Líder da oposição vítima de 'fake news' defende justiça mais célere
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Líder da oposição vítima de 'fake news' defende justiça mais célere

A líder do maior partido da oposição cabo-verdiana, alvo de uma fotomontagem em que o seu rosto aparecia numa imagem pornográfica, defende maior celeridade da justiça nos casos em que as ‘fake news’ visem denegrir a imagem das vítimas.

“Quem está na vida pública e política é sujeito a várias desinformações com motivações bem concretas e objetivos muito bem definidos. Tenho sido vítima de várias ‘fake news’ que pretendem sempre fragilizar-me”, disse Janira Hopffer Almada, em entrevista à agência Lusa sobre a realidade das ‘fake news’, a propósito da conferência que a agência e a Efe vão realizar no dia 21 de fevereiro, em Lisboa, sobre “O Combate às Fake News - Uma questão democrática”.

A presidente do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV) recordou o caso mais conhecido que a envolveu e que ocorreu em outubro do ano passado, altura em que uma fotomontagem de uma imagem pornográfica com o seu rosto começou a circular nas redes sociais.

“O fato mais conhecido é a fotomontagem pornográfica que utilizou a minha face com o objetivo de denegrir a minha imagem e afetar o meu nome”, disse, sobre a realidade das ‘fake news’, a propósito da conferência que a agência e a Efe vão realizar no dia 21 de fevereiro, em Lisboa, sobre “O Combate às Fake News - Uma questão democrática”.

Janira Hopffer Almada referiu que um ato desta natureza “tem sempre consequências na vida familiar, na vida privada, sobretudo para quem tenha filhos, pais, porque afeta”.

“Não fiquei direta e pessoalmente afetada, uma vez que estava de consciência tranquila, porque sabia que não era eu que lá estava, mas não deixa de ser triste saber que, às vezes, há atuações deste nível para unicamente atingir as pessoas”.

Sobre o alegado objetivo de denegrir a líder o PAICV, Janira acredita que o mesmo não terá sido atingido, talvez por a sua reação ter sido “muito célere”.

“O efeito pretendido, que era denegrir-me e até afetar-me, acabou por ter o afeito contrário. Tive uma grande onda de solidariedade, não só em Cabo Verde, mas um pouco por todo o lado”, disse, acrescentando: “Recebi mensagens de apoio e solidariedade de várias pessoas, amigos, camaradas, de várias pessoas que estão na política”.

Essas mensagens, contou, diziam sobretudo para não se deixar abalar, “sobretudo por ser mulher”.

“Não foi uma ofensa a mim, Janira, líder do maior partido na oposição em Cabo Verde. Acho que foi sobretudo uma agressão contra a imagem da mulher e da mulher na política”, adiantou.

E sublinhou: “Muitas mulheres, e eu senti isso nas eleições de 2016, ficam por vezes reticentes em entrar na vida política ativa exatamente para não se sujeitarem a estes episódios”.

Apesar do impacto da divulgação desta imagem, Janira acredita que saiu mais forte: “Fiquei fortalecida, fiquei muito mais motivada por saber que esta luta não é só minha. Não estou a lutar para mim, mas também pelas mulheres que têm um grande contributo a dar, mas que muitas vezes não se disponibilizam a dar esse contributo para não colocarem as suas famílias na situação que eu, infelizmente e sem querer, coloquei a minha”.

A presidente do PAICV reconhece que a divulgação das ‘fake news’ tem riscos.

“Muitas têm o objetivo de ludibriar os cidadãos, criar ruído, afetar a credibilidade, denegrir a imagem. No meu caso concreto, talvez por estar na vida política”.

E defende um sistema de justiça que funcione “com maior celeridade”.

“Na altura, apresentei a minha queixa à Comissão de Proteção de Dados Pessoais e ao Ministério Público e estou a aguardar serenamente que as investigações sejam feitas pela polícia científica e que se consiga chegar ao autor desta imagem e às pessoas que a tenham partilhado com má fé”, referiu.

Para Janira, “o ilícito não é só de quem faz a imagem, é de quem a partilha também, porque se há noção clara de que é uma imagem criada com o objetivo concreto e inequívoco de denegrir a imagem, a partilha também não é uma postura admissível”.

“O sistema judicial deve funcionar com celeridade, sob pena de começarmos a confundir a verdade e a mentira, o lícito e o ilícito, e ficarmos com uma sociedade com valores completamente baralhados”, concluiu.

As notícias falsas comummente conhecidas por ‘fake news’, desinformação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros, ganharam importância nas presidenciais dos EUA que elegeram Donald Trump, no referendo sobre o ‘Brexit’ no Reino Unido e nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro.

O Parlamento Europeu quer tentar travar este fenómeno nas eleições europeias do final de maio.

Com Lusa

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