Política

O grupo parlamentar do PAICV, num contexto de divisão do MpD, pode vir a ser determinante para a eleição do 1º vice-presidente da AN, após a vagatura do cargo por razão da eleição de Armindo Luz como presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santo Antão nas eleições de 01 de dezembro.

Emanuel Barbosa e Luís Carlos Silva são, à partida, nomes descartados pela bancada tambarina, particularmente o segundo, que entre os próprios deputados do MpD regista elevado nível de rejeição. Mas, Emanuel Barbosa, recém-regressado ao hemiciclo, após exercer funções de presidente do conselho de administração da Autoridade da Concorrência, também não é das boas graças do PAICV, muito por razão de alguma truculência do parlamentar ventoinha que, recordamos, se envolveu numa briga com o então deputado do PAICV Moisés Borges, a propósito de acusações sobre o Fundo do Ambiente, corria o mês de novembro de 2018. E isso deixou marcas profundas difíceis de superar.

“Amigos, amigos, política à parte”

A decisão de Mircéa Delgado avançar na corrida para 1º vice-presidente da AN, surgiu em julho passado quando o deputado Orlando Dias recusou o cargo que lhe havia sido oferecido de bandeja pelo presidente do partido, Ulisses Correia e Silva. Na ocasião, o deputado do MpD fez uma declaração retumbante: “Após alguma ponderação, percebi que um dos objetivos seria tentar silenciar-me e condicionar as minhas ideias e o meu pensamento, pelo que manifestei total indisponibilidade”. Nesse cenário, Mircéa decidiu avançar, tendo recebido o apoio de Orlando Dias.

O facto de o ex-candidato às eleições internas para a liderança do partido ser amigo pessoal de Emanuel Barbosa, que só recentemente anunciou a sua intenção de se candidatar, parece não ter esmorecido o apoio de Orlando a Mircéa. Neste caso, poderá dizer-se “amigos, amigos, política à parte”… Aliás, nas eleições internas de abril de 2023, Emanuel manifestou apoio público a Ulisses e não ao amigo Orlando.

As vantagens de Mircéa

Mircéa Delgado regista algumas vantagens que lhe podem ser úteis na disputa com Emanuel Barbosa: é mulher, tem forte simpatia nas ilhas do Barlavento, é uma reputada jurista e é reconhecida a sua coragem política, como ficou demonstrado em dezembro de 2020, não se intimidando com os ataques de que foi alvo pelo Supremo Tribunal de Justiça, a propósito de uma intervenção numa sessão plenária da AN.

Emanuel Barbosa, por seu turno, é um “animal político” que não deve ser menosprezado, contando com apoios no grupo parlamentar que lhe reconhece a combatividade, mas também alguma truculência que lhe pode ser fatal numa lógica de consensos - fundamental para o exercício do cargo a que agora concorre.

Já Luís Carlos Silva parece ser uma figura descartável. O secretário-geral do MpD, ao longo do seu percurso político, incompatibilizou-se com muita gente e não só da oposição.

De todo o modo, está tudo em aberto e os próximos dias são cruciais para decidir quem vai ser o ocupante da cadeira deixada vaga por Armindo Luz.