Cultura

“Oração dos Danados”, levado à estampa pela editora Provacultura, é o mais recente livro do escritor tarrafalense Mário Loff, que irá ser lançado no próximo ano, a partir de janeiro, num calendário de lançamentos previstos no arquipélago e na diáspora cabo-verdiana. No entanto, a obra estará disponível nos escaparates das principais livrarias ainda durante este mês de dezembro.

Trata-se de uma colectânias de nove contos que aprofundam temas das vivências cabo-verdianas, entre a memória e o quotidiano, fazendo incursões pela resistência, marginalidade e justiça, num registo de rigor literário e força poética - o universo essencial do percurso de Mário Loff.

Nesta “Oração dos Danados”, a literatura afirma-se como centro narrativo que se entrelaça com símbolos estruturantes: a água, o pão, a prisão, a mulher e a memória, formando um cenário crítico e sensível de um país marcado por feridas históricas, sobrevivência quotidiana e esperança persistente.

É, ainda, espaço de afirmação da centralidade feminina e de comunidades historicamente silenciadas, de onde emerge a figura da badia enquanto sujeito literário e voz coletiva.

Uma escrita que antecipa cenários e lê o tempo histórico

Conforme observou José Luiz Tavares – uma das referências poéticas e intelectuais de Mário Loff, por sinal natural do mesmo chão do autor de “Oração dos Danados” -, “os poetas leem o futuro” e as histórias devolvem dignidade aos esquecidos, transformando a palavra em gesto ético e político. Do Tarrafal-prisão às paisagens de estigma e solidariedade, passando por uma envolvente construção narrativa de Bakanorte (Tarrafal), a obra confirma uma escrita que antecipa cenários e lê o tempo histórico.

Marcada pela oralidade, pelo lirismo, pelo humor e por uma forte dimensão memorial, a escrita de “Oração dos Danados” estabelece diálogo com o legado da Claridade e da literatura do pós-independência, afirmando, simultaneamente, uma voz contemporânea própria no panorama literário cabo-verdiano, diz sobre a obra o antropólogo Manuel Brito-Semedo.

Fundador da Associação Literária do Tarrafal de Santiago (ALTAS) e antigo diretor do grupo teatral Komikus do Tarrafal, Mário Loff construiu um percurso marcado pela intervenção cultural, pela memória histórica e pela convicção de que a literatura é uma forma de libertação, como refere a professora Clementina Evany Furtado, na nota biográfica da obra.