também cineasta, Paulo Soulé reforçou, em entrevista, que o evento nasce da necessidade de “trazer à superfície” o trabalho que muitos criadores cabo-verdianos têm desenvolvido no exterior e de aproximar esses conteúdos do público local.
Segundo Soulé, apesar dos avanços, como a criação do Núcleo Nacional de Cinema e da primeira Lei do Cinema, o país ainda tem um longo caminho a percorrer.
“Melhores condições já existem, mas ainda temos muito caminho pela frente”, afirmou.
O cineasta lembrou que Cabo Verde perdeu salas de exibição como o Eden Park, em São Vicente, e o Cinema da Praia.
“Perdemos as infraestruturas e perdemos também a cultura do cinema. Somos um povo que sempre teve o cinema no DNA”, disse, destacando que o evento, de entrada gratuita, foi pensado para aproximar pessoas, levantar desafios e reforçar a ideia de que é possível viver de cinema, tanto no país como no exterior.
Soulé defendeu ainda que o sector tem enorme potencial de retorno cultural, artístico e económico.
“Queremos que instituições públicas e privadas vejam que investir no cinema traz retorno. O cinema é uma das maiores ferramentas para promover um país e moldar a imagem que ele projecta ao mundo”, explicou.
Para o realizador, a construção de uma verdadeira indústria cinematográfica cabo-verdiana passa pela formação, pelo estímulo à criação e por políticas contínuas de financiamento.
O encontro reúne cineastas do país e da diáspora, incluindo Samira Vera-Cruz, Nuno Boaventura Miranda, Denise Fernandes, Yuri Ceuninck, Cléo Diará e Pedro Pinho, convidados como oradores.
A programação inclui também a exibição de três filmes premiados: “Nha Mila” e as estreias nacionais de “A Última Colheita” e “O Riso e a Faca”, este último para maiores de 18 anos.
“Nôs Filme, Nôs Voz” decorre até terça-feira, dia 02, e pretende afirmar-se como um espaço de “reflexão e partilha” sobre o cinema contemporâneo cabo-verdiano, reforçando ligações entre criadores e impulsionando novas estratégias para o setor.
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