A ausência da oposição e o seu impacto no retrocesso político e social da Ilha do Sal
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A ausência da oposição e o seu impacto no retrocesso político e social da Ilha do Sal

...ao contrário do que temos assistido, a oposição é, e continuará a ser, peça essencial na defesa da democracia e do pluralismo político. Cabe-lhe contribuir ativamente para a construção de uma sociedade mais participativa, onde o debate de ideias, sejam elas partidárias ou de classe, se torne garantia de interesses verdadeiramente democráticos, republicanos e plurais.

A ausência da oposição na Ilha do Sal é um dos principais fatores do não-desenvolvimento da ilha e da origem da maioria dos problemas que nela persistem. Falamos de questões básicas como o saneamento, problemas sociais, a falta de respeito pela conduta municipal e a apresentação de projetos sem qualquer consulta pública ou estudo prévio sério.

Ao não se posicionar, nem exigir esclarecimentos do município, a oposição torna-se cúmplice silenciosa de uma gestão que se sente livre para decidir sem prestar contas. Essa passividade permite que projetos sem utilidade real se tornem parte do quotidiano da ilha, sem que ninguém questione a sua pertinência, custo ou impacto.

Hoje, o Executivo Municiapal não sente obrigação de apresentar planos nem de partilhar a sua visão de médio ou longo prazo para a ilha. Ninguém sabe quais são as prioridades da Câmara, nem quais as estratégias para o desenvolvimento em qualquer área.

Exemplos não faltam. Veja-se o caso dos centros de juventude: em menos de um quilómetro, foram anunciados projetos para Hortelã de Cima, Ribeira Funda e Alto Santa Cruz. Inaugurou-se um Espaço Jovem em Santa Maria e, em pouco tempo, lançou-se outro concurso para um centro de juventude. Sem planeamento, sem coerência e mais uma vez sem que a oposição diga uma palavra.

O caso da venda de bilhetes para o festival municipal foi ainda mais gritante: um episódio de aparente burla que passou em silêncio, sem qualquer exigência de explicações. A mesma omissão se repete no processo de asfaltagem das ruas, feito sem transparência, sem que ninguém saiba quais foram as ruas escolhidas nem os critérios usados.

O vice-presidente da Câmara chegou a justificar o projeto com argumentos frágeis, revelando desconhecimento e uma gestão movida apenas por interesse político, o de manter-se no poder e a oposição omitiu o seu papel pedagógico na sociedade.

A oposição, com o seu silêncio, entrega ao atual executivo uma carta branca para governar sem escrutínio. E esse silêncio tem custos: uma ilha cada vez mais degradada, um destino turístico a perder brilho, prostituição infantil em Santa Maria e uma comunidade a viver sem rumo, à mercê da vaidade política e da ausência de visão.

Mas a oposição poderia, e deveria, ter um papel muito mais pedagógico junto da sociedade. Em vez de assistir em silêncio, deveria esclarecer os cidadãos sobre os seus direitos e, ao mesmo tempo, sobre as obrigações do Executivo Municipal. Esse trabalho de esclarecimento seria essencial para formar uma sociedade mais consciente, mais crítica e menos dependente do discurso demagogo.

Uma população informada exigiria transparência, cobraria resultados e participaria com mais sentido de responsabilidade na vida pública. Ao promover essa consciência cívica, a oposição ajudaria também a revelar um outro tipo de desenvolvimento, que não se mede apenas pelo betão, mas pela dignidade das pessoas e pela qualidade das decisões políticas.

Só é possível testar e avaliar a coerência e a qualidade de uma proposta se pudermos compará-la com outras e, nesse sentido, a missão crítica da oposição é fundamental para a saúde de qualquer sociedade democrática.

A ausência dessa missão crítica tem contribuído, e continua a contribuir, para o ostracismo político na Ilha do Sal. Vivemos num contexto em que o Executivo ignora por completo a sociedade, não se sente obrigado a fornecer dados, nem a submeter projetos à consulta pública. É um poder que governa sem escrutínio e sem transparência, porque a oposição desistiu de ser o seu contraponto.

Assim, ao contrário do que temos assistido, a oposição é, e continuará a ser, peça essencial na defesa da democracia e do pluralismo político. Cabe-lhe contribuir ativamente para a construção de uma sociedade mais participativa, onde o debate de ideias, sejam elas partidárias ou de classe, se torne garantia de interesses verdadeiramente democráticos, republicanos e plurais.

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