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ÁFRICA, ATÉ QUANDO?
Ponto de Vista

ÁFRICA, ATÉ QUANDO?

No dia 25 de Maio comemora-se o Dia de África, uma data institucionalizada pela então Organização de Unidade Africana (atual União Africana). África é um continente que não deve nada a ninguém, mas que tem muito a cobrar aos outros por tantos males que lhe infligiram num passado bastante longínquo mas cujas consequências ainda hoje refletem no nosso dia-a-dia. África tem potencialidades e condições naturais únicas para ter quase tudo e não precisa praticamente dos outros para sobreviver. Precisa apenas da paz e da inteligência dos próprios africanos. Diz-se nos meios científicos que ela é "Berço da Humanidade", embora hoje há quem ponha em causa tal mérito, mas de uma coisa temos a certeza absoluta: África é um dos mais antigos continentes na face da terra e existem provas irrefutáveis que o confirmam. Não é por acaso que ela se designa também de "velho continente". Entretanto, a pergunta que hoje interessa fazer é o que a África ganhou com tudo isto? Uma pergunta que não merece por ora resposta mas que exige alguma reflexão por parte de todos, principalmente dos africanos. Motivo de disputas por parte de grandes potências mundiais que denominaram o mundo desde a época dos descobrimentos, a divisão da África culminou, finalmente, com a sua partilha na célebre Conferência de Berlim, Alemanha, em 1884-1885. Foi e será sempre um dos períodos mais violentos da história contemporânea mundial que muitos resistem em esquecer. Ainda hoje é um espinho que continua atravessado na garganta de algumas dessas potências, por tão mal que foi a maldita partilha. E se o tempo pudesse retroceder à época hoje teríamos uma batalha sem precedentes entre essas nações pela (re)partilha deste velho continente. Esta mãe de todas as batalhas poderia superar, sem dúvida, todas as outras até agora registadas no mundo. Seria mesmo o fim da humanidade na face da Terra.

Três grandes problemas afetam a África na atualidade: as guerras cíclicas internas, a pobreza e a corrupção. Há uma crença entre os africanos, sobretudo os naturais de países mergulhados na desgraça, de que os problemas internos do continente são provocados e incentivados propositadamente no exterior com objetivos bem determinados de impedir o desenvolvimento do continente. Especulações à parte, mesmo que seja apenas uma crença, esta encontra alguma consistência no seio dos africanos que acreditam em tudo e desconfiam por nada. A questão que hoje se coloca é saber quem beneficia com os conflitos internos africanos porque os prejudicados há muito que sabemos quem são. Porque tais conflitos perpetuam no tempo e não se vislumbram soluções para os resolver? Matamos uns e outros aos milhares e não se vê solidariedade alguma da comunidade internacional, pelo menos se comparado com o que acontece nalguns países europeus quando são vítimas de ataques terroristas. Por exemplo, no mesmo dia em que o Boko Haram, na Nigéria, assassinava impiedosamente milhares de conterrâneos seus mas que não foram suficientes para comover nem o Vaticano e muito menos o resto do mundo civilizado, num outro espaço geográfico era assassinada uma dúzia de seres humanos em semelhantes atos terroristas mas que foi, isso sim, suficiente para mobilizar a comunidade internacional na luta contra o terrorismo e o fundamentalismo islâmico. Este aparente "desprezo" pela África é visível na forma como os refugiados africanos são recebidos e tratados quando tentem a sua sorte no solo europeu. Ainda perdura na nossa memória a situação vivida pelos refugiados (na sua maioria africanos!) em Calais, França, na sua vã tentativa de alcançar o Reino Unido através do Canal da Mancha. As organizações políticas regionais têm tido um papel pouco interventivo na busca de soluções para os inúmeros conflitos que assolam o continente. A CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) é disso um exemplo e isto ficou demonstrado, por exemplo, na forma como vem desempenhando o seu papel nos sucessivos conflitos militares e instabilidade político-social na Guiné-Bissau e noutros países da região.

Tanto a pobreza como a corrupção são dois males que em África andam de mãos dadas. Um surge como consequência do outro e vice-versa, um autêntico círculo vicioso. Custa-me acreditar, por exemplo, que os cidadãos nigerianos ou angolanos são considerados os mais pobres do continente. Aliás, a maioria dos países africanos ricos em petróleo e outras matérias-primas tem a grande parte da sua população a viver abaixo do limiar da pobreza ou na pobreza extrema como consequência da má governação do país e das guerrilhas internas intermináveis, protagonizadas por grupo radicais que opõem ao regime instalado. A corrupção da classe política e dos governantes constituem também factores que facilitam o crescimento da pobreza e o seu alastramento de forma horizontal. É precisamente através destes países (não necessariamente da Nigéria ou de Angola) que entram as grandes multinacionais e com elas todos os seus aparatos de exploração dos recursos naturais. Da África (apenas) levam o lucro como resultado da lapidação dos seus recursos naturais e a mínima contribuição que pagam por essa lapidação nunca chega aos que mais necessitam, pelo menos de forma como deveria chegar. Formação de recursos humanos, apoio na agricultura e sua modernização, construção de infra-estruturas e aposta no desenvolvimento de tecnologias, entre outros, poderiam ser uma das contrapartidas que os países "explorados" deveriam exigir dessas multinacionais, caso os seus governos fossem sérios e rigorosos na administração dos seus países.

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Redação