A denúncia é do comissário-geral da agência da ONU de assistência aos refugiados da Palestina. Numa entrevista ao El País, o suíço Philippe Lazzarini explica que se continua a passar fome em Gaza, avançando que os camiões das Nações Unidas têm comida suficiente para alimentar a população durante dois ou três meses, mas que as forças israelitas continuam a impedir a sua no enclave.
Em entrevista ao jornal espanhol El País, esta quarta-feira, 22, o comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (mais conhecida pela sua sigla em inglês, UNRWA), Philippe Lazzarini, fala sobre os bloqueios de Israel à ajuda humanitária e o cessar-fogo em Gaza.
Lazzarini faz, ainda, o balanço dos últimos dois anos em que, no terreno, se assistiu a “uma guerra na qual a população civil parece ter-se tornado um alvo”, vitimando fatalmente “entre 67.000 a 68.000 pessoas, sendo a grande maioria mulheres e crianças”, e expondo “a escala da destruição, a constante deslocação, o fecho de fronteiras” e o uso de alimentos “como arma de guerra para matar à fome uma população”, o que poderá “certamente ser considerado um crime de guerra, se não mesmo um crime contra a humanidade”, sublinha.
Cessar-fogo frágil
Aludindo ao cessar-fogo, Philippe Lazzarini admite que é “frágil” mas também um “grande alívio” que permitiu, pela primeira vez em muito tempo, que os habitantes de Gaza “não se preocupem em morrer a cada segundo”.
O comissário-geral considera que, apesar disso, a ajuda humanitária da UNRWA continua a ser bloqueada. “Temos suficiente comida para cobrir as necessidades da população durante os próximos dois ou três meses. Porém, “até agora não permitiram que chegasse um único comboio” (ou seja, um único grupo de camiões com ajuda humanitária).
Há camiões a chegar, nomeadamente, do Programa Mundial de Alimentos, da Unicef e de outros. No acordo de cessar-fogo constava a entrada de pelos menos 600 camiões por dia, mas fala-se de “uns 200” que realmente conseguem passar a fronteira, o que “não responde aos desafios atuais”.
E, para além da comida, há outros bens indispensáveis, como tendas de campanha e sistemas de dessalinização de água que continuam retidos no Egito e na Jordânia.
Educação é a maior das preocupações, depois das “necessidades mais básicas”
Ainda assim, prossegue Philippe Lazzarini, a UNRWA “continua a ser o principal fornecedor de serviços de saúde primária” no enclave, cobrindo pelo menos 40 porcento (%) das consultas. Entre as suas atividades, contam-se, igualmente, a realização de rastreios de nutrição para crianças, a gestão de resíduos para prevenir a propagação de doenças, a facilitação do acesso à água, com recurso a bombas e sistemas de dessalinização, e a gestão de abrigos onde as crianças têm aulas.
A educação, refere Lazzarini, é a maior das preocupações dos palestinianos de Gaza, depois das “necessidades mais básicas”. E é, igualmente, uma prioridade da UNRWA para “restaurar o direito à educação e o direito a sonhar com um futuro melhor”, bem como “garantir que os escombros e os traumas não se tornem o novo ambiente educativo das crianças”, evitando, ainda, “que as sementes do ódio e do extremismo continuem a crescer na região”. O comissário-geral da UNRWA salienta que as estimativas são de que cerca de 80% das escolas e centros de saúde estejam danificadas ou tenham sido destruídas por completo.
Fonte: ONU/El País
Foto: Mark Garten/ONU
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