André Ventura queria que o Chega conquistasse, no mínimo, trinta câmaras municipais, mas ficou-se por três. O líder da extrema-direita achou que poderia transferir os resultados das legislativas, onde ganhou em sessenta concelhos, para as eleições autárquicas, mas as contas saíram-lhe furadas. Já a direita tradicional, corporizada pelo PSD, conseguiu uma vitória estreita, arrebatando a liderança ao PS e confirmando o refluxo das esquerdas.
O erro crasso do líder da extrema-direita, André Ventura, foi pensar que podia fazer a transposição automática dos votos das legislativas para as autárquicas, embrulhado num discurso de gabarolice. Queria trinta câmaras municipais, ficou-se por três. Se tivesse estudado a história autárquica portuguesa, teria percebido qua a relação legislativas-autárquicas é muito residual e localizada.
O Chega, segundo partido português em termos de representação parlamentar, ficou, inclusive, atrás da CDU (a coligação que junta comunistas e ecologistas) no que respeita à governação autárquica.
A montanha ilusionista de Ventura pariu um ratinho, mas não deixou de manter o discurso triunfalista, alegando que o Chega se tornou um "partido de responsabilidade autárquica na liderança de câmaras municipais", mas também uma força que pode "desbloquear maiorias" e "desempatar" votações, numa alusão aos vereadores eleitos.
A exposição da sua fotografia nos cartazes de todos os candidatos do Chega às câmaras municipais, para subtilmente dar a entender que o voto era nele, não chegou para convencer o eleitorado.
Direita tradicional reclama vitória
A conquista dos cinco maiores municípios portugueses, deu a Luís Montenegro, primeiro-ministro e líder do PSD (Partido Social Democrata), o pretexto para reclamar uma "vitória extraordinária". De todo o modo, o PS (Partido Socialista), terceira força política na Assembleia da República, recuperou várias capitais de distrito e não bisou o desaira das legislativas.
Não deixa de ser verdade que as eleições autárquicas deste domingo, deram a vitória, em termos objetivos, ao PSD, tendo mais presidentes de câmara e de junta que o PS, abrindo-lhe condições para liderar, ao fim de muitos anos a influente Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), liderada pelo PS desde 2013, e a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE).
A vitória do PSD não é, contudo, tão retumbante como os dirigentes do partido esperariam, mas tem uma grande expressão, fundamentalmente, por ter conquistado grandes centros urbanos como Sintra e Vila Nova de Gaia ao PS e de ter saído vitorioso nas presidências das câmaras de Lisboa, do Porto e de Cascais. O PSD conseguiu, sozinho e em coligações, entre 134 e 135 câmaras, segundo dados disponíveis até ao momento.
É o próprio Luís Montenegro a reconhecer que a vitória não terá sido assim tão retumbante: "Não vou dizer que é um resultado histórico, mas é extraordinariamente relevante".
Socialistas evitam queda maior
Para que a noite eleitoral se salvasse e dos resultados o PS pudesse extrair algum consolo, o partido obteve duas vitórias, estas, sim, históricas, em dois bastiões do PSD: Viseu e Bragança. Mas também conquistou a hegemonia no Algarve, com 11 autarquias, uma região onde o Chega apostou forte, mas só conseguiu uma câmara.
O secretário-geral socialista, José Luís Carneiro, veio a público maquiar o facto de ter deixado de ser o maior partido autárquico português, tentando transpor o resultado das eleições de domingo para futuras eleições legislativas; "o PS voltou como grande partido de alternativa política ao Governo".
Mas numa coisa tem razão: estavam enganados os que pensavam que os socialistas estariam numa perda definitiva de representatividade na sociedade portuguesa.
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