
O Movimento para a Democracia foi o único partido parlamentar a rejeitar um voto de condenação ao golpe de Estado de 26 de novembro. Justificando a posição do partido do Governo, Orlando Dias lembrou que se registaram golpes de Estado em países como Guiné-Conacri, Mali, Níger e outros, sem que o parlamento cabo-verdiano se pronunciasse.
O Parlamento cabo-verdiano rejeitou esta sexta-feira, 19, o voto de condenação ao golpe de Estado na Guiné-Bissau, apresentado pelo PAICV, com 32 votos contra do MpD e 25 a favor, sendo 24 do partido proponente e um da UCID.
Falando em nome do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Rui Semedo lamentou o facto de, depois da tentativa de consensualização do voto de condenação ao golpe de Estado, não se ter conseguido um “entendimento” no Parlamento.
PAICV defende “reposição da normalização da Constituição”
Segundo o deputado do PAICV, o texto visava condenar, por um lado, o golpe de Estado e, por outro, pedir a “libertação" dos presos políticos e da sociedade civil, que se encontram privados de liberdade, após a tomada do poder pelos militares em 26 de novembro.
Ainda segundo Rui Semedo, a intenção do voto de condenação era uma "manifestação de solidariedade” com o povo guineense, mas pretendendo, também, que a Assembleia Nacional expressasse a sua “preocupação” em relação à “integridade física” dos detidos, bem como pela “reposição da normalização da Constituição”, já que a lei magna da Guiné-Bissau foi “suspensa”.
UCID “rigorosamente contra qualquer tomada do poder pela força”
Por sua vez, o deputado da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) António Monteiro justificou o “voto favorável” dos democratas-cristãos à condenação da intentona na Guiné-Bissau, por não pactuarem com golpes de Estado.
“Somos rigorosamente contra qualquer tomada do poder pela força”, afirmou António Monteiro, acrescentando que o poder deve ser assumido perante a “emanação da vontade popular”.
O deputado eleito por São Vicente manifestou-se “extremamente triste”, porque a casa parlamentar cabo-verdiana, que deveria mostrar a sua “solidez democrática”, não conseguiu chegar a um entendimento para condenar o golpe de Estado na Guiné-Bissau, “um país irmão”, sublinhou António Monteiro.
MpD quis evitar “beliscar” a soberania de um outro país
Por sua vez, o deputado do Movimento para a Democracia (MpD) Orlando Dias, sustentou que o grupo parlamentar ventoinha votou contra a proposta apresentada pelo PAICV, porque o seu partido propôs que houvesse um “texto consensual”, mas o maior partido da oposição não quis abrir mão da sua proposta.
“O texto do PAICV, como está, é um texto que toma partido”, disse o porta-voz do MpD, relevando que o mesmo tinha de ser “consensualizado”, para evitar “beliscar” a soberania de um outro país.
Orlando Dias disse, ainda, que se registaram golpes de Estado em países como a Guiné-Conacri, o Mali, o Níger e outros, sem que o Parlamento cabo-verdiano se pronunciasse.
Em Cabo Verde, além do PAICV e UCID, o presidente da República, José Maria Neves, e o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva (que é, também, líder do MpD), condenaram o referido golpe.
C/Inforpress
Foto: Luc Gnago
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