Crise. Comissão Política do PAICV rejeita Luis Pires para liderança do Grupo Parlamentar
Política

Crise. Comissão Política do PAICV rejeita Luis Pires para liderança do Grupo Parlamentar

Luis Pires, candidato único à presidência do Grupo Parlamentar do PAICV apoiado pela ala janirista, não passou na Comissão Política Nacional do partido reunida na noite de ontem, 6. Com 14 votos contra, sete a favor e uma abstenção, a CPN “vingou” o chumbo pelos deputados de Démis Lobo, aprovado então por esse órgão partidário por proposta de Rui Semedo. E volta tudo à estaca zero, ou seja, um novo nome vai ser levado à aprovação da Comissão Política e mesmo se passar não é certo que seja aceite pelos seus pares na Bancada Parlamentar, onde o grupo pró-Janira é maioria e prepara um contra-golpe.

A sirene da crise ecoa no PAICV. Como se previra, a Comissão Política Nacional do PAICV desta quarta-feira votou contra a candidatura de Luis Pires para a liderança do Grupo Parlamentar. O deputado foguense, apoiado pela maioria dos deputados que estarão com Janira Hopffer Almada, concorreu sozinho mas teve oposição da CPN, órgão que em Outubro, por proposta do presidente Rui Semedo, escolhera Démis Lobo para ir a votação no Grupo Parlamentar, decisão entretanto posta em causa com a manifestação de interesse de Luis Pires que levaria ao chumbo de Lobo pelos seus pares.

Ontem, a CPN, reunida para aprovar um novo nome, deu de caras com a candidatura de Luis Pires e, como que fazendo valer a “Lei do ex-”, eliminou a proposta com 14 votos contra, sete a favor e uma abstenção entre 22 membros da CPN presentes.

Com este resultado, a CPN, dominada por Rui Semedo, corta (de novo)pela raiz uma candidatura oriunda da ala afecta a Janira Hopffer Almada, ex-presidente do PAICV que o actual líder tambarina acusou de estar a interferir no processo para a escolha do novo presidente do Grupo Parlamentar em substituição do demissionário João Baptista Pereira. Só que este "acto de orgulho" acentua a crise interna com o partido claramente rachado ao meio, de um lado os que estão com a actual direcção liderada por Rui Semedo e do outro os apoiantes de JHA, que mesmo sem anunciar uma eventual candidatura à liderança do partido, dá sinais incamufláveis de estar a pavimentar esse caminho.

O processo de eleição do novo líder do GP vai voltar ao início, ou seja, um novo nome será levado à aprovação da CPN (segundo os estatutos deve ser o presidente do partido quem tem essa prerrogativa). Só que, segundo fontes de Santiago Magazine, os deputados que apoiam Luis Pires, preparam desde já a desforra, chumbando, de novo, outra escolha feita por Semedo e que venha a ser aprovada pela Comissão Política. Tudo, atestam as nossas fontes, para precipitar a queda do já fragilizado Rui Semedo (não tem o apoio da maioria dos deputados no principal palco de acção política, o Parlamento).

Ora, isso afunda o PAICV num outro problema: uma terceira via, que seria a solução mais sensata em havendo posições tão antagónicas, parece de difícil parto, na medida em que as duas sensibilidades, após troca de galhardetes uns contra os outros na praça pública (por exemplo, Rui Semedo, praticamente, acusou JHA de destabilizar o processo, o janirista Carlos Tavares, lider da CPR Santiago Sul, reagiu nas redes sociais que os “deputados não são pedras nem vigas” para justificar o voto contra “um candidato imposto” pela CPN), enfrentam dificuldades para sentarem à mesa de negociações e chegarem a um hipotético consenso, viabilizando essa terceira via. Consta que JHA teria recusado reunir-se com Rui Semedo para chegarem a um entendimento, uma posição que não deixa de ser lógica tendo em conta que ela, tecnicamente, não é candidata, o que coloca Semedo numa situação de inferioridade ante a sua suposta adversária. Ao Santiago Magazine, Janira Hopffer Almada disse ter sim reunido com Rui Semedo, logo após o chumbo deDémis Lobo, a pedido do lider tambarina, para uma conversa informal que ocorreu na sala que os dois compartilham no Grupo Parlamentar, daí rejeitar a ideia de recusar encontrar-se com Semedo.

Enfim, o PAICV, partido da ourela do poder, vive um periodo dramático em que se revela incapaz de eleger um líder para a sua bancada parlamentar. O impasse é tal que qualquer um dos deputados que venha a aparecer como alternativa corre o risco de ser visto (ainda que não o seja) como peão do Rui ou da Janira. A neutralidade aqui não se joga.

Nessa árdua tarefa de fintar o impasse e buscar “uma nova aliança” os tambarinas estão a sondar pelo menos quatro nomes: Carla Carvalho, Francisco Pereira, Clóvis Silva e António Fernandes para liderar o Grupo Parlamentar. Qualquer um deles implicará ofertas e cedências. Quem dá o quê, a troco de quê?

 

(Acualizado às 13:43, com a versão de JHA)

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine

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