Sede na Praia (CPRSS) prestes a ser despejada por dívidas, conta bancária violada, ingerência da cúpula na estrutura concelhia. Carta virulenta do ainda líder do PAICV em Santiago Sul a denunciar “podres” da actual direcção do partido.
Na véspera da reunião do Conselho Nacional do PAICV, que acontece este sábado e domingo na Praia, Nelson Centeio, ainda presidente da Comissão Política Regional do PAICV em Santiago Sul (CPRSS) endereçou ontem, 14, uma carta à líder do partido, com conhecimento a todos os antigos presidentes do partido, na qual faz denúncias graves sobre o funcionamento da CPRSS.
Centeio, cuja direcção acabou por cair na semana passada por causa da demissão em bloco de 13 membros, começa por dizer que “muita inverdade tem sido” contada pela presidente do PAICV acerca do partido na maior região política do país.
Segundo ele, “a postura desses treze elementos demissionários, de manifesta má-vontade, dificilmente se compreende como normal e justa se atentarmos para o facto de ainda hoje o colectivo da CPRSS não estar completo. Mesmo contando os recém-demisionários, faltam ainda eleger os primeiros secretários dos Sectores de: São Domingos, e da Ribeira Grande de Santiago, as coordenadoras representantes da FMPAI dos sete Sectores da Região e da JPAI de São Domingos e da Ribeira Grande de Santiago. Dos trinta e um elementos que compõe a CPR faltavam ainda onze por eleger. Como é que podemos aceitar como sendo justa toda esta movimentação da Presidente do Partido e os seus acólitos da Comissão Política Nacional para inviabilizar uma Comissão Política Regional que nem ainda conhece todos os seus membros efectivos nem o seu potencial de entendimento, harmonia e sucesso num trabalho de equipa? Se o órgão é disfuncional, como têm alegado, acaso isso não se deverá, mesmo que numa ínfima parte, ao simples facto de ainda não estar completo?”
“Infelizmente, não tem sido este o entendimento da actual Direcção do Partido e, em especial da Presidente Janira Hopffer Almada, que se tem vitimizado permanentemente, lançando a culpa pelos seus fracassos políticos sobre outros ombros que não os seus e dos seus acólitos na Comissão Política Nacional, pois mais de um ano após a sua derrota nas legislativas não têm sido capazes de arrebatar a iniciativa política ao MpD”, atira, revelando a seguir atitudes que considera ingerências da direcção nacional do PAICV no funcionamento da CPRSS.
“Ao deliberar nomear um dos seus membros, Fernando Moeda, como ‘supervisor’ da CPRSS, a Comissão Política Nacional abriu um capítulo novo da supressão da democracia interna e de agravamento da disciplina institucional, com implantação da ditadura no Partido, obviamente em flagrante violação dos Estatutos do mesmo. Pois, se a um órgão com as responsabilidades de coordenar o combate político na mais importante região política do país não se reconhece a autonomia a que tem direito, não se lhe permite nem tempo nem oportunidade para eleger os elementos que lhe faltam, ou seja, é propositadamente coartada no seu potencial de liderança da região, de que outro modo se pode interpretar a decisão de a dotar de um supervisor? (…) Com um órgão nacional tão irresponsável e ligeiro a violar os regulamentos que assumiu o compromisso público de cumprir e fazer cumprir, como é que conseguiremos algum dia ter a estabilidade para reconquistar a confiança dos caboverdeanos?”, questiona.
A situação financeira da CPRSS
Nelson Centeio, que tem apoio político de Felisberto Vieira, adversário interno de Janira Hopffer Almada, denuncia na missiva que a conta bancária da CPRSS “foi violada pela direcção nacional”, ao sacar mais de oitenta contos sem o seu prévio conhecimento. “Eis que o Sr. Nilton Reis, braço-direito da Presidente do Partido, de repente enviou um email (no dia 30 de Junho) ao gerente da Agência da Assomada a lhe pedir que procedesse a uma transferência bancária no valor de 84.000$00 (oitenta e quatro mil escudos), para a conta do Secretariado Nacional do PAICV sem o conhecimento e tão-pouco o consentimento da CPRSS! Mais: Com o argumento de que a conta pertence a um, citamos, ‘Sector que não existe’! (pois claro que não existe, uma vez que devia ter mudado de nome desde que a Região Santiago-Sul foi criada em 2010! Agora, usar esse preciosismo jurídico para justificar o assalto à nossa conta bancária mostra o verdadeiro carácter das pessoas que hoje respondem pelo PAICV!)”, revela Centeio, que também aponta o dedo ao BCA por agir de forma “irresponsável e ilegal”, e “impedir que sejamos titulares dessa conta desde que assumimos a Direcção da CPRSS, alegando que devemos apresentar o NIF do PAICV (pasme-se! - e não da Região Santiago-Sul que, estatutariamente, tem autonomia financeira) e ‘’uma carta-conforto’ ’que deveria ser assinada pelo Secretário Geral do PAICV, Julião Varela!”.
Neste momento, revela Nelson Centeio, a CPRSS corre o risco de ser despejada da sua sede na Fazenda, porque o PAICV deve mais de 900 contos de renda (942.000$00 – novecentos e quarenta e dois mil escudos). “O facto é que tais dívidas foram herdadas da anterior da CPRSS e, sem enjeitar as nossas responsabilidades na procura das soluções que se impõem não podemos deixar de estranhar que o Sr. Fernando Moeda hoje seja um dos elementos da Direcção Nacional do PAICV que mais tem lutado para nos impedir de trabalhar. Se ao menos ficasse quieto, teríamos mais energia e tempo para resolver questões que ele próprio deixou agravar quando respondeu pela Região de Santiago-Sul. No entanto, é o próprio banco do qual ele é administrador que mostra excessos de zelo ridículos para nos impedir o acesso à conta”.
Por tudo isso, o signatário entende que a postura de Janira Hopffer Almada visa inviabiliazar o funcionamento da CPRSS “não se coibindo de, para isso, usar as armas mais baixas”.
“Infelizmente, só lamentamos o estado lastimável a que a sua liderança sufocante e atabalhoada, porque insegura, está levando o PAICV e os seus mais altos valores de lealdade, tolerância e democracia interna. Não acreditamos que este seu estilo de gestão consiga trazer quaisquer ganhos (eleitorais ou outros) ao nosso amado mas muito martirizado Partido. E, em concertação com os meus camaradas da CPRSS e auscultando líderes e outros militantes experimentados, decidiremos o melhor caminho nos próximos dias”, promete o ainda presidente da CPRSS, que termina afirmando que “o PAICV precisa urgentemente de uma liderança digna desse nome”.
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