Caso Zezito Denti d’Oru. MP diz que "brevemente" será encerrada a instrução - Principal testemunha foi ouvida pelo FBI
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Caso Zezito Denti d’Oru. MP diz que "brevemente" será encerrada a instrução - Principal testemunha foi ouvida pelo FBI

A principal testemunha do assassinato de Zezito Denti d’Oru por um grupo de operações da Polícia Judiciária liderados à época, supostamente, pelo actual ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, foi ouvida no processo pela Polícia Federal dos Estados Unidos, o FBI, revelou o próprio em declarações ao jornal A Nação desta quinta-feira, 13, dia que se completam oito anos do chamado “homicídio de Cidadela”. O Ministério Público anuncia que “brevemente” haverá um despacho sobre o caso.

Adelino Lopes (Ady), era a única pessoa que presenciou o violento assassinato de José Lopes Cabral (Zezito Denti d’Oru, na foto), no dia 13 de Outubro de 2014, no bairro nobre da Cidadela, Praia. Ele, Ady, estava no carro com a vítima quando foram abordados por elementos da Polícia Judiciária, empunhando metralhadoras, com as quais foi literalmente fuzilado.

Ady não chegou a ser ouvido em Cabo Verde quando o processo de investigação criminal foi aberto, porque, entretanto, já tinha viajado para os Estados Unidos. Mas, a mando do procurador da República Ary Varela, que coordenava a investigação e acabou sendo afastado, essa testemunha foi interrogada pelo temível FBI (Federal Bureau of Investigation), mediante carta rogatória, em Fevereiro deste ano, conforme contou o próprio ao semanário de Cidadela.

“Os agentes do FBI vieram ouvir-me na minha casa nos EUA, a mando do procurador Ary Varela, que, na altura, coordenava as investigações desse processo. Os agentes do FBI quiseram saber tudo o que aconteceu naquela noite. E, depois de recolherem as minhas declarações, garantiram que iriam encaminhar o meu depoimento para esse procurador que estava com o processo”.

Sucede que, como Santiago Magazine havia revelado, o procurador Ary Varela deixou de coordenar esse processo, tendo sido vítima de buscas em sua casa e teve todas as suas diligências feitas durante a investigação do caso excluídas do processo, que investiga um grupo de operações da Polícia Judiciária, na altura liderados supostamente por Paulo Rocha, então director nacional adjunto da PJ e actual ministro da Administração Interna, pelo homicídio do cidadão Zezito Denti d’Oru. No seu depoimento, Ady coloca o ministro na cena do crime, mas com o desentranhamento de todas as diligências do procurador que tinha o processo fca impossibilitada a audição da principal testemunha, que pode confirmar ou não a presença de Paulo Rocha na emboscada da Cidadela.

E a saída abrupta de Ary Varela do caso, mal a notícia foi publicada por Santiago Magazine, poderá explicar o motivo pelo qual, a testemunha Ady, peça-chave nesta estória, nunca mais foi contactado pelas autoridades nacionais.  “Fico com a sensação que o Governo e as demais autoridades cabo-verdianas querem fechar os olhos em relação ao caso da morte de Zezito”, realçou.

Ady, que estava na viatura onde Zezito Denti D’Oru foi baleado, promete continuar a lutar para que esse homicídio não seja esquecido. “Este caso não pode cair no esquecimento. Queremos que a justiça seja feita caso contrário avançaremos com um processo contra o Estado de Cabo Verde”, avisa, citado pelo A Nação.

Neste momento, oito anos depois do suposto crime de Cidadela, a Procuradoria da República da Praia constituiu como arguidos no processo de investigação à morte de Zezito denti d’Oru – tido como o assassino da mãe de uma inspectora da PJ, em 2014, numa suposta vingança do narcotráfico contra a inspectora Kátia Tavares – três inspectores-chefe da Polícia Judiciária, suspeitos de “homicídio agravado”. No local, entretanto, estavam 12 elementos que participaram na emboscada, de acordo com factos apurados pela investigação que decorre no MP, estando entre eles o ministro Paulo Rocha, referenciado nos Autos de Instrução nº 6379/2015.

A revelação de parte do conteúdo desses autos valeu ao Santiago Magazine, ao seu director e jornalista Herminio Silves, e ao jornalista Daniel Almeida, do A Nação, processos crime por desobediência qualificada, alegando o Ministério Público que houve violação do segredo de justiça, processos esses que ainda decorrem trâmites na Procuradoria..

MP promete despacho em breve

O Procurador-geral da República, Luis José Landim, garantiu que o Ministério Público vai “brevemente” emitir o despacho de “encerramento da instrução” do caso do homicídio de José Lopes Cabral, vulgo Zezito Denti d’Oru, emigrante na Holanda.

Das várias questões que o jornal A Nação lhe colocou via e-mail, conforme relata o periódico, Landim evitou responder à grande maioria, atirando apenas esta frase de valor jornalístico:  “brevemente será emitido o despacho de encerramento da instrução relativamente ao referido processo, pelo que, tornando-se público, poderá ser consultado nos termos da lei processual penal”.

“Zezito Denti d’Oru” foi baleado na noite de 13 de Outubro de 2014, na Cidadela, numa operação executada por agentes da PJ, alegadamente liderados por Paulo Rocha, então director-nacional-adjunto da PJ e desde 2016 ministro da Administração Interna.

Um crime que os familiares não entendem, mas não querem que seja esquecido. Edna Cabral, irmã de Zezito, não está optimista em como as autoridades irão conseguir resolver este caso, mas continua a exigir justiça para o irmão e indemnização para os filhos. O mesmo desejo de Carla Veiga, mãe de filha de Zezito, que disse ao semanário, que neste momento ela quer apenas justiça para que se condenem os supostos assassinos e indemnização para os filhos de Zezito Denti d’Oru.

 

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine

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