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Estado da Nação: "País vai a debate sem ouvir franja importante da sociedade"
Política

Estado da Nação: "País vai a debate sem ouvir franja importante da sociedade"

O país vai a debate nesta sessão plenária de Julho, que começa hoje, sem que uma franja importante da sociedade civil fosse escutada, através da Plataforma das ONG, mas o seu presidente, Jacinto Santos, espera uma discussão com a “máxima objectividade possível”.

“Espero que seja um debate esclarecedor sobre os grandes dossiês que, neste momento, têm suscitado debates a nível da sociedade, através das redes sociais e órgãos de comunicação social e partidos políticos, precisou Jacinto Santos, líder da Plataforma das Organizações Não-Governamentais, que integra centenas de organizações da sociedade civil cabo-verdiana.

Jacinto Santos fez estas considerações em entrevista à Inforpress, a propósito do debate sobre o Estado da Nação a realizar-se na próxima sexta-feira, conforme a agenda desta sessão plenária.

Para o presidente da Plataforma das ONG, há “dossiês quentes”, como os transportes inter-ilhas, para o exterior, que devem ser debatidos porque podem, diz ele, “condiciona o futuro do país e o rumo da própria governação”.

Reconhece que “não é fácil” reestruturar o negócio no sector comercial da aviação civil, mas que tem havido “muitos ruídos”, além de “défices na prestação do serviço” e “muitos desencontros”, com a “comunicação politica” a acusar um “défice no sentido de não ter contribuído para apaziguar  e induzir confiança nas pessoas e nos operadores económicos”.

“Não se pode continuar a debater este sector (transportes) em função daquilo que foi feito antes e daquilo que está sendo feito. Tem que ser feito na perspectiva do futuro, claro, com dificuldades que são normais de um país como Cabo Verde em que nem tudo que se pensa e se desenha tem a possibilidade de concretizar”, sublinhou Jacinto Santos, acrescentando que a concretização de muita coisa “depende de factores externos, recursos,  competência técnica e  ambiente de negócios favorável”.

Na sua perspectiva, um outro “dossiê quente”  que o país apresenta tem a ver com a problemática da segurança que, de acordo com as suas palavras, “está a ser trabalhada com algum resultado”, mas tem se desviado do essencial,  “transferindo este debate para o confronto sindicato dos policiais com o comando da Polícia e sindicatos versus Governo”.

“Num país democrático, a tranquilidade dos cidadãos passa pela tranquilidade que possa existir nas forças de segurança, nomeadamente a polícia de ordem pública”,  declarou Jacinto Santos, para quem é preciso “criar um ambiente psicológico favorável à corporação e um ambiente político favorável a muito diálogo e, sobretudo, para não criar insegurança provocada pela crispação existente no seio da corporação policial”.

Para ele, não obstante a existência de situações complicadas, deve-se também  congratular-se  com “aspectos importantes” que têm a ver com “projectos estruturantes e com financiamentos já engajados que mostram que o país está numa boa direcção”.

Espera um “debate sereno” caracterizado por uma “postura elevada, com muita pedagogia” para que não seja um “debate em relação ao qual já estamos habituados”, ou seja, em que a realidade cabo-verdiana é “definida em função da posição dos partidos”.

“Acho que a sociedade cabo-verdiana vai para além dos partidos”, enfatizou o homem que foi um dos  fundadores do Movimento para a Democracia (MpD), em 1991, mas hoje, como costuma dizer, é um “reformado” da política activa.

Sugere que o debate sobre o Estado da Nação tenha em conta as “inquietações, as críticas e as opiniões da sociedade, porque, prossegue, os “partidos emergem da sociedade e, por isso, não podem ignorar sinais, como manifestações e tudo que envolve a situação actual e o futuro do país”.

Quando se lhe pergunta se acha que o caso de pessoas desaparecidas em Cabo Verde, com o fim trágico da Edvânea Gonçalves, a menina de dez anos, de Eugénio Lima, vai ser um dos temas do debate entre os sujeitos parlamentares, o presidente da Plataforma das ONG responde nesses termos: “Não gostaria que este assunto fosse discutido da forma como tem sido até ao momento. Trata-se de uma questão muito melindrosa, suscita muita sensibilidade, interfere com sentimento de perda, dor e sofrimento. Preferia que fosse uma espécie de declaração política, unindo todas as forças políticas à volta de um combate sistemático, sério e objectivo para que as investigações cheguem a bom porto, sem suscitar dúvidas ou desconfiança em relação a métodos utilizados e resultados alcançados”.

“Os especialistas sabem que a percentagem de encontrar vivas as pessoas desaparecidas, em toda a parte do mundo, infelizmente, as estatísticas não são favoráveis para as famílias afectadas”, indicou, ajuntando que o “país  tem que apostar seriamente na área da investigação e segurança”, já que hoje o tráfico de órgãos humanos, depois da droga, é o negócio mais rentável que existe”.

Jacinto Santos afirma que não gostaria que os políticos  continuassem o debate sobre o desaparecimento de pessoas, “expondo as famílias e levando-as para uma situação de depressão e sofrimento”.

Instado se espera um debate sobre o Estado da Nação diferente dos que os cabo-verdianos têm  presenciado até ao momento, aquele responsável é peremptório ao dizer que é “inevitável” que aquela discussão “não espelhe a perspectiva de cada partido”.

“Cada partido analisa o Estado da Nação em função do seu projecto político para a sociedade e em função da sua ideologia para o desenvolvimento”, conclui.

Com Inforpress

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Redação