
O presidente da República de Cabo Verde distanciou-se da comissão da CEDEAO que está hoje em Bissau para tomar contacto com a situação aberta pelo golpe de Estado de 26 de novembro. Em declarações à primeira edição de hoje do Primeiro Jornal da RCV, José Maria Neves não foi muito claro nas suas razões. Mas, fonte diplomática alega razões de segurança e incomodidade porque ao contrário dos seus pares da CEDEAO – que são ou foram cúmplices da situação na Guiné-Bissau - o presidente cabo-verdiano “não participou na sujeira”.
Com um percurso histórico comum com a Guiné-Bissau, e por essa razão tendo sido indicado para o chefe de Estado integrar a comissão de mediação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que a partir desta segunda-feira, 01, vai estar em Bissau, Cabo Verde não estará presente, já que José Maria Neves se distanciou do processo, defendendo que o país, nesta fase, não esteja muito envolvido.
A posição de José Maria Neves está a ser contestada em círculos da capital guineense que se opõem ao golpe e à quebra da ordem constitucional e exigem a divulgação dos resultados eleitorais.
No entanto, apesar de uma certa ambiguidade nas declarações do presidente da República na edição de hoje do Primeiro Jornal da RCV, fontes diplomáticas na cidade da Praia - salvaguardando que se trata de “meras possibilidades, mas sedimentadas na lógica” - avançam três razões para José Maria Neves se ter distanciado da comissão de mediação.
“Por um lado, por razões de segurança, a situação em Bissau está muito tensa e é sabido que, para os militares golpistas guineenses, José Maria Neves é ‘persona non grata’; por outro, porque, ao contrário dos seus pares da CEDEAO – que são ou foram cúmplices da situação na Guiné-Bissau -, o presidente cabo-verdiano não participou na sujeira; e, por outro, ainda, porque quem continua a mandar, de facto, na Guiné-Bissau é Umaro Sissoco Embalo”, disseram as nossas fontes diplomáticas.
Solicitado a prestar mais esclarecimentos sobre a ausência de José Maria Neves na delegação da CEDEAO, o Gabinete de Comunicação da Presidência da República escusou-se, alegando que “o PR não deverá fazer novos pronunciamentos sobre este assunto, pelo menos por agora”.
O que disse José Maria Neves à Rádio de Cabo Verde
Na entrevista à edição de hoje do Primeiro Jornal da RCV, José Maria Neves não é muito claro, deixando uma certa névoa de ambiguidade sobre as suas declarações. De todo o modo, as nossas fontes diplomáticas sublinham que o presidente da República quis dar um recado, e os destinatários terão percebido muito bem o que ele quis dizer.
Questionado sobre as razões do distanciamento em relação à comissão de mediação da CEDEAO, José Maria Neves argumentou que “fazendo uma avaliação mais fina da situação, decidimos distanciar-nos da comissão de mediação, tendo até em conta as relações históricas entre Cabo Verde e Guiné-Bissau, mas desejamos o melhor para a Guiné-Bissau, que consiga ultrapassar este momento de crise política e, também, vamos continuar a dar a nossa contribuição no quadro da CEDEAO, para resolução desta situação que deriva do golpe de Estado”
Instado pelo jornalista a esclarece sobre o que quis dizer com “avaliação mais fina”, o presidente da República declarou que “tendo em conta a sensibilidade da questão, Cabo Verde tem relações muito próximas com a Guiné-Bissau, fez-se uma luta conjunta de libertação nacional e convém que Cabo Verde, nesta fase, não esteja muito envolvido com esta questão, de modo a poder dar uma contribuição mais ampla no quadro da CEDEAO”.
Inquirido sobre se o distanciamento com a comissão de mediação tem relação com as declarações do antigo presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, que acusou Umaro Sissoco Embaló de encenar uma espécie de “golpe cerimonial” para se manter no poder, José Maria Neves respondeu: “Não necessariamente, nós não queremos imiscuir nos assuntos internos da Guiné-Bissau, nós não queremos, também, comentar ou analisar esta situação, até para não complicar o quadro negocial. Há os dados no terreno, houve um golpe, já há um presidente de transição, já há um novo governo nomeado e são esses os dados, e é com esses dados que devemos trabalhar”.
Ao mesmo tempo que declarou não participar na missão liderada pelo atual presidente da CEDEAO e presidente da Serra Leoa, Julius Maada Bio, e que inclui os chefes de Estado do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, e do Togo, Faure Essizimna Gnassingbé, José Maria Neves confirmou que irá participar na cimeira de chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, agendada para 14 deste mês, onde a crise política na Guiné-Bissau será passada em revista.
Foto: PR
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