...de forma capciosa, Fernando Elísio volta a reeditar a desgastada promessa de que agora é que é, que vão ouvir a militância e “ao encontro das vontades dos cabo-verdianos e, com humildade e inteligência, percorrer o caminho necessário para continuar a ser o maior partido de Cabo Verde". Habitando num mundo paralelo, flutuando na maionese das benesses do poder, Fernando Elísio Freire e a restante nomenclatura, mais os batedores de palmas acríticos da CPN, não percebem que esta velha receita já não dá resultado e que irá, seguramente, provocar a indignação dos militantes que ainda pensam pela própria cabeça.
Vai além da desfaçatez! Ao ser questionado por um jornalista sobre as causas da derrota do MpD no passado dia 01 de dezembro, Fernando Elísio Freire respondeu assim: “as causas são múltiplas e são várias, cada cabo-verdiano fez a sua avaliação e, no momento do voto, votou por vários motivos”. Aconteceu ontem durante a conferência de imprensa, onde o vice-presidente do MpD deu conta das decisões da Comissão Política Nacional (CPN).
As declarações do também ministro da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social, são um insulto à inteligência dos eleitores, nacionais e estrangeiros, que votaram nas eleições autárquicas e infligiram uma derrota clamorosa a Ulisses Correia e Silva e ao governo ventoinha.
O mundo paralelo da liderança ventoinha
É consensual, entre comentadores e agentes políticos, que o resultado das eleições autárquicas foi um cartão vermelho a Ulisses e ao governo, só não o é para Elísio e a liderança do MpD que alude a estados de espírito indeterminados, a impulsos à boca de urna cuja explicação estará escondida na psique de cada eleitor.
Sejamos claros: para Ulisses foi uma dupla derrota! Disse que era preciso “tomar a Praia custe o que custar” e, não só não conseguiu tomar a Praia, como foi o primeiro presidente do MpD a perder umas eleições autárquicas. Quanto a isto Elísio assobia para o lado, preferindo bajular o chefe, argumentando que “Ulisses Correia e Silva liderou várias vitórias do MpD” …
Mas, a verdade exposta em 01 de dezembro é a de que caiu o mito do líder incontestado e da máquina de ganhar eleições. Se analisarmos com rigor o reinado de Ulisses à frente do partido pode perceber-se que o presidente do MpD surfou na onda e beneficiou sempre da conjuntura para ganhar eleições.
Foi assim em 2016, num contexto de forte contestação ao governo do PAICV; foi assim em 2021, com o País a sair de uma pandemia e marcado por um ambiente de incertezas, que ajudou a confirmar a renovação de mandato por via das dúvidas...
De todo o modo, nas autárquicas de 2020 o eleitorado decidiu sinalizar com um cartão amarelo Ulisses e o MpD, com o PAICV a passar de duas para oito câmaras municipais. Na ocasião, o partido ventoinha e o seu líder procuram minimizar a derrota política, embandeirando com a vitória aritmética, não percebendo os sinais e não ligando a avisados alertas de pessoas bem-intencionadas que a nomenclatura autoritária ventoinha agora via como inimigas.
A inevitável derrocada era já previsível em 2020, mas a liderança ventoinha, entre a arrogância e o autoritarismo, fez de conta que não se passou nada. Esta gente vive num mundo paralelo que, num prazo mais ou menos imediato, lhe vai ser fatal. E vão cair sob enorme estrondo e perplexidade, continuando a achar que têm razão e que forças ocultas conspiram contra eles.
Liderança está-se borrifando para os questionamentos e indignações da militância
A CPN passou à margem do clamor da militância pela realização de uma Convenção Nacional Extraordinária e olhou para o lado perante a cada vez mais ampla reivindicação de que Ulisses e a liderança ventoinha ponham os cargos à disposição.
Pelo contrário, de forma capciosa, Fernando Elísio volta a reeditar a desgastada promessa de que agora é que é, que vão ouvir a militância e “ao encontro das vontades dos cabo-verdianos e, com humildade e inteligência, percorrer o caminho necessário para continuar a ser o maior partido de Cabo Verde".
Habitando num mundo paralelo, flutuando na maionese das benesses do poder, Fernando Elísio Freire e a restante nomenclatura, mais os batedores de palmas acríticos da CPN, não percebem que esta velha receita já não dá resultado e que irá, seguramente, provocar a indignação dos militantes que ainda pensam pela própria cabeça.
Mas, o despudor de Elísio é de tal ordem que, juntando às explicações ocultas na psique dos eleitores sobre as razões da derrota, alude à decisão da CPN de convocar uma Direção Nacional para 11 de janeiro, sublinhando, na prática, que a liderança irreleva o desastre de 01 de dezembro e está-se borrifando para os questionamentos e indignações da militância.
Moral da estória: Ulisses nunca tem culpa de nada, é uma figura providencial e a restante liderança o suprassumo da inteligência política.
A verdade é que o estreito (e negacionista) núcleo de dirigentes ventoinha se comporta, cada vez mais, como autêntica comissão de extinção do MpD. E isso é um sinal preocupante para a democracia.
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A equipa do Santiago Magazine