5 de julho, data suprema da nossa história. Para além do significado magnânimo que tem, ainda traz muita inspiração. Ora, tendo ouvido através de televisão de Cabo Verde (TCV), o nosso malogrado ex-primeiro presidente da República, Aristides Pereira (paz à sua alma!), a fazer publicidade da “Festa Nacional” mais importante do povo cabo-verdiano - evocando 5 de julho de 1975, altura em que, tal como no 20 de Janeiro, relembramos o herói máximo, Amilcar Cabral, e os outros combatentes da liberdade da pátria, vivos e mortos, menosprezando o “Herói desconhecido".
O que vamos relatar, porque fomos testemunha deste facto real, e ao mesmo tempo homenagear um grande Herói desconhecido (me perdoa, irmão Seven), que vai ser revelado para deixar de ser desconhecido, uma vez que comparamos o feito dele com a qualificação dos Tubarões Azuis aos quartos de final da CAN, brilhantemente conseguida sob a mestria de Lúcio Antunes (grande abraço camarada, irmão), vocês vão compreender a dimensão desse feito, e daí tal comparação.
Se lerem atentamente o que vamos descrever, porque da festa do “povo” que era suposta ser a festa da Independência Nacional, teria acabado num banho de sangue, pela negativa, nesta data célebre e única da nossa História. Como é que se ousa fazer uma festa popular sem o “povo” ser convidado a tomar parte nela? Sim, havia convidados selecionados (VIP ou de honra) e ainda hoje perguntamos: quem seria o autor responsável por essa inacreditável discriminação?
Eis os factos:
Estudante de medicina, na Bélgica, viemos muito entusiasmado como cabo-verdiano (ex-exilado politico de regime fascista português) para participar no acto solene da Independência Nacional do nosso país. Mas, com muito azedume e decepção, fomos para a Prainha seguir o evento pela rádio. Na realidade, o portão de entrada do Estádio da Várzea, lugar onde o acto Selene se ia desenrolar, estava encerrado ao público e até esta data gostaríamos de compreender por “ordem de quem” os elementos das ex-FARP cumprira, zelosamente, esta directiva.
Entretanto, o povo ia chegando, querendo participar na festa, mas como não podia entrar começou o desacato porque queria entrar à força. E as FARP, não interpretando bem o que se passava, provavelmente, para cumprir esta “ordem estúpida”, estava prestes a abrir fogo sobre a multidão. Eis que surge o nosso herói, comandante Antonio Pedro Bettencourt, conhecido por Pepei, que actuou prontamente mandando abrir o portão dando acesso assim ao povo.
Pensamos que há mais testemunhas desse episódio triste, aliás, poderia ser pior, ligado à celebração da nossa Independência. Apelamos às pessoas que se lembram deste acontecimento que se manifestem, porque a haver aquela gravação do ex-primeiro presidente, pode-se supor que ele não estaria a par, mas quem foi tão inconsequente e irresponsável para ordenar tamanha baboseira?... Quanto a nós, apesar desta enorme contrariedade, isto não nos impediu de terminar a nossa composição musical intitulada “Independência”, que também faz 45 anos e está de parabéns.
Pensamos que a verdade histórica deve ser sempre conhecida, daí o nosso desempenho em dar este testemunho, embora o nosso herói, não estivesse muito de acordo!
E falando da verdade histórica, aproveitamos para chamar a atenção do PAIGC/PAICV, que por motivos que até agora ignoramos, se recusa a fazer paz com o seu passado, esclarecendo certos pontos obscuros da sua História, sobretudo de algumas testemunhas já passaram para o outro mundo (paz às suas almas!). Queremos recordar que já escrevemos dois artigos (1- Bélgica período Peri-Independência; 2- Reflexões sobre Amilcar Cabral e a Independência das Ex-Colónias Portuguesas) precisamente para fazer reagir a quem de direito nesse partido, talvez começando por abrir um debate interno sobre este tema, que continua a ser tabu.
Desta vez, ousamos ir mais longe fazendo propostas, pois os organismos existentes (Instituto Amilcar Cabral, Fundação Pedro Pires, Fundação José Maria Neves e Associação dos Combatente da Liberdade), organizam Conferências, Workshops, debates e colóquios apenas sobre os temas que lhes interessam, ou melhor, que lhes cai no bom grado. Por isso, ousamos fazer as seguintes perguntas como temas de eventual “debate” se assim acharem por bem.
A questão sobre Amilcar Cabral, um dos maiores, senão o maior líder Africano e mesmo mundial - mas ele não passa de um simples ser humano, e sendo assim, ele esteve longe de chegar a ser perfeito. Bem, para aqueles que partilharam 100% as suas ideias, tudo era perfeito, mas para a minoria que não estava 100% de acordo com ele, como é que devia ser.
1ª Questão: Por que é que no tempo da luta armada, aqueles que discordavam do partido eram obrigados a sair e ser tratados pelos próprios camaradas como desertores, e, mais grave, ainda são vistos como traidores?
2ª Questão: Como é possível, até agora, não haver um debate sobre a morte de Amilcar Cabral em relação à Unidade Guiné – Cabo Verde?
3ª Questão: Quando é que se debateu o 1º Golpe de Estado na Guiné-Bissau, afastando Luís Cabral do poder e dando lugar à “era” Nino Vieira?
4ª Questão: (relacionada com a anterior) por que é que Cabo Verde adoptou a sigla PAICV e Guiné-Bissau continuou com PAIGC?
Achamos que já se passou tempo demais para que estas questões ainda sejam tidas como “tabu” e que nenhum líder do partido decida abrir o jogo para que sejam esclarecidas.
Fica, aqui mais uma vez, lançado o desafio.
Autor: Zefra
Nome Artístico do Doutor José Manuel Fragoso
Médico – Cirurgião Sénior no Hospital Agostinho Neto (HAN)
Praia, 4 de julho de 2020
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