A Lógica do Inusitado: Viatura para Uns, Silêncio para Outros
Ponto de Vista

A Lógica do Inusitado: Viatura para Uns, Silêncio para Outros

A democracia exige equidade. Os municípios não são ilhas políticas isoladas, mas sim partes integrantes de um todo. Quando o Governo falha em tratar todos os municípios com o mesmo respeito e prioridade, a confiança no sistema é abalada.

​A distribuição de viaturas para as polícias municipais de Cabo Verde, um ato que deveria ser rotineiro e pautado pela equidade, transformou-se num caso de estudo sobre as prioridades do Governo. As informações que circulam são, no mínimo, insólitas e levantam questões sérias sobre o compromisso do executivo com todos os municípios, independentemente das suas realidades e necessidades.

​É de se estranhar que a Câmara Municipal de São Miguel, com uma força de apenas 9 efetivos, receba do Governo duas viaturas zero km, enquanto a vizinha e maior Santa Catarina, com o dobro de efetivos (19 agentes) e um pedido formal em mãos, não receba sequer uma. Este contraste gritante não pode ser ignorado. A decisão, se não for explicada, parece desconsiderar a lógica do serviço público, onde os recursos devem ser alocados com base na necessidade e no número de pessoas a servir, e não em critérios obscuros.

​Essa disparidade na alocação de recursos é ainda mais alarmante quando se soma à ausência de representantes do Governo na cerimónia de empossamento dos agentes de Santa Catarina. O que deveria ser um momento de celebração e de reforço da parceria entre o poder central e o poder local, tornou-se um sinal de desprezo. A ausência de figuras como o Ministro da Administração Interna e o Diretor Nacional da Polícia Nacional nesta cerimónia específica é um verdadeiro "tiro no pé" político, que mina a confiança e a colaboração entre as instituições.

A lógica por trás destas decisões não é clara para o cidadão comum. Parece haver uma política de dois pesos e duas medidas. Enquanto São Vicente e Sal também foram contemplados com viaturas novas, a omissão de Santa Catarina — que tem uma grande extensão territorial e uma população considerável — gera desconfiança. Afinal, a segurança pública é um direito fundamental e deve ser garantida em todo o território, e não apenas em localidades selecionadas. A transparência na gestão dos bens públicos é fundamental, e o Governo tem a obrigação de esclarecer esta situação para que a população entenda os critérios utilizados e se sinta verdadeiramente representada.

​A democracia exige equidade. Os municípios não são ilhas políticas isoladas, mas sim partes integrantes de um todo. Quando o Governo falha em tratar todos os municípios com o mesmo respeito e prioridade, a confiança no sistema é abalada.

 

 

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