As áreas verdes urbanas em Cabo Verde: o caso da cidade da Praia
Ponto de Vista

As áreas verdes urbanas em Cabo Verde: o caso da cidade da Praia

No sentido lato, entende-se que áreas verdes urbanas são espaços urbanos com predomínio de cobertura vegetal arbórea (nativa ou introduzida), arbustiva ou rasteira, que contribuem para a melhoria de qualidade de vida, o equilíbrio ambiental e a harmonização dos espaços nas cidades.

Nas ultimas décadas assistimos a uma maior conscientização da importância das áreas verdes urbanas pelo facto que cada vez mais há uma crescente preocupação dos urbanistas, paisagistas, arquitetos e decisores em considerar incluir estes espaços nos diversos instrumentos de gestão e planeamento territorial e reservar áreas com aptidões especificamente para esses fins.

As áreas verdes urbanas são importantes para as cidades porque além da melhoria de qualidade de vida das pessoas, equilíbrio ambiental, harmonização dos espaços, também contribuem para uma melhor climatização da cidade, melhorando o conforto térmico, e o aspeto paisagístico. No entanto, o papel das áreas verdes urbanas é muito mais abrangente, são espaços que propiciam desenvolvimento socioeconómico (muitas vezes confundido com crescimento económico), com inclusão das diversas classes sociais, diminuindo a segregação em termos urbanos e evitando que o acesso a áreas verdes seja apenas para cidadãos com melhores condições socioeconómicas e financeiras, e assim contribuindo para que as cidades sejam mais inclusivas, saudáveis e sustentável.

Em Cabo Verde, as áreas verdes urbanas das cidades são caracterizadas sobretudo por pequenos jardins e praças e pracetas, concebidos por vezes a partir da reconversão e reabilitação de espaços degradados. Porém, as cidades cabo-verdianas são espaços urbanos relativamente pequenos e desordenados, consequência de um planeamento urbano desestruturado e desorganizado, em que prevalece o loteamento desenfreado e negligenciando e, muitas das vezes, as áreas verdes com dimensão considerável capaz de imprimir boa dinâmica e equilíbrio entre os espaços físicos urbanos e a natureza.

Na Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, o cenário em relação a áreas verdes urbanas é semelhante das outras cidades do país, basicamente resumem-se em pequenos jardins e praças, e é caraterizado pela ausência de uma mancha verde urbana expressiva. Todavia, há memórias da existência de pelo menos três principais áreas verdes de dimensão considerável, como é o caso da “floresta do Bairro”, a área verde de Taiti, e ainda a área verde de Praia Negra. Como uma das consequências de urbanização desordenada, esses espaços verdes têm sido drasticamente reduzidos ou, num cenário mais dramático, foram completamente extintos, caso da área verde da Praia Negra. Neste sentido, é de extrema importância a defesa, a reabilitação, a manutenção, a conservação, a preservação, e o alargamento dessas áreas verdes, porque constituem um património histórico-ambiental, paisagístico e afetivo das populações envolventes e de toda a cidade, pois, são espaços recreativos, de lazer e convívio.

Por conseguinte é preciso mudar de paradigma quanto a implementação das áreas verdes urbanas na Cidade da Praia. É necessário deixar de lado o discurso retórico e as boas intenções e passar a prática, sem negligenciar as boas práticas de um planeamento urbano sustentável, em que as áreas verdes assumem um papel de destaque.

As áreas verdes urbanas demandam uma grande quantidade e disponibilidade de água para a sua manutenção. A mobilização e a disponibilidade de água, são dos maiores desafios de Cabo Verde. Portanto, considerando que Cabo Verde em termos climáticos esta inserida numa região semiárida, caracterizada por clima seco e quente em que as precipitações são escassas e irregulares e as temperaturas elevadas, a disponibilidade de água é condicionado. Contudo, o território do país é 99% mar, o que quer dizer que se for implementada medidas de políticas de mobilização de água, sobretudo a dessalinização da água do mar em quantidade e qualidade, pode-se conseguir a tão almejada “independência hídrica”.

Os desafios que se colocam à existência e manutenção das áreas verdes urbanas em Cabo Verde são de várias ordens, desde fatores naturais, como o clima, a orografia e a morfologia aos fatores antrópicos, como mau ordenamento do território, urbanização desequilibrado, ocupação de áreas de riscos (encostas e ribeiras), desmatamento e desflorestação. Porém, se for adotado e implementadas boas estratégias, como a escolha de espécies de plantas que melhor se adapta ao nosso clima e solo, a serem introduzidas nas áreas verdes urbanas, contribui sobremaneira para que essas áreas sejam mais resilientes a adversidade climática e sustentáveis.

As mudanças climáticas vieram agravar ainda mais a situação hídrica no país, em que assistimos a três anos de seca consecutivos, e o governo em decorrência disso decretou emergência hídrica, apelando para racionalidade e gestão eficiente da água, adotando boas práticas no uso da água, etc. Todavia, os efeitos das mudanças climáticas são muito mais abrangentes, e constituem um grande impacto na esfera ambiental e na vida das pessoas, em que são cada vez mais frequentes e com grandes magnitudes fenómenos extremos como fogos florestais, chuvas torrenciais e consequente inundações, secas severas com consequência na produção de alimentos, erupções vulcânicas, etc.,

Em 2015 a Organização das Nações Unidas (ONU), iniciou uma agenda global sobre os objetivos de desenvolvimento Sustentável (ODS), para o horizonte 2030. A agenda da ONU sobre os ODS debruça-se sobre várias ações que os governos e as populações devem adotar e implementar para atingir as metas definidas nessa agenda. Neste sentido, uma das ações é direcionada para a necessidade de ter as cidades sustentáveis, e na questão ambiental recomenda para a necessidade de preservar e conservar o meio ambiente.

Outrossim, numa cidade sustentável a nível ambiental deve haver um equilíbrio entre o urbano e a natureza, ou seja, é imprescindível que seja planeada e implementada áreas verdes, de preferência que essas áreas sejam de dimensões razoavelmente grandes para que, de facto, seja criada um green belt dentro da Cidade, servindo não só de espaço de lazer, convívio e desporto, mas também como área ambiental capaz de interferir na qualidade de ar e de vida das pessoas.

*Geógrafo e Mestre em Sistema de Informação Geográfica e Modelação Territorial Aplicados ao Ordenamento.

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