Aos que vivem entre saudades e escalas, saibam que o voo americano ainda não partiu, mas também não foi cancelado. Os aeroportos estão certificados, as pistas estão limpas, os técnicos estão prontos. Falta só o avião! E talvez um plano! E talvez um pouco mais de respeito! Mas não desanimem: o meio Boeing já foi localizado. Está estacionado entre a esperança e a ironia, com combustível suficiente para alimentar manchetes até 2026. E, quando finalmente a estimada companhia nacional recuperar o ETOPS, a frota, a transparência, a coragem e a seriedade, talvez possamos todos embarcar, não apenas num voo, mas num país que não confunde o meio (1/2) com a unidade (1). Até lá, mantenham os cintos apertados, os olhos abertos e os corações preparados (as máscaras que estão a cair não são de oxigénio...)!
Com a revalidação da certificação dos aeroportos internacionais do Sal e da Praia para voos diretos aos Estados Unidos, assistimos à promoção de manchetes que sugerem a conversão de manutenção técnica em conquista inédita. Mas o povo já percebeu: o voo da esperança continua sem combustível, e a distração é a única coisa que decola.
Certificação TSA: um ativo histórico, não uma conquista recente
Os aeroportos Amílcar Cabral (Sal) e Nelson Mandela (Praia) mantêm há anos a certificação como Last Points of Departure (LPDs), concedida pela Transportation Security Administration (TSA) dos EUA. Essa certificação permite que voos partindo diretamente de Cabo Verde entrem em território norte-americano sem escalas intermediárias.
Em maio de 2025, uma missão conjunta da TSA e da Agência de Aviação Civil (AAC) cabo-verdiana revalidou essa certificação após inspeções em mais de 12 áreas críticas, incluindo segurança de passageiros, bagagens, carga, cibersegurança e controle de acessos. A avaliação envolveu cinco inspetores norte-americanos e três técnicos locais, confirmando que os aeroportos continuam a cumprir os requisitos internacionais.
O fato de Cabo Verde ser um dos 13 países africanos com LPDs, e um dos poucos com dois aeroportos certificados simultaneamente, é incontornável. Mas, a verdade que não pode calar é que a certificação dos aeroportos nunca foi um obstáculo ao voo americano. Ela existe há anos e reflete a competência técnica e a liderança comprometida da gestão aeroportuária que sempre marcou o setor aeronáutico cabo-verdiano.
A verdadeira novidade, e potencial virada estratégica, (que aguardamos ansiosamente), reside na concessão da rede aeroportuária ao renomado grupo, cuja expertise internacional pode redefinir os padrões de operação e conectividade do arquipélago.
O verdadeiro entrave: TACV e não os aeroportos
Enquanto os aeroportos mantêm padrões elevados, a companhia nacional continua a enfrentar desafios estruturais:
• Cancelamentos frequentes e falta de aeronaves operacionais
• Incapacidade de manter rotas regulares e confiáveis
• Falta de transparência sobre contratos de leasing e manutenção
• Ausência de plano estratégico para retomar voos diretos aos EUA
Paradoxalmente, a revalidação dos LPDs foi solicitada pela própria TACV como parte da tentativa de retomar essas rotas. Contudo, o que foi certificado foram exclusivamente os aeroportos internacionais do Sal e da Praia, como Últimos Pontos de Partida (LPDs) para voos diretos aos Estados Unidos.
Mas e a TACV? Ainda está em fase de preparação técnica e operacional para retomar os voos diretos para os EUA e Brasil. O que falta? Nada de especial. Pequenos detalhes, como por exemplo:
1. Recuperar o ETOPS, perdido após quase dois anos sem operar voos de longo curso, mas essencial para operar rotas transatlânticas
2. Requalificar tripulações e cumprir requisitos técnicos exigidos pela autoridade aeronáutica dos EUA
3. Articular com a FAA (Federal Aviation Administration) e outras entidades internacionais para validar a operação
4. Garantir aeronaves operacionais com capacidade e autonomia para voos intercontinentais
Segundo discursos oficiais, muitos dos processos técnicos já foram concluídos, mas ainda não há data oficial para o reinício dos voos. Foi publicamente reafirmado, em abril, que a retoma está prevista para ainda este ano, mas depende da conclusão do processo ETOPS e da validação final pelas autoridades norte-americanas. De abril para cá, não sabemos porque é que as certificações da TACV não vieram no mesmo envelope que trouxe os de SID e RAI… (Vai lá entender os americanos!)
Aeroportos certificados: entre a verdade e cortinas de fumo
A certificação LPDs dos aeroportos cabo-verdianos é um ativo técnico consolidado, não uma conquista recente. A revalidação feita pela TSA em maio de 2025 apenas confirmou o que já se sabia: a infraestrutura está sólida, os técnicos são competentes, os processos adequados, os protocolos eficazes e o sistema aeroportuário funciona.
No entanto, sem uma companhia aérea estável e operacional, assa certificação torna-se um ativo subutilizado.
Os aeroportos internacionais Amílcar Cabral (Sal) e Nelson Mandela (Praia) já estavam certificados como LPDs antes da avaliação de maio de 2025. A missão da Transportation Security Administration (TSA) dos EUA, em colaboração com a Agência de Aviação Civil (AAC), penas revalidou essa certificação após inspeções técnicas em mais de 12 áreas críticas. Cabo Verde continua a figurar entre os 13 países africanos com LPDs, sendo um dos poucos com dois aeroportos certificados.
Por conseguinte, não houve “ganho novo”, mas sim uma tentativa de transformar uma obrigação técnica de manutenção em narrativa de sucesso institucional, enquanto os problemas reais da TACV continuam sem solução.
A certificação dos aeroportos é um passo necessário, mas não suficiente para o voo dos sonhos. Sem a recuperação do ETOPS e a reestruturação operacional da TACV, não haverá voos diretos para os EUA, apesar da infraestrutura estar pronta.
Finalmente desvendado o enigma do meio boeing
A revalidação dos LPDs é usada como vitrine institucional, enquanto a companhia aérea continua sem asas. As pistas estão prontas, os protocolos estão afinados, os técnicos continuam a operar com dignidade e competência. Mas há um detalhe que a narrativa oficial esqueceu de incluir: a companhia aérea nacional, TACV, continua sem asas.
Sem frota operacional, sem certificação ETOPS, sem plano de voo validado, o sistema de transporte aéreo cabo-verdiano está, literalmente, meio certificado.
E é aí que entra o meio Boeing — a aeronave invisível que habita os discursos oficiais: uma fuselagem de promessas sem motor de execução. Um cockpit de manchetes sem tripulação técnica. Um voo em velocidade cruzeiro, sem combustível. Verdadeiramente, um marketing político a tentar decolar, mas com fortes ventos de realidade operacional contra, mantendo o voo em solo.
A esperança da diáspora não deve ser usada como combustível político
Para milhares de cabo-verdianos que vivem nos Estados Unidos, a possibilidade de embarcar diretamente para o arquipélago não é apenas uma comodidade. É um reencontro com a terra, com a família, com a memória. Cada anúncio de “retoma iminente” reacende sonhos, reorganiza planos, mobiliza sentimentos. E cada adiamento, cada silêncio institucional, cada manobra de diversão, fere com a mesma intensidade que uma promessa quebrada.
A desinformação não é apenas um erro técnico. É uma forma de brincar com os sentimentos de quem já vive longe, mas nunca deixou de pertencer.
Por isso, apelamos aos ilustres donos da terra que:
1. Evitem transformar revalidações técnicas em manchetes triunfalistas
2. Comuniquem com clareza e responsabilidade sobre o estado real da TACV
3. Estabeleçam prazos públicos e metas verificáveis para a retoma dos voos diretos
4. Respeitem a dignidade emocional da diáspora, que merece verdade e não retórica
5. Garantam que a comunicação institucional seja instrumento de confiança, não de distração
Aos que vivem entre saudades e escalas, saibam que o voo americano ainda não partiu, mas também não foi cancelado. Os aeroportos estão certificados, as pistas estão limpas, os técnicos estão prontos. Falta só o avião! E talvez um plano! E talvez um pouco mais de respeito!
Mas não desanimem: o meio Boeing já foi localizado. Está estacionado entre a esperança e a ironia, com combustível suficiente para alimentar manchetes até 2026. E, quando finalmente a estimada companhia nacional recuperar o ETOPS, a frota, a transparência, a coragem e a seriedade, talvez possamos todos embarcar, não apenas num voo, mas num país que não confunde o meio (1/2) com a unidade (1).
Até lá, mantenham os cintos apertados, os olhos abertos e os corações preparados (as máscaras que estão a cair não são de oxigénio...)!
Um dia, sim, voaremos o voo americano, com asas reais!
E quando isso acontecer, que ninguém diga que foi milagre!
Terá sido, tão somente, o povo que nunca desistiu de embarcar na verdade!
“Cabin Crew, take your seat!”😎
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A equipa do Santiago Magazine