Cidlene foi asfixiada, estrangulada ou espancada? A PJ não sabe, porque tem de esperar pela PGR para iniciar as investigações. Outros crimes na ilha também aguardam autorização do Ministério Público, que tem demorado meses a reagir.
A Polícia Judiciária (PJ) em São Vicente encontra-se de “mãos atadas” e não consegue iniciar, em tempo oportuno, as investigações criminais. Isto porque, qualquer pequena queixa ou mesmo casos de homicídio tem que passar pela Procuradoria-Geral da República (PGR) que é quem autoriza o início da investigação.
Este constrangimento, apontado ao Santiago Magazine por fonte segura da PJ, tem impedido o avanço da investigação da maior parte dos crimes que acontecem na ilha. É que na maioria das vezes, a resposta do Ministério Público demora mais de seis meses para chegar à polícia científica que fica limitada e não consegui sequer avançar com o interrogatório dos suspeitos.
O suposto crime passional do passado domingo, 18, – em que supostamente Adilson ‘Dicha’ Évora terá assassinado a esposa, Cidlene, grávida de três meses, antes de se suicidar – é mais um caso que a PJ de São Vicente tem em mãos e que vai depender da PGR para proceder às investigações. “É que, mesmo com a tese de crime passional quase que evidente, o trabalho de investigação e apuramento dos factos terá se ser feito e isto pode demorar ainda muito tempo, tendo em conta a media de tempo que a PJ tem vindo a esperar para o despacho das autoridades competentes”, explica a nossa fonte.
Por causa disso, a Judiciária ainda não tem como provar a causa da morte de Cidlene. A mulher, que foi encontrada sem vida dentro de um automóvel – o marido e suposto assassinado foi achado enforcado numa árvore –, apenas com vestígios de sangue na boca e sem nenhum corte ou sinais de perfuração no corpo provocados por bala ou alguma arma branca. O que leva a pensar que Cidlene terá sido asfixiada ou espancada até à morte.
Para desvendar o mistério, a PJ enviou um pedido de exame legal ao Ministério Público de São Vicente, que por sua vez encaminhou o processo à Procuradoria-geral da República, na Praia. A PGR é que irá autorizar a autópsia, enviando um médico legista a São Vicente. Esse intervalo de tempo pode demorar meses, e tem dificultado o trabalho da PJ de São Vicente, conforme contam agentes e inspectores abordados por Santiago Magazine.
Casos pendentes
Por exemplo, outro caso que aguarda despacho da PGR é de um recém-nascido que foi abandonado em Novembro do ano passado na varanda de uma residência na localidade do Monte. O atraso no despacho, conta o nosso interlocutor, impediu a PJ de localizar, na altura, a suposta progenitora e com o passar do tempo, essa possibilidade ficou ainda mais remota. A Polícia Judiciária também continua sem conseguir avançar com o caso de investigação da morte de um casal de idosos, supostamente assassinados dentro da sua residência, em Madeiralzinho, no dia do Carnaval.
Segundo a nossa fonte, a PJ tem algumas suspeitas para serem localizadas e interrogadas, mas para avançar com os trabalhos precisamos da bendita autorização do Ministério Publico o que tem retirado a autonomia à policia cientifica, causando um certo desgaste.
Os crimes que mais avançam na PJ em São Vicente relacionam-se com casos de apreensões de estupefacientes, muitas vezes em circunstâncias pontuais dentro do flagrante delito. “Havendo suspeitos para serem investigados verifica-se esse mesmo desgaste”, sublinha a fonte.
Nos casos de flagrante, a frustração da PJ prende-se com o facto de depois de realizado todo o trabalho de investigação e apresentação os suspeitos ao Tribunal, estes muitas vezes são colocados em liberdades com a possibilidade de voltarem à prática do mesmo crime.
Outros constrangimentos
Além da falta de autonomia a Polícia Judiciária em São Vicente não dispõe de um núcleo de laboratório de investigação criminal e outros meios técnicos nomeadamente equipamentos de escutas para investigar o crime organizado.
A falta de um medico legista em São Vicente também é outro "grande" constrangimento enfrentado pela polícia científica na ilha, que fica em quase todas as situações dependente da disposição dos médicos da Praia ou do Fogo para se poder recolher os dados das autopsias. Constrangimento que também afecta as famílias das vítimas.
Estas preocupações da PJ também já tinham sido discutidas, no inicio deste mês, com os deputados nacionais do PAICV, eleitos por São Vicente, durante as recentes jornadas parlamentares, tendo ficado a promessa de a questão ser debatida na próxima sessão da Assembleia Nacional no final deste mês.