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Selecção tropeça no arranque ao CAN 2019. Mas que (U)ganda fiasco!
Desporto

Selecção tropeça no arranque ao CAN 2019. Mas que (U)ganda fiasco!

 

Exibir dentes afiados não serviram para nada ao tubarão ante um adversário pastilha elástica – encolhia-se e estendia-se no relvado astutamente. E foi Cabo Verde a levar uma mordida de três pontos.

O jornalista da RTC, Benvindo Neves, avisara no facebook na noite de sábado: o Uganda e a CAF teriam passado a perna a Cabo Verde bem antes do apito inicial, com uma narrativa bem contada pelos dirigentes africanos de que o avião que trazia os Cranes à Praia a partir de Dakar tinha avariado, obrigando a que a partida fosse adiada para a tarde deste domingo, 11. Astúcia 1, se a suposta história falsa for supostamente verdadeira.

Sim, o Uganda enganou Cabo Verde, de facto. Mas dentro do campo. Poizeeee, era aqui, no relvado do estádio Nacional, em Monte Vaca, que se jogava poker numa imensa mesa verde. O mais cínico que levante o dedo! EUganda.

Os Cranes sabiam ao que vinham, conheciam o potencial de Cabo Verde, o forte apoio do público (!?) e os blá-blá todos. Tão simples como dois mais dois, foi vê-los escondendo-se, na primeira parte, atrás da linha da bola fingindo ser pera doce. Astúcia 2.

Os Tubarões Azuis, incautos sobretudo na segunda metade (biiing, spoiler alert!), agradeceram para, sedentos de sangue, iniciar o processo de abocanhamento da presa. Era bola para a direita, para a esquerda, por cima e invariavelmente pelo meio onde além do mato de pernas ugandeses que atrapalhava as investidas crioulas nos espaços que iam aparecendo, desapareciam os médios ofensivos em high heels a tentar mascar, num frenesi, pastilhas elásticas com dentes incisivos.

A maior posse de bola de Cabo Verde na etapa inicial (bem, acabou sendo durante todo o jogo) originou alguns bons ataques mas que não deram golos. Os Tubarões Azuis partiram para cima do adversário mas não causaram estragos nem ferimentos ainda que leves. Porque o Uganda decretou ser chewing gum e não carne, colava-se à parede, mas tão rápido esticava-se até à baliza de Vozinha. Ameaçava, também.

E como é que se masca pastilha elástica com dentes feitos para morder, cortar e imobilizar a presa? Não dá. Solução? Ora, basta mudar de estratégia: usar os molares, armando o jogo de trás para a frente, obrigando a presa a tirar a cabeça de fora e zás, o golpe fatal. O ataque continuado e atabalhoado (esse é o problema dos saltos altos em estradas calcetadas) urdido pelo seleccionador Lúcio Antunes esbarrava aí.

Cabo Verde demorou a perceber isso, como ficou evidente com a substituição operada no arranque da segunda parte com a entrada de Ryan Mendes e Heldon, descurando o meio-campo defensivo. Era aqui que o processo de transição falhava. Foi aqui que surgiu uma auto-estrada para os Cranes circularem a bola, enviarem para esquerda e devolverem ao meio da pequena área onde o veterano Geoffrey Sserenkuma apareceu para fazer história – marca pela segunda vez a Cabo Verde em três jogos já disputados entre os dois países. E pronto, 0-1.

Agora é sarar esta ferida de três pontos e molar os dentes para a próxima jornada que será fora de casa contra o Lesoto. O Uganda, lider do grupo L, irá então receber a Tanzânia que, a jogar em casa, não conseguiu mais do que um empate a 1-1 contra o país que faz de coração da África do Sul.

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine