Uma análise do meu amigo e colunista deste jornal online, Domingos Cardoso, a propósito da crise política que se vive no seio do PAICV, desencadeou várias reações tanto de amigos como de militantes, simpatizantes, ex-dirigentes, entre os quais José Maria Neves. Aliás, foi por causa da reação do ex-primeiro-ministro que desencadearam várias outras, para além do caso da queda ou não da Comissão Política Regional de Santiago Sul que já vinha sendo noticiado na imprensa e cujas reações também já se faziam sentir.
Isto demonstra que há muita gente com vontade de desabafar e à espera da primeira oportunidade para dar o seu "grito de Ipiranga" contra a atual situação em que se encontra mergulhado o maior partido da oposição cabo-verdiana e naturalmente, em especial, contra a sua líder Janira Hopffer Almada. Esta parece ser o principal alvo a abater!
Por mais forte que seja a turbulência no partido, parece que nada consegue abalar a sua Presidente que se encontra politicamente num pedestal de pedra e cal, sobretudo depois de submeter a sua popularidade e confiança à apreciação dos militantes do partido. Os resultados falaram por si!
De todos os críticos até então publicamente assumidos à nova liderança do PAICV, Filú parece ser o mais inconformado do pelotão e de entre aqueles que inicialmente deram a cara através do chamado "Grupo de Reflexão" é o único que ainda vem defendendo a "trincheira", roubando a expressão do próprio analista. Até onde consegue aguentar, só ele saberá!
Os desentendimentos no seio dos partidos políticos não são novos em Cabo Verde. Assim, a situação por que passa hoje o partido fundado por Cabral assemelha-se tanto quanto àquela que o MpD experimentou em meados dos anos 90 quando este partido governava o país mas com algumas diferenças entre as duas formações políticas.
A primeira grande diferença. O MpD estava à frente da governação do país, enquanto o PAICV hoje está na oposição.
A segunda diferença. Das guerrilhas internas no MpD desembocou, de entre outros aspetos, na cisão do próprio partido e, consequentemente, na formação de mais duas forças políticas (PCD e PRD). Ainda hoje ninguém soube explicar de forma plausível como foi possível tal acontecer num partido recém-formado e que tinha até então ganho todas as eleições em Cabo Verde - e da forma como as ganhou - e que, aparentemente, tinha tudo para triunfar no poder por muitos anos. Em relação ao PAICV, não há para já nenhuma evidência de que desta luta resulte na cisão deste partido histórico, apesar dos desentendimentos dos bastidores.
A terceira e última diferença. Não havia redes sociais e por isso as brigas no MpD quase que aconteciam entre as quatro paredes, salvo raras vezes que saía alguma coisa nos poucos órgãos de comunicação social que existiam na altura, mas sobretudo naqueles não afeto à ideologia ventoinha. Os órgãos públicos não abordavam o assunto com profundidade que o caso deveria merecer e quando o faziam era mais com base em comunicados emitidos pelo governo, nomeadamente para noticiar que o primeiro-ministro tinha demitido o ministro 'xis' por razões 'ípsilons', factos que passavam ao lado do grande púbico.
No PAICV as coisas estão mais expostas fruto da conjuntura atual e por conta das novas tecnologias, com as redes sociais a darem uma ajudinha aqui e acolá e a servir-se da "máquina de lavar" onde todos vão lá deitar a sua roupa. Umas encardidas, outras um pouco sujas e algumas nem por isso.
Alguns militantes mostram-se, contudo, tranquilos porque o partido não está no governo e até às próximas eleições ainda há, relativamente, algum tempo para a "máquina" lavar todas as sujidades, venham elas de simples militantes de bases, dos Comités de Setores ou até da própria Direção do partido. Há também algum tempo para se sarar as feridas, fazer as pazes e celebrar a reconciliação.
Contudo, na política quando se trata de arrumar a casa, acertar ideias e posições, afinar arestas e preparar o partido para embates eleitorais não há tempo que chegue e muito menos que sobra.
Por último, as brigas internas no PAICV podem até não ter a dimensão daquela que o MpD enfrentou em meados dos anos 90 por situações distintas de que já falamos. Mas o papel das redes sociais hoje pode contribuir para ampliar a questão dando-lhe uma dimensão desproporcionada e melindrosa para alguns, levando muita gente alheia a acreditar que no seio dos "tambarinas" há uma batalha campal em marcha entre as diversas estruturas do partido e a sua Direção quando, na realidade, pode não ser aquilo que se pensa que seja.
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