São Nicolau: João Lopes Filho homenageado na Fajã
Sociedade

São Nicolau: João Lopes Filho homenageado na Fajã

O antropólogo, historiador e professor Universitário foi homenageado na Fajã, a terra onde iniciou a sua atividade de docente e deixou boas recordações junto da comunidade. Antigos alunos recordaram o período em que João Lopes Filho, então com apenas 18 anos, iniciou a sua vida profissional como professor de “posto de escola”, uma categoria que já não existe.

O antropólogo, historiador e professor universitário João Lopes Filho foi homenageado na noite desta quarta-feira, 26, na localidade da Fajã, um gesto que, segundo o próprio, representa “um profundo reconhecimento” pelas raízes da sua carreira, ou não tivesse ele iniciado a sua atividade docente nesta comunidade.

A cerimónia, organizada pelo investigador José Cabral, foi assinalada por depoimentos de antigos alunos, que recordaram o período em que João Lopes Filho, então com apenas 18 anos, iniciou a sua vida profissional como professor de “posto de escola”, uma categoria que já não existe.

Em declarações à Inforpress, João Lopes Filho contou que na época, sem formação formal, mas movido pela vontade de estudar em Portugal - e sem meios financeiros para tal -, encontrou na Fajã a porta de entrada para concretizar esse objetivo.

Lembrado com amizade e carinho

“Trabalhei aqui dez anos, depois fui para Portugal estudar com o dinheiro que ganhei. Estou muito reconhecido, porque, geralmente, quando uma pessoa vai a um sítio, é esquecida. Aqui, não, aqui lembram-se de mim com amizade e carinho”, disse emocionado o homenageado.

Segundo João Lopes filho, durante o período em que lecionou na ilha, distinguiu-se não apenas como professor do ensino primário, mas também como pioneiro na formação de adultos, tendo aberto aquela que descreve como “a primeira escola de formação de adultos” do país.

O escritor disse sentir-se “ligado para sempre” a esta localidade, já que muitos habitantes aprenderam a ler e a escrever graças ao seu trabalho.

Quanto à homenagem, João Lopes filho salientou tratar-se de um gesto que ultrapassa a esfera social, considerando que “isto já é amizade, é algo muito especial”.

O professor considera São Nicolau como a sua terra de referência, destacando que procura sempre “levantar o nome da ilha”, através da escrita e das diversas obras que já publicou.

Homenagem a um dos maiores intelectuais cabo-verdianos

O investigador José Cabral, de quem partiu a iniciativa, explicou que a escolha da Fajã não foi por acaso, mas sim por representar o ponto de partida da trajetória académica e profissional de João Lopes Filho.

“Ele morou na Fajã durante cerca de dez anos e iniciou a sua carreira exactamente aqui, como professor de posto escolar. Descobri que tinha muitos alunos desde os anos 50 e 60, todos com grande admiração por ele. Fez todo o sentido fazer esta homenagem a um dos maiores intelectuais cabo-verdianos, alguém que tanto fez pela cultura de São Nicolau e pela cultura de Cabo Verde”, disse o investigador.

Cabral sublinhou que o homenageado é reconhecido, inclusive em Portugal - onde, durante vários anos, deu aulas na Faculdade de ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa -, como um dos mais destacados professores na área da Antropologia, e considerando que homenagens em vida devem ser regra e não exceção”, mas que, em Cabo Verde, “temos a mania de esperar as pessoas morrerem para as homenagearmos”.

José Cabral disse, ainda, que este gesto deve servir de incentivo às autoridades locais e nacionais para descentralizar eventos e valorizar as figuras da diáspora e da ilha enquanto ainda estão vivas. E aproveitou para recordar outras personalidades merecedoras de reconhecimento em vida, citando, entre outros, o músico Jaime, do conjunto musical “Os Tubarões”, e apelando para que o país mude de atitude.

C/Inforpress
Foto: DR

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