Benin: Tentativa de golpe evidencia dualidade de critérios da CEDEAO
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Benin: Tentativa de golpe evidencia dualidade de critérios da CEDEAO

A reação da CEDEAO ao (aparentemente) frustrado golpe de Estado de domingo no Benin, ao anunciar o envio de tropas para aquele país, evidencia que para a organização há golpes e golpes, que uns são mais censuráveis que outros e que, comparativamente à Guiné-Bissau, fica clara a dualidade de critérios. Por sua vez, José Maria Neves, ao mesmo tempo que se manifesta contra o golpe no Benin, estabelece um paralelo com a intentona de Bissau, onde a posição da organização sub-regional tem sido de sentido diferente.

Reagindo à tentativa de golpe no último domingo, 07, a Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) adotou uma posição de firmeza, pese embora, aparentemente, a intentona estar contida. Um facto que se contradiz com a rapidez da decisão da CEDEAO e a medida extrema de enviar uma força regional composta por tropas da Nigéria, Serra Leoa, Costa do Marfim e Gana.

Ao anunciar que a força regional terá como missão "apoiar o Governo e o Exército Republicano do Benim na preservação da ordem constitucional e da integridade territorial do país", a CEDEAO evidencia, ademais, que, ao contrário da versão oficial posta a circular, o governo do presidente Patrice Talon não terá, de facto, conseguido restabelecer definitivamente a ordem constitucional.

Situação pode não estar sob controlo do governo    

Ao decidir o envio de um destacamento das “Forças Regional de Reserva” para o Benin com “efeitos imediatos”, a decisão da Comissão da CEDEAO pode, de facto, querer dizer que o governo da República do Benin apenas controla transitoriamente a situação decorrente do golpe.

Liderados pelo Tenente Coronel Tigri Pascal, os insurgentes tomaram a televisão pública (na foto) e anunciaram a deposição de Patrice Talon e a instalação de um “Comité Militar de Refundação”, ao mesmo tempo que se ouviam tiros de armas automáticas nas imediações do Palácio Presidencial e começaram a surgir as primeiras informações desencontradas.

Se, por um lado, o governo anunciava que a situação estava controlada; por outro, a imprensa internacional noticiava que a situação permanecia confusa.

A “Força Regional de Reserva” da CEDEAO que, agora, irá intervir na República do Benin, foi criada em setembro último, decorrente da concertação dos ministros da Defesa e das Finanças da organização, alegadamente para conter o terrorismo, com um orçamento fixado na ordem dos 2,61 mil milhões de dólares norte-americanos, e integrando cinco mil efetivos provenientes de diversos países da sub-região.

Dualidade de critérios

À primeira vista parece evidente a dualidade de critérios da Comissão da CEDEAO, nomeadamente, comparativamente ao golpe de Estado de 26 de novembro na Guiné-Bissau.

Efetivamente, a organização sub-regional, manifestando evidentes contradições, adota no curto espaço de uma semana duas posições diametralmente opostas.

Se em relação à tentativa de golpe de estado no Benin, assume uma posição musculada, decidindo enviar tropas “imediatamente”, quanto à Guiné-Bissau a CEDEAO reagiu tardiamente e não afirmando aquilo que o bom senso implicaria: a exigência da libertação incondicional e imediata dos políticos da oposição e o anúncio dos resultados eleitorais que, como se sabe, evidenciam uma pesada derrota para Umaro Sissoco Embaló, o que, aliás, esteve na origem do golpe promovido por aliados do ex-presidente e teleguiado por este.

Mais que isso, é sabido que os principais líderes da organização sub-regional congeminam uma solução de recurso que devolva o poder a Sissoco, anulando as eleições de 23 de novembro e realizando novo sufrágio dentro de um ano e meio, com a “bênção” do presidente francês, Emmanuel Macron. Ou seja, seria o regresso ao plano inicial do golpe de 26 de novembro, ficando claro que a Comissão da CEDEAO existe para defender os amigos.

O “recado” de José Maria Neves

Por sua vez, o presidente da República de Cabo Verde, ao mesmo tempo que condenou a tentativa de golpe no Benin, estabeleceu um paralelo com a Guiné-Bissau.

“Impõe-se tolerância zero com golpistas, em todas as latitudes e circunstâncias - não há golpes bons e golpes maus, há golpes e eles, quaisquer que sejam, assim como os extremismos e os populismos, não constituem solução para os problemas estruturais, políticos, económicos ou outros dos estados”, escreveu José Maria Neves na rede social Facebook.

Prosseguindo, o presidente da República ressalta uma obviedade: “vale a pena, pois, continuar a insistir na veemente condenação do golpe na Guiné Bissau, na restauração da ordem democrática, na libertação de todos os detidos, na divulgação dos resultados eleitorais e na assunção do poder por aqueles que ganharam democraticamente nas urnas” - um “recado” esclarecedor e divisor de águas.

Redação

Foto: Captura de imagem/Facebook

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