O politólogo Daniel dos Santos defende “mudanças profundas” no sistema eleitoral, retirando o monopólio de representação aos partidos no Parlamento.
Na perspectiva deste analista, desbloqueadas as listas dos candidatos a deputados, estas ficariam em aberto para os eleitores a alterarem caso o entendam.
“A realizarem-se, estas reformas terão o condão de fazer com que a «metáfora do espelho» se reflicta, em verdade, no Parlamento, ou seja, este passará a ser a foto da sociedade e não a de partidos”, comentou, acrescentando que, deste modo, se passará a ter um “Parlamento de deputados e não de partidos como até agora tem acontecido”.
Aquele analista político fez estas observações ao ser abordado pela Inforpress sobre o recente estudo da Afrosondagem em que 75% (por cento) dos inquiridos disseram estar “insatisfeitos” com o funcionamento da democracia no país.
“Estamos em presença de um fenómeno ou de uma síndrome – a desafeição/desconfiança política – que atinge quase todas as democracias da terceira vaga de Samuel Huntington, melhor dito, as que surgiram depois do golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 em Portugal”, anotou o comentador político.
Segundo ele, o facto de 75% dos inquiridos não estarem satisfeitos com o funcionamento da democracia não o espanta, embora, diz, o deixe “preocupado visto que nada está a ser feito para contrariar a situação”.
“E, caso persista por mais tempo, reflectir-se-á, com certeza, na qualidade e na imagem da nossa democracia, já de si muito beliscada por mor de muitos problemas que a impedem de consolidar”, observou Daniel dos Santos.
Para ele, a exemplo de outras democracias, a de Cabo Verde também passa pelo chamado «paradoxo de Dahl», segundo o qual “a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas tem conhecido um declínio significativo, mas, ao mesmo tempo, os mesmos cidadãos expressam níveis elevados de apoio à democracia como um sistema”.
De acordo com o resultado do estudo da Afronsondagem, prossegue Daniel dos Santos, os cabo-verdianos, na sua grande maioria, apoiam a democracia, “mas não confiam nos partidos, no Governo, no Parlamento e nas outras instituições”.
“É bem evidente que o problema afecte a classe política e a interpele, ainda que assobie para o lado esquerdo ou para o direito”, diz o analista que se mostra “confortado” por saber que 70% dos cabo-verdianos acham que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo.
“Mas desconforta-me aceitar que 22% aprovam um Governo de militares, 16% são favoráveis ao monopartidarismo, 9% sufragam a ideia de extinguir o Parlamento, propondo, em alternativa, que o poder fique apenas nas mãos do primeiro-ministro”, aponta o analista, acrescentando que se trata da opinião de uma minoria que deve chamar a atenção de todos, “porque nada impede que amanhã vire maioria”.
Na sua opinião, o referido estudo de opinião só vem confirmar que os “sentimentos de insatisfação com a democracia, a desafeição politica, a apatia, o cinismo e a impotência política vieram para ficar a par da desconfiança dos cidadãos nas instituições representativas.
Para melhorar a relação dos eleitos com os eleitores, assim como este estado de coisas, segundo ele, impõe-se que a classe política tenha a “coragem suficiente para repensar a representação com todas as consequências que daí provenham”.
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