CXLIV CENA
Uma jovem santantonesa chamada Diana, cruza-se, numa rua do Mindelo, com o Dário, um jovem moço, mindelense e recém-formado em Agronomia. Dário diz-lhe “bom dia” mas ela não responde. Ela anda uns três metros mais à frente, esbarra numa casca de banana e cai. Dário vai ajudá-la a levantar-se.
DÁRIO (com ar cavalheiresco) – Magoaste, amiga?
DIANA (embaraçada) – Acho que não foi muito grave. (Arregaça um pouco a saia) Apenas me ardem estas escoriações… mas passam-se.
DÁRIO – Olha se não tens mais dores! Se te dói alguma parte mais, levo-te num posto médico, serás observada e tratada.
DIANA – Obrigada. Sinto-me bem. Muito obrigada.
DÁRIO – Espero que não passe de um simples susto.
DIANA – Não deve ser mais do que isso.
DÁRIO – Felizmente. Já agora… eu chamo-me Dário. E tu?
DIANA (ainda sem jeito) – Muito obrigada. Eu sou Diana.
DÁRIO – És daqui de São Vicente?
DIANA – Não. O meu pai e da Praia e a minha mãe de S. Nicolau. Nasci em S. Antão, onde o meu pai era professor e a minha mãe enfermeira.
DÁRIO – O teu pai é da Praia… Praia cidade, ou ilha?
DIANA – Desculpa. Não me lembrava de que cá diz-se da Praia todas as pessoas da ilha de Santiago. Ele é de Pedra Badejo, concelho de Santa Cruz. Os meus avós são de Achada Fátima.
DÁRIO – Então… estás cá de férias?
DIANA – Também não.
DÁRIO – Então?!…
DIANA – Conheces Santo Antão?
DÁRIO – Conheço alguns concelhos.
DIANA – Eu sou da Ribeira Grande.
DÁRIO – Conheço Ribeira Grande. Conheço Porto Novo e Ribeira Grande.
DIANA – Deves saber que em S. Antão só se estuda até ao 5º ano dos Liceus.
DÁRIO – Infelizmente.
DIANA – Pois. Quando fiz o 5º ano – há dois anos – os meus pais mandaram-me para S. Vicente estudar o 6º ano. Fiquei hospedada em casa de um tio, irmão da minha mãe. Mas a minha tia, a mulher do meu tio, fazia-me muita descriminação com a minha prima, a filha dela.
DÁRIO – O teu tio lhe permitia isso?
DIANA – Coitado do meu tio! Lá em casa, e também nele, quem mandava era a mulher. O meu tio só lhe bancava e sustentava-lhe os caprichos.
DÁRIO – Os teus pais sabem disso? Não lhes chegaste a contar?
DIANA – Contei-lhe tudo. Por isso, este ano resolveram arrendar uma casa cá e vieram acompanhar-me.
DÁRIO – E o emprego deles em Santo Antão?
DIANA – Já são reformados.
DÁRIO – Interessante! O teu pai é da Praia… a tua mãe é de São Nicolau… tu nasceste em Santo Antão! E de qual a ilha tu consideras pertencer?
DIANA – Considero-me simplesmente uma cabo-verdiana. Filha das suas 10 ilhas de morabeza.
DÁRIO (ri-se) – Não és Badia nem Sanpadjuda!
DIANA – O sangue Badiu corre-me nas veias, mas do Sanpadjudu!… Népia!
DÁRIO – Não tens sangue Sanpadjudu?! A tua mãe não é de São Nicolau?
DIANA – A minha mãe é de São Nicolau. Não é Sanpadjuda.
DÁRIO – Se ela é de São Nicolau… não é Sanpadjuda?!
DIANA – Sanpadjudus são apenas os habitantes do Fogo. Como Badius são apenas os habitantes de Santiago.
DÁRIO – O quê?!
DIANA – Quando essas denominações surgiram, apenas essas duas ilhas ainda eram povoadas.
DÁRIO – Não sabia disso!
DIANA – Pouca gente o sabe.
DÁRIO – Afinal a nossa História é muito mas estudada.
DIANA – Pois é. Os nossos governantes só se preocupam em parecer diferentes de nós… mesmo que mais burros do que nós. Não se preocupam com o país, quanto mais com a História! Há muitos que enojam por serem de África e negam a sua africanidade.
DÁRIO (ri-se) – Os teus pais foram trabalhar para Santo Antão e nunca mais voltaram para suas Ilhas?
DIANA – Definitivamente… não. Edificaram por lá um ambiente familiar com as pessoas, fizeram uma casa, tiveram filhos e acabaram por fixar ai a residência. Vão de vez em quando de férias, matar as saudades e rever famílias e amigos.
DÁRIO – Pelo que percebi, tens mais irmãos!
DIANA – Mais cinco: três rapazes e duas meninas. A minha mãe teve três partos… três casais.
DÁRIO – Teve gémeos três vezes seguidos?
DIANA – Eu não sou gémea de ninguém.
DÁRIO – Se são seis?!…
DIANA – No primeiro parto, ela teve um par de rapazes. Depois teve-me a mim. Por último deu à luz três gémeos: duas meninas e um rapaz.
DÁRIO – Fantástico.
Dário olha para o relógio.
DIANA – Já vi que estás com pressa. Obrigada mais uma vez.
DÁRIO – Não tens que me agradecer.
DIANA – Seria demasiado injusta e bastante deselegante se assim procedesse! Não achas?
DÁRIO – Não! Fiz o que qualquer pessoa do bem faria.
DIANA – Por isso é que te devo agradecer! Obrigada mesmo… do coração.
DÁRIO (estende-lhe a mão) – Adeus. Prometo ver-te mais vezes. Gostei de te conhecer e espero que não venhas a sentir dores mais tarde.
DIANA – Muito obrigada!
DÁRIO (começa a andar, para de repente e olha para ela) – Todas as noites costumo ir dar umas voltas na Praça Nova, lá na Morada.
DIANA – Eu moro precisamente na Morada, naquele edifício atrás dos CTT.
DÁRIO – Ok. Um dia desses a gente encontra-se e fala melhor. Tomamos um chá com bolacha suzuda!
DIANA – Quando quiseres. Estar na Praça é o meu vício todos os dias, das 18 às 21 horas.
DÁRIO – Adeus.
DIANA – Adeus.
CXLV CENA
Dr. Joaquim tem malas aviadas para Angola. Ele e a Drª. Mónica estão numa sala a discutir ideias como fazer a festa de despedida nessa noite.
DIANA (vai assentando numa folha de papel) – «2 garrafas de Whisky… 3 garrafas de vinho verde, 4 caixas de cerveja… e que mais?»
DÁRIO – O Marido da Rosária não usa bebidas alcoólicas. De vez em quando bebe um ponche de mel, de calabaceira ou tamarindo.
DIANA – Então vou pôr: (Escreve) «1 garrafa de ponche de mel, 1 de ponche de coco, 1 de tamarindo, 1 de calabaceira e 1 de Azedinha. Já agora… 1 litro de sumo Bissabe».
DÁRIO – Escreve também os ingredientes para o jantar?
DIANA – Vamos sempre fazer cachupa?
DÁRIO – Sim. Fazemos uma panela de cachupa e outra de arroz à valenciana. Como sabes, nem toda a gente gosta de comer cachupa à noite.
DIANA – Quem mais já te confirmou a presença?
DÁRIO – O Sr. Ministro disse que não vem, mas qua vai mandar uma pessoa representá-lo.
DIANA – Ele não vem, porquê?
DÁRIO – Apresentou umas desculpas esfarrapadas… e eu também fingi que entendi.
DIANA – E o Juiz recém-nomeado… não vem?
DÁRIO – Nem o convidei. Não o conheço.
DIANA (acaba de escrever, centra os olhos na folha e ouve-se a sua voz off) – «2 garrafas de Whisky, 3 garrafas de vinho verde, 4 caixas de cerveja, «1 garrafa de ponche de mel, 1 de ponche de coco, 1 de tamarindo, 1 de calabaceira e 1 de Azedinha. Já agora… 1 litro de sumo Bissabe, 1 panela de cachupa e 1 de arroz à valenciana». (Levanta a cara e olha para Joaquim) Acho que chegam.
DÁRIO – Se não chegarem arranjaremos na hora.
DIANA – Deixa-me ir ter com a Rosária e vermos como fazer as compras.
DÁRIO – Eu vou aproveitar para tomar um banho.
DIANA – Tchau.
DÁRIO – Tchau.
CXLVI CENA
A festa de despedida de Dr. Joaquim está muito animada. Um dos convidados está sempre a levantar-se, hora vai à casa de banho, outrora sai a rua para atender ao telemóvel que só lhe vibra no bolso das calças. Depois do jantar, segue-se o momento de despedida e da entrega de recordações. O convidado que sai frequentemente para atender ao telemóvel, apresenta-se como representante do Sr. Ministro e entrega um crachá prateado ao Dr. Joaquim, como oferta do Sr. Ministro. O Dr. Joaquim fica emocionado e chora comovidamente. O convívio chega ao fim, todos se dispersam menos a Mónica que faz a questão de acompanhar o Dr. Joaquim ao Aeroporto nessa madrugada. Poucos minutos depois de todos se irem embora, alguém bate à porta, identifica-se como um dos que lá estavam na festa. Dr. Joaquim vai para abrir a porta, a Drª Mónica surge a correr e a gritar para que ele não abre a porta, mas será tarde de mais. Uma bala já havia trespassado da fronte à nuca do Dr. Joaquim. E de seguida, no peito e na face da Drª Mónica são penetrados 2 projéteis de calibre 38.
CXLVII CENA
Drª Rosário acorda de manhã, liga a Televisão e fica abalada com o que vê e ouve. A Televisão mostra imagens da casa de Dr. Joaquim com a porta entreaberta, o seu corpo prostrado no corredor e a Drª Mónica estirada a poucos centímetros dele, envolta numa poça de sangue, embora com sinais vitais. O Dr. Joaquim está com uma pistola na mão direita, o cano virado à sua cabeça, simulando o suicídio.
TELEVISÃO – Caros telespetadores. É com tristeza e muita dor que a Televisão Nacional vos irá informar de um triste e macabro acontecimento que ocorreu esta madrugada na residência do Juiz desta Comarca. O Dr. Joaquim, o Juiz que veio de Angola e que vinha a julgar o processo intitulado: “Os Dois Mata e Furta”, ou seja: “O Pai e O Filho”, foi encontrado sem vida no corredor do seu apartamento, ao lado da amante, a advogada Mónica. Segundo uma nota da Polícia Judiciária que corrobora o relatório da autópsia, terá sido uma tentativa de homicídio seguido de suicídio, ou melhor, de um crime passional, enrolado num encalacro amoroso, cujo desfecho se culminou nesta triste tragédia. Uma nota retificativa acabou de chegar à nossa redacção, informando que a Drª Mónica, a advogada, conseguiu sobreviver mas que ficou em estado vegetativo. E tudo indica que assim irá continuar para o resto da vida. Pois, a bala assassina ter-lhe-á trespassado o cérebro, provocando-lhe lesões graves e irreversíveis.
Rosária entra em pânico, levanta-se e sai desnorteada.
CXLVIII CENA
Diana dá voltas na Praça com algumas amigas. Dário está sentado num banco a ler num jornal, as notícias da morte do Dr. Joaquim.
DIANA (passa por ele) – Olá, Dário!
DÁRIO (levanta a cara) – Oi, Diana!
DIANA – Desculpa-me por ter-te desviado das tuas filosofias.
DÁRIO – Não faz mal. Já estás melhor?
DIANA – Olha… pronta para outra.
DÁRIO – Não brinques com essas coisas. Se soubesses como fui para a casa preocupado naquele dia!
DIANA – A sério?! Não acredito que ainda estejas! Estás com uma cara sorumbática! Como quem já não tem onde aconchegar lindos sorrisos.
DÁRIO – Neste mundo, e nesta terra em particular, dificilmente a gente tem motivos para sorrir.
DIANA – Porquê? O que aconteceu? (Dário mostra-lhe o jornal) Ave-maria! Dário?! Quem os matou?
DÁRIO – No jornal está a dizer que ele tentou matar a namorada e suicidou-se de seguida.
DIANA – Então a justiça já está feita. Para quê lamentar?
DÁRIO – Era Juiz lá no Tribunal Criminal da Praia.
DIANA – Por isso, fez justiça. E vê-se que era um bom Juiz. Sentenciou até a si mesmo.
DÁRIO – Por que dizes assim, Diana? Não se deve julgar aos outros sem o perfeito conhecimento de causa.
DIANA – Matar uma mulher, quem um dia sorriu ao ouvir uma declaração de amor, não há causa que justifique.
DÁRIO (evita entrar em diálogo) – OK. E já estás boa? Totalmente recuperada?
DIANA – Completamente recuperada.
DÁRIO – Quando cheguei a casa e o meu pai me perguntou o que é que eu tinha, e lhe contei… coitado, ficou tão triste!
DIANA – Meu Deus!… O que é que foste contar ao teu pai?
DÁRIO – O que achas que eu lhe ia contar?
DIANA – Que tive um acidente?
Diana dá uma gargalhada.
DÁRIO – Contei-lhe que escorregaste, caíste e eu te ajudei a levantar.
DIANA – Mas não lhe contaste que atolei a mão na bosta do cão?! (Riem-se) Eu também contei à minha família como foste gentil comigo e ficaram contentes.
DÁRIO – Muito obrigado.
DIANA – Não me leves a mal… mas tu és um borracho. (Dário estende-lhe a mão e fá-la sentar-se) A minha família quer conhecer-te. E pediu-me ainda…
DÁRIO – O quê?
DIANA – Para convidar-te um lanche lá em casa um dia desses. Pode ser?
DÁRIO – Claro que pode. Para quando?
DIANA – Vou-me avir com eles, depois digo-te. Dá-me o teu número de telefone, ligo-te ainda hoje. Se quiseres levar o meu…
DÁRIO – Claro que levo. Aponta lá o meu: 311827. Se eu não estiver em casa pede para falar com o meu pai e deixa o recado. Se outra pessoa atender, não precisas de entrar em pormenores.
DIANA (acaba de apontar o nº do Dário) – Ok. Também aponta o meu número: 312718. Estou em casa sempre a partir das duas da tarde. E, ao contrário, se por qualquer eventualidade, também me ligaste e não estiver em casa, podes deixar o recado a quem te atender, que te ligo assim que eu chegar. Lá em casa ninguém esconde segredos de ninguém.
Diana levanta-se e despedem-se com aceno de mão.
CXLIX CENA
TELEVISÃO – Caros telespetadores, mais uma vez a Televisão Nacional vai entrar em vossas casas, através de Ondas Hertzianas, levando-vos mais uma vez, informações sobre o acontecimento em que o Dr. Joaquim, Juiz do direito, conheceu a morte e, a namorada Mónica condenada a prostrar-se ad eternum numa cama solitária e na penumbra de um inospitaleiro quarto. Os restos mortais do malogrado foram a enterrar-se na tarde de hoje e, por ordem expressa da Delegacia de Saúde, que invoca questões de saúde pública, não foi autorizado a abertura do caixão. Pelo mesmo motivo, não foi permitido a transladação do corpo para Angola, conforme era manifesta a vontade da mãe, que ali é emigrante. A Drª. Mónica seguiu para Portugal, onde reside a mãe e de onde é também nacional por naturalização. Tentamos contactar a Drª. Rosária, uma advogada e amiga da Drª Mónica, entretanto, nos informaram que ela a acompanhou para o tratamento em Lisboa. Porém, logo que possível, providenciaremos uma entrevista com ela, numa reportagem sobre o caso.
CL CENA
Augusto e Dário estão sentados na sala a conversar-se. Dário está vestido de preto.
AUGUSTO – Tinha muita gente no funeral?
DÁRIO – Muita gente. O Cemitério estava a abarrotar-se.
AUGUSTO – Mas será verdade o que por aqui dizem?
DÁRIO – O quê? Estão a dizer muitas coisas!
AUGUSTO – Que ele tentou matar a moça e que se suicidou de seguida?
DÁRIO – Somente a Polícia Judiciária e a Procuradoria da República é que mantém essa versão. Do resto, todos dizem que foi um crime… um crime encomendado, orquestrado e executado sob um plano milimétrico.
AUGUSTO – Mas porquê?
DÁRIO – Foi o único Juiz que ousou condenar o Estado. Que mandou para a cadeia dois Polícias, um Diretor e um Diretor-geral.
AUGUSTO – Uau!
DÁRIO – Era extremamente incómodo para o sistema. E ia ocupar o cargo onde poderia colocar sentados no banco dos réus, ou mesmo atrás das grades, os até agora, influentes e intocáveis poderosos da nossa administração.
AUGUSTO – Um homem com essa capacidade e inteligência não se suicida.
DÁRIO – Também acho!
AUGUSTO – Mas haver vamos.
DÁRIO – A pobre mãe diz que tudo irá fazer para que a verdade se vem ao de cima. Ela está completamente arrasada, meu pai.
AUGUSTO – Imagino!… Perder um filho naquelas circunstâncias… não é qualquer mãe que aguente!
DÁRIO – Mas pronto! Agora é só esperar.
AUGUSTO – Também já estamos habituados a esses descasos, a esse compasso de espera. É mais um que irá constar da imensa lista dos mistérios, como a suposta morte do MELINDO na Cadeia Civil da Ribeirinha em que o caixão também não foi autorizado a abrir o que lá dentro continha.
DÁRIO – Olha só, num Cabo Verde tão pequenino, quantas pessoas já foram mortas em circunstâncias dúbias, encobertas pela silenciosa corrupção da nossa autoridade, que não mugiu, não tugiu, nem piou e nem miou: o MENDINHO MENDES, o Curandeiro de Santa Cruz, depois de levar uma injeção no Hospital, foi dormir e quando acordou estava morto; ZÉ DI RIBEIRA DA BARCA, agente da Polícia de Alfândega; ZEZITO, o Procurador da República, foi encontrado morto, com a pistola na mão direito, entretanto, mais tarde, vem-se a saber que ele era canhoto; CARLOS ALBERTO SILVA MARTINS – o KATXÁS, suspeita-se de ter levado pauladas na cabeça; o JUIZ DO TRIBUNAL POPULAR de Ponta d’Água; o RENATO CARDOSO, que era membro do Governo; PEPI DI TXENTXÉNA, lavrador; KAGATU DI NENÉ KÓRDA, vítima de uma bala perdida; LINETI DE BEATRIZ, violada e estrangulada; SANDRO DE RENQUE PURGA, desapareceu por e simplesmente; FELISMINO, ex-emigrante, morto com 11 tiros de um revólver; SOFY DE MAFALDA DE ACHADA FAZENDA, morto a golpe de catana; EDMILSON FERNANDES TAVARES, brutalmente assassinado depois de lhe terem arrancado alguns dentes, amputado a língua, furado os olhos, serrado um pé, esmagado os testículos, queimado a cara e pintado de negro; a MARIZA de Ponta d’Água; as crianças EDVÂNIA, NINA, FILÚ, entre outros.
AUGUSTO – Ouvi boatos de que a morte do Edmilson Tavares poderá ter sido captada pela câmara de vídeo de uma casa pertencente a um Procurador que trabalha na Procuradoria-Geral da República.
DÁRIO – É verdade. Até porque, um irmão do Edmilson foi falar com ele, pediu-lhe colaboração e ele disse que sim. Só que nunca o fez.
AUGUSTO – Mas porquê? Esse crime é público, o Procurador tem a obrigação legal de investigar sem se pretender oferecer mera colaboração.
DÁRIO – Talvez ele tenha visto, a priori, as imagens e verificou que havia cenas comprometedoras e que poderia embaraçar até o seu patrão.
AUGUSTO – Sabes uma coisa? Mudamos do assunto. Como está a tua amiga?
DÁRIO – Ela está boa. O pai acha que devo leva-la a sério?
AUGUSTO – Não vejo nenhuma inconveniência, se na verdade tu gostas dela!…
DÁRIO – Não gosto dela… (o pai estranha-se) nós gostamos um do outro.
AUGUSTO – Podem contar comigo. Aprovo o vosso namoro e dou-vos todo o apoio. Quando é que queres trazê-la cá à casa?
DÁRIO – Não sei se ela vai querer vir já tão rápido assim.
AUGUSTO – Qual é moça que não quererá conhecer a casa do pai do namorado?
DÁRIO – Mas… a D. Chica… minha madrasta?! Será que ela vai encarar isto como o pai encarou e aprovar a visita da menina aqui em casa?
AUGUSTO – Podes mandá-la vir quando quiseres. Eu falo com a Chica.
DÁRIO – Espero que o pai irá gostar-se dela.
AUGUSTO – Acredito que tenhas bom gosto e que não me irás desapontar.
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