Antes do Voto, o País
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Antes do Voto, o País

Se continuarmos a escolher por simpatia, conveniência ou barulho online, seremos cúmplices do que vier, das oportunidades perdidas, das desigualdades profundas, e da mediocridade instalada. Cabo Verde não precisa de plateias, precisa de gente que pense; não precisa de aplausos, precisa sim, de coragem. E, se cada um de nós não for capaz de erguer a voz no momento certo, então que pelo menos tenha a honestidade de admitir que não falhou com o país…falhou consigo próprio. Porque a maior traição à pátria não é o voto errado, é o voto sem consciência.

Há momentos na história de um povo em que a própria pátria exige que paremos, respiremos fundo e olhemos para dentro. Não para repetir slogans partidários, nem para alimentar as guerras estéreis das redes sociais, mas para escutar o país real, aquele que vive para lá do ruído, da propaganda e das narrativas convenientes.

Estamos às portas de mais umas legislativas e, como sempre, multiplicam-se vozes que querem dizer-nos em quem votar, o que pensar, quem tem razão e quem deve ser silenciado. Mas talvez a verdadeira maturidade democrática comece no gesto simples de recusar que pensem por nós. Cabo Verde merece cidadãos atentos, e cidadãos atentos exigem uma consciência desperta.

Hoje, mais do que nunca, importa dar um passo atrás para ver o quadro inteiro: a economia que recupera aos soluços, o desemprego que ainda fere muitas famílias, a juventude que procura um futuro e não slogans, a cultura que resiste, cada uma das ilhas com dores e esperanças próprias, o mar que é fronteira e promessa, e o Estado que deve existir para servir e não para se servir.

A avaliação não pode ser feita pela cor do partido, nem pelo medo fabricado de perder privilégios ou narrativas. A avaliação tem de ser feita com frieza, com exigência, e principalmente com verdade. Só assim se distingue o país do partido, o interesse pessoal do interesse nacional, e propaganda do real progresso da nação.

A política não é uma arena de gladiadores, é uma responsabilidade cívica. E votar é um acto de consciência, não uma coreografia tribal.

Quem procura o melhor para Cabo Verde não pode permitir que o voto seja um reflexo condicionado, nem uma resposta pavloviana*a militâncias robotizadas. O voto é o espelho da visão que temos para o país e da coragem de a defender.

Por isso, este é o momento de questionar tudo:
O que nos prometeram?
O que cumpriram?
O que escondem?
Quem está preparado para governar e quem está preparado apenas para se governar?
Quem quer servir o país e quem quer que o país o sirva?
E, acima de tudo, quem traz consigo a verdade…essa preciosidade rara, incómoda, que não cabe em posts virais nem em vídeos editados para manipular emoções.

É altura de cada cabo-verdiano se levantar como um guardião do que é nosso. De assumir, com firmeza e serenidade, que a democracia não se esgota no acto de votar, mas começa nele.

Que o país é maior do que qualquer disputa partidária, e que a nossa dignidade colectiva não pode ser hipotecada ao ruído, ao fanatismo ou à indiferença.

Despertar a consciência não é um convite, é um dever patriótico. E votar em consciência não é uma opção, é um acto de amor ao país.

O futuro não virá de quem grita mais alto, mas de quem escuta, pensa, e age com lucidez. Cabe-nos escolher, com a maturidade que a República merece, o caminho que deixaremos aos que vêm depois de nós.

Cabo Verde espera de nós algo maior do que seguidores: espera cidadãos.
O país que queremos começa no nosso voto.

Por fim, ou acordamos agora, ou acordamos tarde demais.

O país não aguenta mais votações cegas, fidelidades infantis nem a preguiça cívica que nos rouba o futuro.

Se continuarmos a escolher por simpatia, conveniência ou barulho online, seremos cúmplices do que vier, das oportunidades perdidas, das desigualdades profundas, e da mediocridade instalada.

Cabo Verde não precisa de plateias, precisa de gente que pense; não precisa de aplausos, precisa sim, de coragem. E, se cada um de nós não for capaz de erguer a voz no momento certo, então que pelo menos tenha a honestidade de admitir que não falhou com o país…falhou consigo próprio.

Porque a maior traição à pátria não é o voto errado, é o voto sem consciência.

Nota: A expressão “Pavloviana”, refere-se ao reflexo condicionado estudado por Ivan Pavlov, em que um estímulo repetido cria uma resposta automática. No contexto político, descreve comportamentos de voto ou reacções que surgem por hábito, manipulação ou condicionamento, e não por reflexão consciente.

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Comentários

  • Aguinaldo Monteiro, 24 de Nov de 2025

    O artigo apela a uma consciência cívica madura e critica a polarização partidária, o voto emocional e a manipulação mediática. A mensagem é forte, mas para ser praticamente útil ao eleitor, precisa responder a uma questão central: como votar com consciência? Não basta dizer que o voto deve ser racional; é preciso indicar que critérios objetivos devem orientar essa racionalidade.

    • Aguinaldo Monteiro, 24 de Nov de 2025

      Não é apenas o povo que tem de acordar; os líderes partidários também têm de ser obrigados a acordar. E a única forma de fazer isso não é com frases bonitas nas urnas, mas com votos baseados em:competência + transparência + resultados + verdade verificável.O futuro de Cabo Verde depende menos de despertar a emoção e mais de disciplinar a inteligência cívica.
    • Aguinaldo Monteiro, 24 de Nov de 2025

      O voto não é um aplauso nem um reflexo condicionado. É um instrumento de exigência. Um eleitor consciente deve comparar programas com viabilidade, identificar quem cumpriu o que prometeu, avaliar a capacidade técnica das equipas que pretendem governar e perceber quem fortalece o Estado e quem o usa como plataforma de clientelas.O futuro do país começa no boletim de voto. Escolher bem não é apenas um direito. É um dever.
    • Aguinaldo Monteiro, 24 de Nov de 2025

      Insistimos há anos em votar por simpatia, fidelidade infantil ou pelo ruído digital. Essa preguiça cívica tem consequências: desemprego persistente, juventude sem oportunidades reais, desequilíbrios entre ilhas, crescimento económico a passos incertos e um Estado que, muitas vezes, se serve antes de servir. A pergunta que se impõe: Como garantir que o voto sirva o país e não apenas os partidos?
    • Aguinaldo Monteiro, 24 de Nov de 2025

      Votar de forma consciente, portanto, significa verificar dados, comparar programas, avaliar currículos das equipas propostas, identificar riscos de clientelismo e exigir que a política pública seja desenhada com base em evidências, e não em marketing partidário. O futuro de Cabo Verde não depende do partido que comunicar melhor, mas de quem demonstrar, com provas, capacidade de governar com rigor, responsabilidade e transparência.

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