Somando já milhões de escudos de prejuízos em mercadoria, comerciantes da Praça Estrela, em São Vicente, combatem, com a ajuda das famílias e da população, a lama e o pó, apelando a um “djunta mon” da sociedade cabo-verdiana.
Antes mesmo de poderem terminar as ações de limpeza nas barracas, a lama secou na maior praça de comércio informal de São Vicente que, uma semana atrás, como aconteceu em toda a ilha, foi inundada por águas e lama provocadas pela tempestade Erin.
Mamadou Barry, ou Sheriff, um nome adotado há mais de vinte anos, quando chegou a Cabo Verde, é o proprietário das barracas 62 e 63. Este imigrante da Guiné Conacri relatou à Inforpress o “cenário desolador” que encontrou nas barracas após a tempestade.
“A água já tinha deixado o espaço, mas dava para ver que chegou acima de um metro e alcançou as prateleiras. Tudo o que estava em baixou ficou tomado e o nosso problema desde então não é a água, é a lama”, disse Sheriff.
No início, os comerciantes lançaram fora tudo o que tinha sido afetado pela lama, no entanto, agora, tentam recuperar alguma mercadoria. “Algumas pessoas se desfizeram de mais de metade das mercadorias, porque não pensávamos que daria para lavar alguns dos produtos”, acrescentou Mamadou Barry.
Muitos ficaram sem nada
Segundo o senegalês e coordenador da Plataforma das Comunidades Africanas no Mindelo, Elhadji Sow, mesmo sem ter feito ainda um balanço muito preciso, “houve milhões em danos, e muitos ficaram sem nada”.
Ainda segundo o coordenador da plataforma, que é também artesão e funcionário do espaço, um cenário destes ainda só tinha assistido em filmes e na televisão.
“Há muitos anos que estamos na Praça Estrela e tivemos já estragos com a chuva, mas nada que se comparasse ao que aconteceu no dia 11 deste mês”, garantiu Elhadji Sow, que há 18 anos reside em Cabo Verde.
Sow espera que haja um “djunta mon” do povo cabo-verdiano, da comunidade africana residente em Cabo Verde e que sejam implementadas políticas públicas para minorar as perdas sofridas.
Perda total de mercadoria
A Praça Estrela, é um local de venda informal com 41 barracas, onde coabitam várias comunidades africanas, inclusive a cabo-verdiana, embora em menor número.
Mintinha Almeida, mais conhecida por Mintinha da Praça Estrela, uma cabo-verdiana com barrada de venda há mais de vinte anos, garante ser a primeira vez que enfrenta tais perdas.
“Na segunda-feira da semana passada, cheguei no local de trabalho, mas não consegui abrir a porta. Fomos para casa e, no dia seguinte, viemos limpar a lama”, disse a comerciante, sublinhando que houve perda total da mercadoria.
Contando com a ajuda da família para limpar a barraca, há semelhança da maioria dos comerciantes da Praça Estrela, não tem qualquer noção do volume do prejuízo causado pela intempérie, diz que esse “é o nosso pão de cada dia” e salienta que “com eventos da natureza não se brinca”, esperando a “ajuda” do Governo. Um grito de ajuda que estende a “toda a sociedade”, mas não perdendo a esperança em dias melhores.
Recordamos que os estragos causados pela passagem da tempestade Erin levaram o Governo declarar situação de calamidade por seis meses em São Vicente, Porto Novo (Santo Antão) e nos dois concelhos de São Nicolau, ao mesmo tempo que foi anunciado um plano estratégico de resposta, contemplando apoio emergencial às famílias, mas também às atividades económicas, através da abertura de linhas de crédito com juros bonificados e verbas a fundo perdido.
Para tal, o Governo utilizará recursos do Fundo Nacional de Emergência, criado em 2019 para enfrentar situações de catástrofes naturais ou impactos de choques económicos externos.
C/Inforpress
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