Ribeira Grande de Santiago está entre os 136 lugares classificados como Património Histórico da Humanidade que desaparecerão do mapa por causa das alterações climáticas.
O Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, presidiu hoje, 13 de Junho, à abertura do Workshop sobre o “Património cultural imaterial em perigo – Que fazer?”, evento organizado pelo Instituto do Património Cultural e pela Fundação João Lopes.
A oficina de trabalho, que acontece até quinta-feira, 15, é ministrada pelo prof. Filipe Themudo Barata, titular da Cátedra da UNESCO para o Património Imaterial e professor da Universidade de Évora, e tem presença garantida do Presidente do Instituto do Património Cultural, Charles Akibodé.
Mas há algo muito mais preocupante ainda e que é bem material: a Cidade Velha, primeira metrópole criada pelos europeus nos trópicos e Património Histórico da Humanidade, irá desaparecer do mapa.
Ainda não há caso para alarme, mas é assim: se a temperatura do planeta continuar a subir em média 3 graus centígrados, a cidade da Ribeira Grande de Santiago ficará totalmente submersa por causa do aumento do nível da água do mar, alerta um estudo da Environmental Research Letters. Tal como a Cidade Velha, mais 135 cidades classificadas como Património Histórico da Humanidade desaparecerão do mapa.
A lista inclui por exemplo a Estátua da Liberdade, o Independence Hall, a Torre de Londres e a Casa da Ópera de Sydney como exemplos de locais históricos que poderão ser gravemente afectados pela subida do nível do mar nos próximos dois mil anos, segundo o Institute of Physics (IOP).
A revista do IOP, Publishing Environmental Research Letters, calculou o aumento da temperatura em 720 locais que integram a lista da UNESCO e que seriam atingidos se a actual tendência de aquecimento global continuar e as temperaturas se elevarem a três graus celsius acima dos níveis verificados no período pré-industrial. E é assim que a Cidade Velha, Património da Humanidade desde 2009, está incluída no “study case” daquela publicação.
Exagerado tudo isso? Olhe que não. Para os investigadores que trabalham este dossier, trata-se de "um cenário possível e não particularmente extremo". Os cientistas prevêem que a persistente elevação do nível do mar poderá atingir mais rapidamente os centros das cidades de Bruges, na Bélgica, Nápoles e Veneza, na Itália, Riga, a capital da Letónia, São Petersburgo (Rússia), Abadia de Westminster, considerada a igreja mais importante de Londres, e a ilha Robben, na África do Sul, onde Nelson Mandela esteve encarcerado durante 27 anos.
E a Cidade Velha? “O aumento do nível da água do mar cobrirá sobretudo a zona baixa da cidade, onde se encontram, por exemplo, o histórico Pelourinho, algumas das casas mais antigas e a Câmara Municipal”, revela o IOP.
É certo que o impacto directo das alterações climáticas só serão sentidas daqui a 2 mil anos, mas a Environmental Research alerta para a necessidade de se começar desde já a tomar as devidas precauções quanto à poluição e outros factores que levam ao sobreaquecimento do planeta. Até porque, ressalva o estudo, um aumento da temperatura mundial ainda que inferior a 3 graus centígrados fará subir meio metro o nível da água do mar em poucos anos. Se for superior, a Ribeira Grande de Santiago e outras 135 sítios Património Histórico vão desaparecer em 2 mil anos.
Os pesquisadores calcularam também a percentagem de terra dos países que estão localizados abaixo do nível do mar e apuraram que pelo menos sete países - incluindo as Maldivas, Bahamas e Ilhas Caimão - poderão perder 50% das suas terras, enquanto outros 35 países correm o risco de perder 10% das suas terras devido ao aumento de níveis do mar.
Segundo a pesquisa, 7% da população mundial actual vive em territórios que estão abaixo do nível do mar e que, fazendo a distribuição da população afectada de forma desigual, constata-se que mais de 60% da população afectada seria a que reside na China, Índia, Bangladesh, Vietname e Indonésia.
Aliás, há um outro estudo, de 2014, que prevê o desaparecimento completo de 39 países-ilha que são exatamente os mais vulneráveis aos avanços dos mares e das marés, à erosão costeira, à acidificação das águas e aos fenómenos meteorológicos extremos. Na prática, trata-se de um grupo restrito que poderia ser definido como "países em risco de extinção": Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste fazem parte da lista, embora nenhum deles esteja numa situação crítica como alguns dos seus pares, por exemplo, do Pacífico.
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