
Cabo Verde não nasceu para ser plateia de ninguém, nasceu para ser obra colectiva, construída por gente digna, que nunca precisou de ordens para erguer o impossível. E digo-o sem hesitação, com a firmeza de quem acredita no país como quem acredita no sangue que lhe corre nas veias, Cabo Verde merece líderes que o sirvam, não actores que o representem. Merece um futuro que não seja promessa, mas construção. Merece respeito, merece verdade e merece grandeza. Porque este povo, que enfrentou mares bravos, secas cruéis e migrações forçadas, não pode ser tratado como figurante de um roteiro escrito por quem se habituou ao conforto do poder. Este povo é herança e é destino. É raiz e é horizonte. É força que não se dobra. E quando um povo assim desperta, não há propaganda que o distraia, não há silêncio que o cale, e não há medo que o detenha.
Há dias em que olho para o país e vejo menos política e mais coreografia. Uma dança cansada entre quem promete salvamentos que nunca chegam e quem se perde em disputas tão pequenas que chegam a envergonhar a própria ideia de oposição e de governação. Vivemos num clima austero, sufocado pelo barulho de pré-campanha, onde cada tragédia vira palco e cada dor vira bandeira. E confesso, há momentos em que me pergunto se ainda estamos a falar de Cabo Verde ou de um teatro mal ensaiado, onde ninguém sabe o texto mas todos querem protagonismo.
Do lado do Governo, permanece aquilo que já se tornou hábito, a reciclagem meticulosa de narrativas. Dizem que está tudo bem, que o país segue no bom caminho, que as dificuldades são conjunturais e que o progresso é visível a olho nu. No entanto, basta olhar com honestidade, sem filtros partidários, para perceber que esta autoconfiança não resiste a um confronto sério com a realidade. Se estivéssemos assim tão bem, não haveria tanto medo de prestar contas nem tanta pressa em falar de tudo menos dos assuntos essenciais.
Mas há um outro lado, menos ruidoso e mais determinante: o campo da oposição. E dentro desse campo existem forças políticas que, apesar do barulho que as rodeia, têm mostrado capacidade real de se afirmar como alternativa ao ciclo de poder que governa o país há quase uma década. Não são a caricatura frágil que alguns tentam fabricar, mas sim espaços de renovação, debate e responsabilidade, onde se trabalha para construir caminhos diferentes para 2026.
Num contexto em que o Governo se apoia na gestão da percepção e na narrativa fácil, há quem esteja a preparar propostas, a estruturar soluções e a encarar as próximas legislativas com sentido de responsabilidade. E é precisamente essa capacidade de renovar, de debater e de se reorganizar que incomoda o poder instalado. Porque a verdadeira pergunta não é se a oposição tem condições para governar; a verdadeira pergunta é se o país tem condições para continuar a adiar a mudança que se tornou inadiável.
Entretanto, multiplicam-se sondagens artesanais nas redes sociais, feitas ao sabor das emoções partidárias, sem rigor, sem método e sem ética, mas partilhadas com a convicção de quem apresentou um estudo científico. E o país assiste, desconfiado. Porque no meio deste ruído todo não há linhas orientadoras, não há visão de longo prazo, não há projectos estruturantes que digam ao cabo-verdiano comum para onde vamos, com que recursos, com que prioridades e com que consequências.
A verdade é esta, e dispensa ornamentações. Cabo Verde está a normalizar a opacidade. Já quase não estranhamos a ausência de relatórios. Já quase não estranhamos a falta de responsabilidade política, não estranhamos que cada tragédia seja transformada em instrumento de campanha, e não estranhamos que qualquer crítica seja tratada como ataque pessoal.
O anormal virou normal. E quando o anormal se torna rotina, o povo habita a desconfiança como quem se abriga da chuva.
Recuso este encolher de ombros que se instalou no país, esta normalização da mentira, esta rendição disfarçada de maturidade, esta política que pede silêncio quando devia exigir coragem. Recuso o teatro, a encenação, o medo e a resignação.
Cabo Verde não nasceu para ser plateia de ninguém, nasceu para ser obra colectiva, construída por gente digna, que nunca precisou de ordens para erguer o impossível. E digo-o sem hesitação, com a firmeza de quem acredita no país como quem acredita no sangue que lhe corre nas veias, Cabo Verde merece líderes que o sirvam, não actores que o representem. Merece um futuro que não seja promessa, mas construção. Merece respeito, merece verdade e merece grandeza.
Porque este povo, que enfrentou mares bravos, secas cruéis e migrações forçadas, não pode ser tratado como figurante de um roteiro escrito por quem se habituou ao conforto do poder. Este povo é herança e é destino. É raiz e é horizonte. É força que não se dobra. E quando um povo assim desperta, não há propaganda que o distraia, não há silêncio que o cale, e não há medo que o detenha.
Por isso, sim, quero um país que se olhe ao espelho sem desviar o olhar; quero um país que reencontre a sua voz, a sua coragem, a sua dignidade. Quero um Cabo Verde onde governar volte a significar servir. E se isso incomoda, melhor ainda. A verdade nunca foi confortável.
E digo isto como quem deixa um desafio no ar e uma mão firme sobre o peito, Cabo Verde, LEVANTA-TE! O futuro não se mendiga, conquista-se.
FORTE APLAUSO
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