Monumento da Liberdade e Democracia: O pomo da discórdia entre os cabo-verdianos
Política

Monumento da Liberdade e Democracia: O pomo da discórdia entre os cabo-verdianos

A construção do Monumento da Liberdade e Democracia, na cidade da Praia, tem sido pomo de discórdia entre os cabo-verdianos, com a oposição a questionar a oportunidade do investimento e o Governo a defender a sua continuidade.

Enquanto os partidos da oposição se mostram unânimes em contestar o “gasto” de 150 mil contos, em virtude da "situação caótica" que o país atravessa, o partido que suporta o Governo defende a importância da obra.

A Inforpress, depois de ouvir os partidos políticos, conversou com alguns elementos da sociedade civil.

O fundador do MpD, António do Espírito Santo, defende uma "moratória" na construção do monumento, argumentando que a actual conjuntura exige uma aplicação mais cautelosa dos dinheiros públicos, sobretudo com as dificuldades nas ligações aéreas interilhas.

Na perspectiva do antigo presidente da Assembleia Nacional, a proposta do tal monumento “tem qualquer coisa de uma técnica de deslumbramento na véspera de eleições” e alertou para a confusão entre o debate sobre a oportunidade e o conceito de liberdade.

Por outro lado, o também fundador do MpD José António dos Reis reconheceu a importância de monumentos para a história, mas também questionou a "oportunidade e a localização" da obra.

O antigo ministro do governo do MpD defende que um monumento de tal simbolismo deveria ter sido discutido em ambiente de maior consenso, de modo a evitar o "radicalismo" que se verifica no debate.

Os monumentos, indicou, são nacionais, representam, de alguma forma, a simbologia que exprime o sentimento nacional, pelo que “deveria haver um consenso alargado à volta da matéria”, para que todos se revissem na construção dessa memória, sobretudo, na sua “expressividade estética, artística e simbólica”.

O escritor e analista político António Ludgero Correia desvalorizou a polémica à volta da edificação do monumento, considerando-a "treta", e defendeu que a obra não deve parar.

“Acho que precisamos crescer um pouco mais e deixar desta treta e outras tretas ideológicas e de alguns oportunismos também”, comentou Ludgero Correia, para quem “o train já saiu da estação e, agora, é a próxima estação”.  

“Esses contratos têm cláusulas e se não for feita a obra, há problemas e uma série de complicações”, assinalou Ludgero Correia, concluindo que a paralisação da construção implicaria o pagamento de indemnizações avultadas ao empreiteiro.

Jacinto Santos, também fundador do MpD, e, hoje, fora da vida política activa, asseverou na sua página de Facebook, que “toda a discussão à volta da construção do monumento em homenagem ao Dia da Liberdade e da Democracia trouxe à tona um problema de fundo, isto é, a compreensão que se tem da liberdade e da democracia”.

“Parto do princípio que a esmagadora maioria dos cabo-verdianos quer viver em liberdade e em democracia. Assim sendo, não deixa de ser um tremendo paradoxo ser contra a construção do Monumento (…)”, observou.

Segundo Jacinto Santos, enganam-se todos aqueles que pensam que o referido monumento é uma homenagem ao 13 de Janeiro, data da vitória do MpD nas primeiras eleições democráticas realizadas em Cabo Verde.

“Com o monumento pretende-se transmitir uma mensagem lapidar: repressão das liberdades individuais e supressão ou limitação dos nossos direitos políticos fundamentais NUNCA MAIS!”, destacou o primeiro presidente eleito da Câmara Municipal da Praia.

Com o monumento à Liberdade e Democracia, salientou Jacinto Santos, se pretende passar uma mensagem dirigida principalmente às gerações de cabo-verdianos que nasceram depois do 13 de Janeiro de 1991, data das primeiras eleições livre e democráticas no arquipélago.

“Defenderia a mesma posição com convicção redobrada se fosse um governo do PAICV a construir um monumento em homenagem ao Dia da Liberdade e da Democracia”, concluiu.

Indagado pela imprensa, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, garantiu que o montante para o monumento da Liberdade e Democracia já estava destinado e adiar a sua construção implicaria pagar indemnização à empresa seleccionada em concurso.

O monumento, em construção na Rotunda da Achada Grande Frente, na cidade da Praia, tem inauguração prevista para 13 de Janeiro de 2026, data em que se comemoram os 35 anos da democracia e da liberdade em Cabo Verde.

Partilhe esta notícia