O arguido Rui Correia, que esta semana confessou ter participado no atentado contra o ex-presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos, acusou hoje, em sede do julgamento, que o procurador da República, Nilton Moniz, foi quem lhe entregou uma lista com nomes dos demais suspeitos que deveria apontar como elementos dessa operação. O procurador não conseguiu negar a acusação e ainda viu a estupefação na cara dos presentes quando um video das câmaras de vigilância com imagens dos suspeitos visionado na sessão não conseguir identificar nem provar que eram os indivíduos em julgamento que estavam na referida gravação e na cena do crime.
Um incidente grave ocorreu esta quinta-feira, 9, durante a audiência de julgamento do caso do atentado a tiro contra o então presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos, no dia 29 de Julho de 2019, por volta das 5h30 quando chegava a um ginásio para o seu treino matinal.
O arguido Rui Santos Correia, que na terça-feira, 7, havia confessado a sua participação na emboscada para atentar contra o então presidente da CMP, mas garantindo que não foi ele o atirador, surpreendeu hoje tudo e todos no Tribunal da Praia ao acusar directamente o procurador da República no processo de o ter enganado para contar uma versão supostamente criada pelo próprio representante do Ministério Público.
Segundo Correia, quando ainda estava detido na Polícia Judiciária, o procurador Nilton Moniz dirigiu-se pessoalmente à sede daquela corporação, em Achada Grande, e lhe apresentou uma lista com uma série de nomes que ele, Rui Correia, deveria apontar como elementos da organização que visava, alegadamente, assassinar o ex-autarca da Praia.
O arguido disse, perante a atenção do juiz Alcides Andrade, do próprio Nilton Moniz e dos demais presentes, que o referido magistrado do Ministério Público prometeu-lhe que não iria sair prejudicado, dando-lhe ainda garantias de que não seria preso, em momento algum. Razão por que terá então aceitado alinhar na proposta de Nilton Moniz.
A acusação causou um enorme espanto a todos, incluindo Moniz que não conseguiu sequer negar a estória, ficando por uma velada ameaça a Correia, sobre uma eventual acção judicial. E mais nada.
O juiz Alcides Andrade reconheceu a gravidade das acusações proferidas pelo arguido, mas voltou a ser surpreendido com novas revelações de um segundo arguido, que apontou o dedo também ao procurador Nilton Moniz, dizendo-se traído porquanto na altura em que estava detido nas instalações da PJ, o magistrado teria ido conversar com ele mas identificando-se como inspector da Judiciária. Situação anómala já que o procurador não pode, em circunstância alguma, entrar na sede da Polícia Judiciária e interrogar suspeitos detidos.
Para o dia ficar ainda mais de perna para o ar para o Ministério Público, um video com gravação das imagens das câmaras de vigilância que seriam provas materiais da participação do grupo na operação Óscar Santos foi posto a rodar dentro do Tribunal, mas, para estupefação de todos, as imagens não conseguem identificar nenhum dos suspeitos em julgamento do atentado contra o ex-edil e actual governador do Banco de Cabo Verde.
Ou seja, quem aparece nas imagens não tem semelhanças físicas com nenhum dos suspeitos, um revés que poderá ser aproveitado pela defesa dos cinco arguidos quando a audiência de julgamento for retomada no próximo dia 27 de Março.
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