O linguista Eleutério Afonso considerou que a padronização da Língua Cabo-verdiana “não é uma prioridade” e que o programa do 10.º ano visa ensinar normas, variações e leis de funcionamento da língua e “combater o preconceito linguístico interno”.
Em resposta, hoje, às declarações da investigadora Fernanda Pratas, que defendeu a necessidade urgente de padronização ortográfica como condição para a oficialização da Língua Cabo-verdiana (LCV), o linguista, docente e co-autor do programa do 10.º ano, reforçou que o objetivo pedagógico não é padronizar, mas compreender a língua em toda a sua diversidade.
Segundo Eleutério Afonso, a controvérsia em torno da chamada “escrita pandialetal”, presente nos manuais do 10.º ano elaborados pela Porto Editora, está a “desviar o debate do verdadeiro objectivo” do programa experimental, ressaltando que as autoras do projecto afirmaram inicialmente que a proposta não buscava padronizar.
“O programa nunca foi concebido para padronizar, mas para ensinar a diversidade da língua e combater preconceitos linguísticos. A padronização, se vier a acontecer, deve resultar de um consenso social e cultural amplo, e não de um atalho técnico imposto por manuais”, afirmou.
Entre os pontos defendidos pelo especialista, está a ideia de que a língua não se reduz apenas à escrita, reforçando que é preciso valorizar a oralidade e promover metalinguagem a partir das modalidades orais, sem que a padronização seja imposta de forma rápida ou unilateral.
Aliás, mencionou que “a padronização laboratorial” pode “provocar resistência e dividir a comunidade”.
O linguista recordou que a história mostra diferentes caminhos para a uniformização linguística, como o modelo grego - adoção espontânea de uma variedade comum - ou o modelo alemão - difusão de uma variedade prestigiada -, mas frisou que em nenhum desses casos inventou-se uma variedade “em laboratório, desligada do uso vivo”.
“Antecipar uma padronização artificial pode confundir o debate, ameaçar o processo de valorização da língua e até ser ilegal, porque nem o ministério da Educação, nem a Porto Editora têm mandato institucional para impor uma norma”, advertiu.
O programa do 10.º ano, conforme o especialista, prioriza ensinar as regras, as variações e as condições de uso da LCV, bem como fomentar o entendimento de que a língua é viva e plural.
Para Eleutério Afonso, a prioridade deve ser consolidar o ensino da LCV, garantir acompanhamento pedagógico e permitir que os falantes se apropriem da língua em toda a sua diversidade.
“O essencial é combater o preconceito linguístico, valorizar as variedades insulares e fortalecer a apropriação popular da língua. Só depois se poderá falar em padronização, se for vontade e consenso da sociedade cabo-verdiana”, concluiu.
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A equipa do Santiago Magazine