MpD embarca na ignorância
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MpD embarca na ignorância

O MpD à medida que vê aproximar-se o fim dos seus dias no pouco poder que lhe resta tenta encontrar “bodes expiatórios” para tentar se desculpar ao invés de construir pontes passa a levantar muros cada vez mais altos e a isolar-se.

As dificuldades políticas e eleitorais que o MpD enfrenta nos últimos anos resultando em derrotas eleitorais nas eleições presidenciais de 2021 e nos desastrosos resultados eleitorais autárquicos de 01 de dezembro 2024 decorrem de vários fatores, dentre eles, além da péssima avaliação do desempenho do Governo na presente Legislatura somam-se também o fator ontológico e sociológico mpdista.

1. Em 1990, o PAICV decidiu fazer a abertura política ao multipartidarismo perante contestações políticas internas e um cenário internacional constrangedor para a sobrevivência de regimes políticos autocráticos.

2. Meses após a queda do antigo art. 4º da CR de 1980 que consagrava a institucionalização do regime político autocrático e a declaração de abertura política, eis que surge um grupo de indivíduos que fundaram um movimento político designado, Movimento para a Democracia – MpD, visando contestar o regime vigente e propor mudança política.

3. Um movimento social ou político é uma ideia ou grupo que visa uma mudança social ou política, como os famosos movimentos civis pela igualdade racial nos EUA nos anos de pós-guerra (anos 50/60 do século XX) liderados por M. L. King, movimentos feministas na Europa pela emancipação e igualdade de género – França – anos 60 do século passado, movimentos de reivindicação de terra (Movimento de Trabalhadores sem Terra – MST) e de moradia (Movimentos de Trabalhadores sem Teto – MTST) reivindicando direito à reforma agrária e direito constitucional à moradia no Brasil (anos 80/90 do século XX).

4. Em Cabo Verde o MpD surge como um movimento político nos anos 1990 e se apresentou às eleições legislativas, presidenciais e autárquicas daquela década e teve enorme sucesso com maiorias qualificadas e um domínio político eleitoral total em todos os níveis de governo.

5. À medida que o regime democrático de governo foi-se consolidando, a força política eleitoral do MpD foi-se esvaindo com base em resultados eleitorais publicados nos Boletins Oficiais e dados do Afrobarometer.

6. Nos anos 2000 até 2016, o MpD perde as eleições por três vezes para o PAICV mas se mantém hegemónico nos governos municipais.

7. Em 2016, ocorreu a segunda alternância política, nas legislativas, protagonizada pelo MpD mas agora com maioria absoluta e consegue uma reeleição em 2021.

8. De 2020/2021 em diante, o desempenho político eleitoral ventoinha volta a cair mais um degrau com a perda de oito câmaras municipais (em 2020), perda de menos dois deputados nas Legislativas (2021), derrota nas presidenciais de 2021 e catástrofe eleitoral nas autárquicas de 2024 com perda de 15 CM em 22.

9. Como o desempenho eleitoral médio do MpD nas autárquicas foi sempre superior às legislativas durante todo o período, em torno de +15%, com exceção dos anos 1990,  considerando o desastre autárquico de 2024 em que o desempenho eleitoral foi de cerca de 32%, a previsão é que o desempenho eleitoral nas legislativas de 2026 seja  ainda pior, acompanhando a tendência histórica de declínio na preferência eleitoral nesse partido que despencou de 45% nos anos 90 para 12% (previsão) em 2026, mantendo as demais variáveis constantes! Acrescenta-se que o desempenho eleitoral dos candidatos a PR apoiados pelo MpD tiveram em absoluto melhores desempenhos eleitorais do que os resultados nas legislativas mpdistas durante todo o período com exceção do ano 2021. Conclusão: se o MpD já perdeu as autárquicas e presidenciais em que têm melhor desempenho eleitoral que nas legislativas o mais previsível é que também venha a perder as próximas Legislativas de 2026!

10. O MpD em 2024 continuou repetindo o mesmo discurso bem sucedido no contexto dos anos 1990 em prol da mudança política para a democracia como se a realidade política, sócio-demográfica continuasse intacta, diabolizando o PAICV e auto-intitulando como o “pai” da democracia!!!

11. Os rabentolas passam muito tempo completamente alheios à realidade gastando todas as suas energias focadas num discurso sobre a democracia num contexto em que esse regime de governo já se tornara preferido à grande maioria da população ao invés de se preocuparem com o desenvolvimento de “expertise” e qualidade na promoção de políticas públicas adequadas às demandas dos cidadãos.

12. Seria como se alguém resolvesse ensinar a bíblia e a catequese ao papa: a eficácia dessa prática é muito duvidosa!!!

13. Os rabentolas prometeram criar 45.000 empregos e crescimento económico de 7% ao ano e não cumpriram a promessa; o Vice-PM afirmou que o Governo tinha dinheiro que nunca mais acabava  mas não atenderam as reivindicações sindicais e laborais dos professores e do pessoal da saúde; garantiram que tinham solução para os transportes em Cabo Verde e o que se assiste é um verdadeiro caos no sistema de transporte tanto aéreo quanto marítimo e a avaliação do desempenho do Governo na presente Legislatura é péssima.

14. Perante a hecatombe eleitoral de 01 de dezembro de 2024 os ventoinhas resolveram se radicalizar ainda mais e decidiram atacar a imprensa, nomeadamente, o premiado jornalista Carlos Santos, supostamente, por comentários proferidos por um convidado que entrevistou!

15. Ironicamente, foi o mesmo Carlos Santos que no dia anterior tinha entrevistado o PM, Ulisses, e, nesse caso, não sei por que não houve comunicados, queixas à ARC e indignações da ala mais radical sobre “imparcialidade” e ataque ao partido ou ao Governo???!!!

16. Toda a nossa solidariedade à imprensa livre e ao jornalista Carlos Santos pelo seu brilhantismo profissional, competência e dedicação!

O MpD à medida que vê aproximar-se o fim dos seus dias no pouco poder que lhe resta tenta encontrar “bodes expiatórios” para tentar se desculpar ao invés de construir pontes passa a levantar muros cada vez mais altos e a isolar-se.

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Comentários

  • Casimiro centeio, 17 de Jan de 2025

    Digno de aplausos a sua brilhante a análise, Caro Amigo, João Silvestre Alvarenga ! Merece, como sempre, a reflexão profunda de todos os humanos de bom senso, imparciais e aficionados pela busca da realidade.
    Juntos somos mais fortes por um Cabo Verde mais justo, próspero, harmonioso e democrático !
    Abraço !

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  • Zé P., 17 de Jan de 2025

    A melhor chance de (MPD) ganharem em 2026 será na conjugação de dois fatores diretamente ligadas à oposição: 1 - a escolha de um líder relativamente fraco em relação ao UCS, 2 - conflitos internos dentro do PAICV. Quero deixar isso claro pois o PAICV precisa ser inteligente em escolher um líder que saiba fazer frente ao Ulisses. Além disso o eventual líder eleito precisa saber equalizar os conflitos de forma eficiente e eficaz para que possam ter bases sólidas para 2026.

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