Uma ventoinha quebrada
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Uma ventoinha quebrada

Essa tendência declinante de perda de votos dos rabentolas é sintomático da gigantesca crise eleitoral e política que tomou conta do seu sistema ao ponto de quererem afastar o chefe. O Governo do MpD gerou tamanho descontentamento popular que em tão pouco tempo muitos de seus simpatizantes, apoiantes e até militantes já lhe deram as costas e passaram a votar na oposição para lhe castigar.

Os rabentolas colocaram a circular na praça, após o desastre eleitoral  do passado dia 01/12/24, uma falsa narrativa para enganarem os incautos e animarem a sua turma que da mesma forma que o PAICV conseguia vencer as três eleições Legislativas e eles continuavam hegemónicos nas autarquias, que agora o quadro mudou e vai ser a inversão com os tambarinas a serem dominantes nas Câmaras Municipais e os mepdistas a liderarem o governo nacional com vitória nas legislativas.

Em primeiro lugar, é pela segunda vez que o PAICV vence o MpD nas eleições autárquicas, a primeira vez foi em 2000 e agora em 2024 foi, sim, a primeira hecatombe imposta aos ventoinhas;

Em segundo lugar, por  conseguinte, da vez que o PAICV venceu o MpD com uma margem mínima de poucos votos em 2000, logo na eleição Legislativa seguinte, em 2001, também venceu as legislativas, provocando a alternância política nacional!

Em terceiro lugar, as causas da manutenção do Governo do PAICV em sucessivas eleições 2001/2006, 2006/2011 e 2011/2016 foi o seu bom desempenho que lhe permitiu fazer três mandatos, e não por que perdeu as autárquicas nesse período intercalar.

Em quarto lugar, o MpD, ao contrário, perdeu as últimas autárquicas, principalmente, por causa de seu péssimo desempenho no Governo central como atestavam os estudos do afrobarometer e relatórios do INE.

Em quinto lugar, houve uma mudança na quantidade e magnitude dos círculos eleitorais: nas eleições Legislativas de 2001 e 2006 vigorava um número (20 círculos eleitorais) e  tamanho dos círculos eleitorais diferente daquele adotado nas eleições de 2011 (13 círculos eleitorais) em diante que consistiu na institucionalização de círculos-ilha, com exceção da ilha de Santiago que foi dividida em dois círculos eleitorais (Santiago-Norte e Santiago-Sul).

Essa mudança institucional nas regras do jogo torna absurda a comparação entre períodos com utilização de regras diferentes: no sistema proporcional adotado não há transferência de votos de um distrito ou círculo eleitoral para outro mas com a criação dos círculos-ilha reduz-se os efeitos dos desperdícios de votos e os efeitos da proporcionalidade ou desproporcionalidade eleitoral podem ser maiores ou menores beneficiando mais um ou outro partido dependendo não do seu desempenho eleitoral mas sim da distribuição de votos nos diferentes círculos eleitorais aos diferentes partidos.

Em sexto lugar, o MpD para vencer as Legislativas terá que ter muito mais votos do que os seus principais oponentes e nas últimas autárquicas, ao contrário, teve 14.000 votos a menos do que o PAICV!

Nos dois maiores círculos eleitorais do país Santiago-Sul e Santiago Norte, o MpD perdeu em apenas três anos, 77.000 votos!!!

Em 2021, os mepedistas tiveram 57.000 votos nas Legislativas em Santiago Sul e 53.000 votos em Santiago Norte, agora em 2024, nas autárquicas, tiveram 18.000 votos em Santiago Sul e 15.000 em Santiago Norte!!!

Curiosamente, a quantidade de votos que o MpD perdeu só na ilha de Santiago em três anos -77.000 votos, é superior aos 71.000 que conseguiu alcançar no dia 01/12/24 em todo o território nacional!!!

Essa tendência declinante de perda de votos dos rabentolas é sintomático da gigantesca crise eleitoral e política que tomou conta do seu sistema ao ponto de quererem afastar o chefe.

O Governo do MpD gerou tamanho descontentamento popular que em tão pouco tempo muitos de seus simpatizantes, apoiantes e até militantes já lhe deram as costas e passaram a votar na oposição para lhe castigar.

O Ministério da Educação resolveu empreender uma cruzada contra os professores que culminou com a abertura de processos disciplinares contra vários professores e, seguramente, tal atitude contribuiu, decisivamente, para a revolta não só dos visados mas da classe como um todo que é a maior classe do funcionalismo público nacional e com distribuição e capilaridade por todas as ilhas, cutelos e ribeiras.

A solidariedade da classe docente funcionou como um aviso ao seu Ministério e ao Governo mostrando que se podem reprovar um mau aluno também podem reprovar um mau governo todas as vezes quantas forem necessárias que se apresentar às eleições até que se mude de rumo!

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