Cabo Vede foi e é, pese embora uma ou outra situação menos feliz, um país de brandos costumes. Uma terra de concórdia, solidariedade nos momentos mais duros. Como este de segunda-feira, em que um presidente de Câmara - a Praia, a maior do país - foi baleado por desconhecidos.
Qual o móbil? Existirão respostas mil, especulações ipsolons, conspirações xis. Interessa, agora, é reflectirmos sobre como este país se vem derrapando no aspecto da segurança. Se antes já havia essa percepção, agudizou-se agora com o atentado, que cada vez mais se acredita ter sido minuciosamente preparado.
Mas nem é isso que importa analisar. O principal é a intolerância que vem tomando conta deste país. Jovens, velhos, homens e mulheres do país, de que sou grato por cá ter nascido, estão a revelar-se a cada dia ultra-radicais na forma de pensar e de agir. É um drama que vem de há anos, mas que, inadvertidamente, vem tomando conta da nossa sociedade, com efeitos nefastos para as nossas famílias.
A democracia, na base da doutrina de Norberto Bobbio ou Toqueville, preconiza espaço para o debate. Nunca, mesmo nunca, premir o gatilho, como, de resto aconteceu esta segunda-feira, 29, com o presidente da Câmara Municipal da Praia. Um atentado vil, miserável e reprovável a todos os níveis. Porque incompreencível, inadmissível, indigesto.
A política é um campo de diálogo, se não estivermos de acordo com um titular de cargo político a única ferramenta legal e lógica é o direito de voto. Fora deste espaço nada mais funciona, a não ser a via judicial. O ataque ao presidente da CM da Praia é por demais condenável. Óscar santos tem feito um trabalho meritório na Praia, transformando a capital numa cidade linda, agradável e vivível. Santos, quer se goste, quer não, tem sido um bom presidente de Câmara. Talvez por isso, o seu rigor, metodologia e ética o tenham traído, a ponto de desagradar a quem pensa apenas em si e não na nossa grande Praia
Mas isso também mostra como a capital de Cabo Verde não estã segura. O Governo anunciou e colocou mais de 300 câmaras de vigilância no centro da cidade, a fim de as autoridades policiais poderem antecipar ou desvendar crimes regularmente cometidos na Praia. Se esse equipamento de segurança não viu quem quer matar o presidente da Câmara Municipal da Praia, então qual a sua utilidade e eficiência?
Aliás, gastaram-se milhões (ainda que com ajuda do Govberno da China) só para colocar essas câmaras apoenas nos bairros nobres como Plateau, Palmarejo ou Prainha, deixando ainda a descoberto zonas mais criticas da cidade, como Lem Cachorro, Tira-Chapéu ou Várzea. Idem para o fraco policiamento nas ruas, dando azo para se perpetrar toda a casta de crimes, desde agressões físiovas e sexuais, raptos a atentados contra vida das pessoas.
E pergunta-se onde está o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha? Sim, além de ser tutela da polícia, Rocha, note-se é formado na área, e inclusive chefiou o Serviço da informação da Republica, que não conseguiu antecipar um crime desta envergadura contra um titular de cargo político.
É inconcebível falar de segurança e não notar que a criminalidade insiste em manter-se activa. Vejamos, o Governo anunciou e prometeu reduzir a onda de crimes em Cabo Verde e até foi com esse argumentou que se elegeu, entretanto, tudo continua igual, senão pior. Ainda por cima, e sublinhe-se, o país acabou por importar mais criminosos com a assinaturta do acordo entrte o embaixador cabo-verdiano em Washington, Carlos Veiga, eo Governo dos EUA, para deportar mais 400 cabo-verdianos, sendo que boa parte são criminosos perigosos.
Pena é que estas coisas só dão nas vistas quando atinge personalidades com maiore responsabilidade no país, mas esses atentados continuam a suceder - a propósito, uma hora antes de Óscar Santos ter sido baleado também um outro cidadão, um guarda da Casa do Benfica em Achada Santo António foi atacado e baleado por três individuos encapuzados que pretendiam assaltar o local.
Quantos jovens vêm sendo mortos a tiro em rixas de gangues de bairro? Quantos já morreram? E mais quantos correm perigo de vida, apenas por viver nessas zonas críticas da cidade?
Enfim, Óscar Santos - a quem auguro rápidas melhoras . foi vítima maior de uma cidade, um país, que se vem degradando. Basta ver como as casas na Praia estão gradeadas e seus inquilinos feitos presos domiciliários. Medidas e políticas consentâneas a nível da segurança se exigem para o bem estar de cada cabo-verdiano.
Um país com medo é um país refém de quem amedronta. Cabo Verde, meu país, é pequeno em território e em população, mas enorme no amar. Neste momento de consternação, vale reflectirmos, apartidariamente, sobre a Praia que queremos. Com força divina teremos paz e concórdia na minha cidade da Praia.
Comentários