PAULITO (continuação – 11ª parte)
Cultura

PAULITO (continuação – 11ª parte)

LV CENA

Nha Mariana está sentada a remendar uma peça de roupa enquanto Nhu Miguel corta unhas do pé com uma faca grande.

NHU MIGUEL – Mariana, tu não precisas de ficar assim… com medo. Este rapaz é rico, sua família é milionária. Podes até dizer, que hoje, nós também somos ricos. Ele não vai esquecer-se da gente. Ele é tão honesto, tão educado que me chama mister Miguel.

NHA MARIANA – Miguel, tu sabes se Valdina já falou com José de Nha Chiquinha sobre a sua viagem?

NHU MIGUEL (revoltado) – Qual José de Nha Chiquinha?! Qual? Aquele desnaturado? Não deves estar boa da cabeça.

NHA MARIANA – Eu não estou doida. Tu é que estás a fingir que não o conheces. José é namorado de Valdina há bastante tempo.

NHU MIGUEL – Qual namorado, qual carapuça! Eu não aceito que a minha filha case com aquele pobre, que nem sapatos para pôr nos pés tem. O meu querido genro é senhor Lex, Americano.

NHA MARIANA – Ser pobre não é defeito, Miguel. Lembras-te de quando casei contigo… que aquele casaco que levaste para a Igreja era do teu compadre Alcides, tio do José?

NHU MIGUEL – Não quero saber. Casaste comigo porque não encontraste outro. Mas Valdina tem muitos pretendentes. Não reparaste como é que Lex olha pra ela?

Osvaldina e Alex entram contentes. Com passaporte na mão, Osvaldina abraça os pais.

OSVALDINA – Mãe… pai… vejam o meu passaporte.

NHU MIGUEL – Lex, eu também já tenho aqueles passaportes todos, e o dinheiro de passagem. Como passagem custa sessenta contos, eles deram-me trinta, conforme disseste.

Espalha 20 passaportes e 10 pacas de notas sobre a mesa.

NHU SEIS (conta os passaportes e o dinheiro) – Seiscentos contos, mister Miguel. (Entrega-lhos) Toma e guarda junto com os outros.

Nhu Miguel abana a cabeça afirmativamente, emproando os ombros.

NHA MARIANA – Vamos jantar, meninos, que a comida está a ficar fria.

Vão todos sentar-se à mesa e comem.

NHU SEIS – Lord Miguel… Lorda Mariana! Hoje Ai telefonei meu pai, ele disse que tenho que ir o mais rápido possível. Como Ai vou levar essas pessoas que vão passar a ser emigrantes, amanhã Ai vou para Praia tomar os vistos para eles. Daqui há três dias Ai volto com o visto no passaporte. Diz aos nossos futuros emigrantes para se prepararem. E se vocês não se importarem, Osvaldina vai comigo para a Praia, ela toma o visto dela e segue juntamente com a minha sister… minha irmã que vai depois de amanhã para América. Ai volto para aqui, para vir buscar aquelas pessoas que vou levar.

NHA MARIANA – Osvaldina não pode ir assim de repente, porque ela tem que despedir de algumas pessoas, principalmente de sua madrinha que gosta muito dela. E a sua madrinha mora longe daqui.

NHU MIGUEL – Ela não tem que despedir de ninguém. Já lhe surgiu esta sorte, ela não vai deixar escapar. Valdina, arruma as tuas coisas que vais levar.

NHU SEIS – Ela não precisa levar muita roupa. Essas roupas não prestam lá na América. Ela vai encontrar tudo lá.

OSVALDINA (abre a mala e apanha um vestido) – Mãe, vou deixar este vestido para você dar à minha prima Carla. Diga-lhe que me desculpe por não me despedir dela. E conte-lhe como foi de repente a minha viagem. (Apanha mais uma peça de roupa) Esta aqui você dá a Aldina, filha da minha madrinha.

NHA MARIANA – Valdina, não vais despedir de Nha Chiquinha? Já disseste ao José que vais embarcar?

NHU Miguel (repreensivo) – Qual Nha Chiquinha? Qual José? Ela não vai despedir de nenhuma bruxa nem de nenhum ladrão.

Nha Mariana sai zangada, Osvaldina sai triste atrás dela, Nhu Miguel sai depois e por último sai Nhu Seis.

LVI CENA

Nhu Seis e Osvaldina estão no bar do Aeroporto de São Pedro em São Vicente.

NHU SEIS – Senta-te, Valdina. Vou pedir um sumo para ti. (Vai ao balcão) Um sumo se faz favor.

EMPREGADA – Que tipo de sumo?

NHU SEIS (para Osvaldina) Que tipo de sumo é que queres?

OSVALDINA – Suco Mais de goiaba.

NHU SEIS (para empregada que está a atender outro cliente) Suco Mais de goiaba. (A Empregada serve-lhe e ele entrega a Osvaldina) Fica aqui a beber o teu sumo, eu volto já.

Nhu Seis pega na sua maleta e na da Osvaldina, sai e desaparece. Osvaldina começa a ficar impaciente, levanta e olha para todos os lados, começa a chorar.

UM POLÍCIA – Porque estás a chorar? (Osvaldina não consegue falar) Vieste com quem? (Ela tenta dizer Alex, mas a voz é interrompida pelos soluções) Quem veio contigo? (Ela não consegue responder) De onde é que vieste?

OSVALDINA – De Sintanton.

UM POLÍCIA – Para onde é que vais?

OSVALDINA – Amériiii

Descamba a chorar.

POLÍCIA (liga rádio de comunicação) – Alou, Esquadra do Mindelo… (Pausa) Urgente, carro de patrulho, Aeroporto de São Pedro. (Pausa) Sim. Uma diligência urgente. (Pausa) Ok. Na secção CHEGADA. (Volta para Osvaldina) Vem comigo.

Osvaldina vai a frente e o Policia atrás dela.

LVII CENA

Nhu Miguel está sentado num banquinho a enrolar um cigarro, Nha Mariana sobre uma tropeça a escolher feijão.

NHU MIGUEL – Ah, minha filha querida! Estou a ver-te dentro dos EUA, alegre da vida. Não vejo quando é que me vêm chamar para ir responder-te ao telefone. Neste momento deves estar na companhia da tua nova família.

NHA MARIANA – Miguel, já sei que não me vais acreditar, mas pressinto que Valdina não está nada bem. Desde que ela saiu daqui, há já três dias, não sei qual é o gosto da comida e, a minha barriga não parou de doer. Sinto a sensação de que ela está com frio, está com fome, está codé.

NHU MIGUEL – Sabes porquê? (Ri-se) É por que não estavas a acreditar! Agora estás com vergonha? Valdina está no seu mar, a nadar entre os peixinhos, em inglês, mulher. Ela está no seu mundo, como peixe dentro da água.

NHA MARIANA – Eu não estou com vergonha porque não fiz nada de errado.

NHU MIGUEL – Valdina, com Deus nosso Míster, já é americana. Dentro em breve todos nós também iremos para os Estados Unidos, em nome da cidadã norte americana, Osvaldina de Oliveira Lex. (Alguém bate à porta) Deve ser vizinho que me vem chamar para ir atender Osvaldina ao telefone. Ou Lex que já voltou da Praia com os vistos nos passaportes dos novos emigrantes que estou a ajudar.

Vai a correr e abrir a porta. Um Polícia e Osvaldina estão à porta. Osvaldina traz um saco de plástico na mão com algumas peças de roupa.

POLÍCIA – Senhor Miguel, vim trazer-lhe a sua filha que veio da Esquadra de São Vicente. O comandante mandou dizer que ela estava sozinha no aeroporto e, como não conhecia ninguém, um agente levou-a à Esquadra para ser identificada. Na Esquadra ela desmaiou, foi socorrida ao Hospital, fizeram-lhe análise e consta que ela está grávida.

Nhu Miguel fica desorientado, Nha Mariana levanta e vai a correr para a porta, abraça Osvaldina e chora. Nhu Miguel cai desmaiado, Polícia fica atrapalhado.

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