Colunista

Após as IX eleições autárquicas de 01/12/24, cumpriu-se, na semana passada,  o ritual do empossamento dos novos eleitos e o renovar das promessas para um mandato de quatro anos num contexto cada vez mais exigente e desafiante.

1. O MpD com sete Câmaras Municipais, em 2024, encolheu-se para 1/3 do poder que detinha em 2016 quando controlava 20 das 22 CMs.

2. Por outro lado, o PAICV que tinha vencido em duas CMs, em 2016, passa para 15 CMs, em 2024, alcançando 68% do controle das CMs do país.

3. Em 2000, quando o PAICV venceu o MpD as eleições autárquicas, pela primeira vez, a diferença de votos fora de 2.351 votos, ao nível nacional.

4. Em 2024, a diferença de votos do PAICV para o MpD é de 14.000 votos globais.

5. A relação entre os resultados das eleições autárquicas e as legislativas em Cabo Verde não é, efetivamente, direta, como dizem os rabentolas justificando que eram maioritários nas autarquias e perdiam as legislativas, por três vezes (2001, 2006 e 2011), mas essa premissa só é,  parcialmente, verdadeira, empíricamente, quando o MpD foi vencedor das autárquicas por que da única vez que o partido da estrela negra ganhou as autárquicas, em 2000, logo a seguir, nas Legislativas de 2001, venceu com maioria absoluta!

6. Mesmo o MpD venceu as últimas Legislativas de 2021 logo após a vitória nas autárquicas anteriores de 2020!

7. Conclui-se, portando, que o desempenho eleitoral nas Legislativas relativamente aos resultados das eleições autárquicas, imediatamente anteriores, não são completamente independentes pelos exemplos empíricos apresentados (2000/2001 e 2020/2021).

8. As causas explicativas do desempenho eleitoral estão na literatura da Ciência Política e em relação aos casos concretos, como o nosso, existem os dados do afrobarometer, os dados do INE, os dados dos resultados eleitorais e outras pesquisas eleitorais cujas análises nos conduzem muito mais a confirmar o que diz a literatura especializada do que a inventar explicações “específicas” da nossa realidade crioula.

9. Os dados já conhecidos sobre a avaliação do desempenho do Governo de 2022 a esta parte apontam para uma avaliação muito negativa do Executivo ao ponto de se as eleições Legislativas fossem realizadas na data destes levantamentos o MpD perderia as eleições para o PAICV, isso, independentemente e anteriormente ao conhecimento do desastre eleitoral sofrido pelos ventoinhas!

10. O MpD mesmo sabendo do enorme descontentamento popular em relação à condução de suas políticas e de suas atuações, mesmo tendo sofrido a hecatombe eleitoral autárquica de 01/12/24, mesmo conhecendo a avaliação desastrosa de seu Governo se mantém firme e resoluto sem “djobi pa lado” rumo a um resultado eleitoral legislativo mais que previsível em se mantendo na mesma direção.

11. O exemplo da aprovação do PCFR dos professores é paradigmático da gestão política rabentola: um projeto que já foi rejeitado pelos professores, pelos seus sindicatos, vetado pelo Presidente da República, que já provocou tanto descontentamento da classe docente de norte ao sul do país com greves, manifestações e paralizações e que estudos do afrobarometer mostraram que o braço-de-ferro entre o Governo e o PR é muito mais desfavorável ao primeiro do que ao segundo e sabendo que boa parte do tamanho do desastre eleitoral autárquico se deveu ao descontentamento provocado à classe docente e em suas áreas de influência, o Governo insiste em impor contra a vontade da classe e de seus sindicatos “custe o que custar” esse tal PCFR.

O MpD de Ulisses, além de ser um fracasso total na governação do país, consegue ser o pior Primeiro Ministro de todo o período democrático e corre o risco de transformar o seu partido de protagonista político nacional para um partido secundário autárquico!