“Não deixaremos que nos levem de novo um projecto desses”, garante o presidente da Pró-Praia, que promete também “inundar as instituições com abaixo-assinados”. O líder da Vos di Santiago fala de algum extremismo no tratamento da questão.
Decorre na internet, desde a semana passada, uma petição para demover o Governo chinês de financiar as obras de construção do Campus Universitário da Uni-CV apenas na Praia. A iniciativa é de um grupo de São Vicente, encabeçado pelo ex-deputado do PAICV pela ilha do Porto Grande, Alexandre Novais, que já veio resultar num anúncio de manifestação geral no Mindelo, no dia 5 de Julho, contra o pólo único na Praia e a exigir a construção de outro também em São Vicente. Porque, defendem, “o projecto foi desviado para a Praia”.
Reagindo à petição “Educação para todos”, o presidente da Associação Vos di Santiago, Silvino Fernandes, considerou preocupante “a forma gratuitamente vilipêndica” com que o tema vem sendo tratado. “A Constituição da República não tolhe a liberdade de manifestação. O que legitima a manifestação pública de cabo-verdianos de qualquer ponto do país, seja do norte ou sul, incluindo mindelenses. Considero, contudo, preocupante, a forma gratuitamente vilipêndica com que é tratado o assunto, como se a ilha de Santiago não fosse Cabo Verde e nós da ilha da Santiago não fossemos cabo-verdianos. É perigosa esta forma como algumas figuras de São Vicente se referem a Santiago e aos santiaguenses”, avalia Fernandes, para quem “a escolha da localização do Campus, na Praia, não foi em detrimento de nenhuma outra ilha. Até porque, neste momento, a ilha que mais acolhe estudantes de outras ilhas e do estrangeiro, é Santiago”.
No entender do presidente da VdS, o teor e a intensidade da declaração dá a ideia que há um certo extremismo no tratamento da questão. “Mais do que isso. Mostra que é uma posição contra os interesses de Cabo Verde. Porém, não creio que tenha o condão de criar problemas a nível de relacionamento entre as ilhas”, admite, contudo, Silvino Fernandes, lembrando que quando foi criado o Seminário-Liceu de São Nicolau, em 1856, e o Liceu Gil Eanes no Mindelo, há cem anos atrás, “não consta que nenhum santiaguense tivesse escrito cartas à coroa a solicitar que não se abrisse os ditos liceus porque em Santiago, com maior número de população a precisar de instrução e ensino, não havia nada”.
Segundo Silvino Fernandes, “um número considerável de funcionários, que trabalham em Santiago e ocupam os melhores lugares são da ilha de São Vicente, e, sem motivo de queixa. Creio que nenhum meio de comunicação social tem noticiado alguma manifestação perpetrada por santiaguenses para reclamarem, quando o Governo decide fazer alguma coisa em São Vicente. Caso o Governo ceder à pressão dos mindelenses, as outras ilhas também sentir-se-ão legitimadas a tomar tal posição”, observa.
O dirigente santiaguense afirma não ser contra São Vicente. “Sem dúvida, a reivindicação de um povo por melhores condições é justa e salutar. O que não é sadio, não é recomendável, e tampouco desejável, e todos devemos esconjurar, é que, num país pequeno onde pequenas dificuldades se multiplicam e se levantam como invencíveis gigantes, se ponha sobre o lombo do povo, já cansado e sofrido, fardos que lhe conduz a mais fraquezas”.
Por sua vez, o presidente da associação Pro-Praia considera que “o Campus Universitário foi correctamente caracterizado como projecto prioritário e urgente para Santiago, que é o mesmo que dizer para Cabo Verde porque nesta ilha as infraestruturas servem mais para os outros do que para a própria ilha. Isso ficou definido tanto pelo Governo como pela cooperação chinesa tendo esta transmitido às pessoas os critérios ponderosos que ditaram essa escolha”.
Por isso, José Jorge Costa Pina promete tudo fazer para não deixar o Governo ceder a esta pressão sãovicentina. “A geração actual santiaguense não deixará que projectos desses, determinados oficialmente para Santiago, sejam levados de novo com base em argumentos estapafúrdios que vimos assistindo. Combateremos e inundaremos as instituições de abaixo-assinados para jamais deixar que desventuras do passado vinguem aqui e acções barradas outra vez, como o foi a cidade administrativa, plataforma de frio no porto da Praia, Djéu que fornecia carvão no passado etc”, afirma Costa Pina.
Na base destas reacções está uma carta endereçada ao Embaixador da China em Cabo Verde propondo este diplomata a repensar o financiamento do Campus Universitário na Praia, dividindo-o então em dois blocos, um na capital e outro no Mindelo. “Exmo Senhor Embaixador da República Popular da China em Cabo Verde. É do seu conhecimento que o Campus Universitário que será financiado pelo seu país estava, inicialmente, destinado para a ilha de São Vicente. Por decisão do Governo de Cabo Verde o investimento foi desviado totalmente para a Praia, medida que, a ser implementada, poderá pôr ainda mais em perigo a coesão social, consequência que, seguramente, não será pretendida pelo seu país”, começa por dizer o texto.
E continua: “Se a razão que preside à localização geográfica do campus não é a centralização e a valorização de uma cidade em detrimento de outras, a que titulo e com que legitimidade um país com 10 ilhas e população dispersa por nove pretende concentrar mais esta grande estrutura na Praia? Este ponto é especialmente grave porque Cabo Verde possui outras cidades com todas as condições para receberem estruturas universitárias de bom porte. Assim, não pretendendo construir o campus em S.Vicente, ilha para onde o empreendimento foi destinado originalmente, não seria preferível dividir os 14 milhões de euros por 2 ou 3 pólos – Santiago, S.Vicente e Sal, por exemplo – dotando cada um dos pólos de condições de especialização em determinadas áreas específicas?”.
Por estas razões, o grupo pede ao Governo da China para “repensar a aplicação desse investimento, repartindo o mesmo por pelo menos dois pólos, um em Sotavento, outro em Barlavento, para benefício do país no seu todo”.
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