Mulher, jovem e política, Emeline Mota é presidente da Comissão Nacional de Jurisdição e Auditoria da Juventude do PAICV, a JPAI, e nesta ocasião em que se comemora mais um dia da mulher cabo-verdiana, ela falou com Santiago Magazine sobre a mulher na política, afirmando que “tudo é possível com uma mulher cabo-verdiana”.
Santiago Magazine – Ao longo dos anos, a política é vista como uma atividade dos homens. No entanto, as mulheres foram surgindo aos poucos ocupando este espaço antes reservado aos homens e hoje regista-se casos de sucessos e países onde esta questão já é assunto arrumado. A nossa questão é: como é que se sente enquanto uma jovem mulher na política.
Emeline Mota - A política …. Digo fazer política de verdade e com coração é algo nobre e bonito. É algo fascinante e que eu quanto jovem e mulher gosto e muito. Sou militante do PAICV desde de 2012, desde então tenho vindo a dar o meu contributo possível para o partido. Como jovem e mulher sinto que tenho o dever de contribuir para desenvolvimento do meu país. Uma das formas é através da intervenção político-partidária, onde posso sugerir e fazer críticas construtivas. Eu, pessoalmente defendo que os jovens cabo-verdianos precisam sair das redes sociais com críticas negativas e sim participar activamente na vida política. Seja alinhando nas estratégias dos diferentes partidos em Cabo Verde ou através de outras formas de fazer política. Acredito que todos nós, enquanto jovens, podemos contribuir para o desenvolvimento das nossas ilhas. Norberto Tavares falou e bem que cada um de nós tem que ser um “Cabral” e para não esperarmos só para o estado. Confesso que sinto-me muitas vezes um pouco frustrada quando vejo atividades com salas vazias, onde os jovens podiam participar e dar o seu contributo, expor suas ideias.
É uma das várias mulheres da JPAI, ocupando cargo de muita responsabilidade na organização. Qual a importância da participação das jovens mulheres numa juventude partidária?
Acredito que a JPAI tem dado um grande exemplo no capítulo da participação política da jovem mulher e principalmente na assunção de cargos de responsabilidade dentro da organização. Actualmente tenho o nobre desafio de ser a Presidente da Comissão Nacional Jurisdição e Auditoria da nossa organização. Este é o órgão que fiscaliza as actividades desta organização numa total independência e separação clara de poderes, que igualmente é também um grande ganho na consolidação da democracia e fortalecimento interno da JPAI.
Ainda a nível nacional temos mais jovens mulheres neste desafio: As Camaradas: Luana Jardim Vice-Presidente, Neima Monteiro Secretária-Geral, várias outras jovens mulheres assumem pastas dentro do secretariado nacional bem como muitas outras que são parte da Comissão Nacional da JPAI. A nível das estruturas concelhias temos 3 jovens mulheres presidentes e ainda assim temos mais uma que lidera um núcleo da diáspora.
Apesar que temos estado a cumprir o desafio que propusemos na nossa moção de candidatura no que tange a participação das mulheres, no entanto, acredito que é possível que façamos mais para obtermos um maior equilíbrio de género possível, mas claro sem descuramos dos critérios da meritocracia. Ë fundamental que desde agora a nossa organização possa dar esse exemplo e o seu contributo face a necessidade evidente em termos igualdade de género nos cargos políticos em Cabo Verde. Há uma clara necessidade de se ter uma maior representatividade das mulheres nos órgãos de decisão no país.
Os críticos e muitas vozes correntes dizem que as mulheres em Cabo Verde ainda são muitas vezes preteridas e não lhe são dadas as mesmas oportunidades na nossa sociedade. Como poderemos inverter este cenário para as mulheres cabo-verdianas nos diferentes quadrantes do nosso quotidiano?
As mulheres em Cabo Verde ainda têm algumas dificuldades em ocupar e a aceder a cargos de poder, de serem propostas para listas, ou de serem eleitas e com voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Obviamente que este cenário tem vindo a melhorar…apesar dos retrocessos evidentes nestes últimos tempos, quando a maioria dos cargos de decisão ainda são ocupados pelos homens.
Contudo, para a melhoria deste cenário as mulheres devem ser mais proativas, mais participativas, reivindicativas, que lutem pelos seus direitos com coragem e que nunca subestimem a sua capacidade. Há um facto muito importante no quotidiano da mulher cabo-verdiana: esta pode ocupar o mais alto cargo numa empresa ou Instituição Publica mas esta ainda tem a responsabilidade de chefiar uma família, cuidar dos filhos e das atividades domesticas e isso demostra claramente a capacidade e a força de vontade das nossas mulheres. A mulher cabo-verdiana tem muita força, assim ela pode estar onde ela quiser, ser filha, mãe, avó, esposa, advogada, professora, e até ser a Primeira-Ministra ou Presidente deste nosso país…. Tudo é possível com uma mulher cabo-verdiana.
Mas acredito que a proposta da Lei de Paridade cuja a Federação das Mulheres do PAICV teve um papel importantíssimo será um grande ganho Cabo Verde caso vier a ser aprovada pelo parlamento cabo-verdiano.
A juventude é força de qualquer país, sobretudo aqui em Cabo Verde onde esta camada constitui da maioria da população. Como jovem e mulher que avaliação faz as políticas públicas para juventude do Governo de Ulisses Correia e Silva?
Atualmente Cabo Verde conta com uma população maioritariamente jovem, com um bom número de quadros médios e superiores e, também, com outros menos qualificados, sobretudo no meio rural que se dedicam à agricultura, ao pastoreio ou à pesca. O país continua com uma alta taxa de desemprego jovem, principalmente nos grandes centros urbanos do país e tivemos um agravamento do desemprego no meio rural devido à seca que resultou num mau ano agrícola. Há muitos jovens empregados em condições precárias e claramente não há uma visão do que se quer para os jovens deste país. Em Cabo Verde, ultimamente, muito tem-se falado em programas para jovens empreendedores, muitos fóruns, Workshops, Start-Up jovem, protocolos, enfim muita coisa que ainda os jovens não conseguiram beneficiar dos mesmos na prática….há muita burocracia para se conseguir estes tais incentivos para que os jovens possam sim executar as suas ideias. Os jovens precisam de políticas públicas com capacidade de uma rápida resposta as suas expectativas. A problemática do desemprego jovem em Cabo Verde vai ser sempre um grande desafio dos sucessivos governos, pelo que a aposta tem que ser criar incentivos reais e de acesso rápido para que os jovens possam encontrar formas próprias de adquirir rendimentos para o seu auto sustento. As vozes que vêm das ruas já fazem-se sentir qual a constatação e avaliação que pode ser feita ao Sr. Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e o seu governo. Não se tem cumprido com discurso eleitoral. A um sentimento de desilusão dos jovens cabo-verdianos aqui e na diáspora. A Juventude ainda não sentiu na prática as melhorias que este executivo tanto prometeu. Depois da vitória nas últimas eleições, já lá vão de 3 anos de mandato e as promessas e os compromissos com a nossa juventude simplesmente foram esquecidos.
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