Milhões de pessoas manifestaram-se nas ruas do EUA este sábado em todos os Estados do país, excedendo em 450 as manifestações planeadas em junho passado, contestando a “agenda autoritária de Trump”. Com o governo federal paralisado e as tentativas do presidente norte-americano de colocar tropas da Guarda Nacional em cidades geridas pela oposição, milhões saíram para a rua na segunda rodada dos protestos iniciados em junho.
Em junho passado, ao mesmo tempo que o presidente Donald Trump chegava a um desfile militar em Washington, mais de quatro milhões de pessoas saíram às ruas em todo o país protestando contra o governo. Foi aí que tudo começou e afirmou os protestos sob o lema “No Kings” (Sem Reis) em todo o país, que este sábado, 18, juntou muito mais pessoas em 2.500 cidades dos 50 estados dos Estados Unidos da América (EUA). Segundo a organização, terão saído às ruas mais de sete milhões de pessoas.
Aquando das primeiras manifestações, em junho, Trump estava completando cinco meses de governação, tendo já emitido centenas de ordens executivas e medidas racistas e xenófobas, como a cidadania por nascimento e a perseguição aos imigrantes; o ataque à legislação que protegia pessoas transgénero, às manifestações estudantis, bem assim, a iniciativas federais pela diversidade, equidade e inclusão.
Escalada perigosa e sem precedentes
A tensão originada pela perseguição a imigrantes atingiu o seu ápice em Los Angeles, com Trump a federalizar a Guarda Nacional da Califórnia contra a vontade do governador Gavin Newsom, uma decisão classificada pela opinião pública e especialistas como uma escalada perigosa e sem antecedentes, desde o fim da guerra no Vietname.
Para os organizadores, o governo Trump aproveitou o verão, com boa parte da população em férias, para “dobrar a aposta”, julgando que, depois, as pessoas seriam confrontadas com o facto consumado e não reagiriam. Contudo, as manifestações de ontem, vieram confirmar que a corrente de oposição ao governo não só não regrediu como, pelo contrário, saiu às ruas com muito mais força.
Efetivamente, durante o verão, agentes do ICE (Immigration and Customs Enforcement) – a agência governamental responsável pela deportação de imigrantes – aumentaram exponencialmente as operações em todo o país, pressionados pela Casa Branca para cumprirem metas de prisão e deportação de imigrantes considerados ilegais, enfrentando os protestos de comunidades locais.
Paralelamente, Trump exigiu ao Departamento de Justiça que processe os seus opositores políticos, expondo a verdadeira face do trumpismo e da extrema-direita que defende a “liberdade de opinião irrestrita”, de momento que só se aplique a eles próprios.
Entre os alvos de eventuais ações judiciais, está o ex-diretor do FBI, James Comey, bem como a procuradora-geral de Nova York, Letitia James. Ao mesmo tempo que tentava perseguir judicialmente os seus opositores políticos, o governo Trump processou o jornal The New York Times por alegada difamação e obrigou à suspensão do popular programa de televisão “Jimmy Kimmel Live!”, entretanto restabelecido por pressão da opinião pública.
Paralelamente, foram intensificadas as tentativas, entretanto goradas, de enviar tropas federais para as cidades de Washington, Memphis, Chicago e Portland, lideradas pelo Partido Democrata.
Fim à vista ou golpe?
Com políticas de imigração suicidas, que têm desfalcado de mão de obra setores viais da economia como a indústria, o comércio, a agricultura, os hospitais e o trabalho doméstico, entre outros, e com empresas a fechar, como se a situação da economia já não fosse péssima, o governo Trump resolveu meter-se na aventura da taxação de produtos estrangeiros que se tem traduzido ainda em mais prejuízos para as empresas e o país.
E o golpe final materializou-se na não aprovação do orçamento federal pelo Congresso, paralisando o governo e obrigando à suspensão do pagamento de salários a dezenas de milhares de trabalhadores da administração pública, senão mesmo o seu despedimento.
Com eleições para a Câmara dos Deputados no próximo ano, Donald Trump vive sob o pesadelo de perder a maioria e tornar ainda mais ingovernável o país.
De todo o modo, um crescente número de analistas e comentaristas políticos, bem como setores ligados às oposições, admitem a possibilidade de Trump estar “preparando o cenário” para “intervir à força nas eleições legislativas” para manter o controlo da Câmara dos Deputados, permitindo-lhe desmantelar alguns resquícios do “Estado de bem-estar social e as garantias democráticas alcançadas nos últimos setenta anos. Tem, contudo, um problema: ao que parece, a contestação popular não irá baixar de tom e será muito difícil convencer as Forças Armadas a alinhar numa aventura golpista.
C/CNN e Publica/Agência de Jornalismo Investigativo
Foto: X John Cusack
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