O chefe da missão de observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) às eleições angolanas afirmou hoje que tem ouvido versões muito diferentes quanto à independência do processo eleitoral em relação ao poder político.
“Como chefe desta missão, eu tenho sempre a prudência de me confinar aos limites e à natureza da missão” e, após reuniões com os principais partidos e “conversas com personalidades de espetros políticos diferentes", disse ter ouvido "perspetivas diferentes”, admitiu Jorge Carlos Fonseca, antigo presidente de Cabo Verde, no final de uma reunião com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), na oposição.
“Se me ativer àquilo que eu ouvi hoje da parte da UNITA, entendem que não existe essa separação e que há influência direta e controlo de dirigentes eleitorais por parte do poder político da situação, mas há perspetivas diferentes falando com outras pessoas”, explicou, contrapondo: “Tenho falado com gente do MPLA [Movimento Popular para a Libertação de Angola, no poder desde 1975] e tive um encontro com o Presidente da República e candidato a presidente, João Lourenço” e, desse lado, “há outro entendimento”.
Na reunião com a UNITA, Fonseca ouviu queixas várias, desde “desigualdade de cobertura por parte dos órgãos de comunicação social públicos, não divulgação das listas eleitorais provisórias ou sobre o funcionamento da Comissão Nacional Eleitoral e o Tribunal Constitucional”.
Apesar disso, “tendo eles expectativas muito positivas dos resultados eleitorais, acreditam que as coisas podem decorrer e funcionar de tal modo que os resultados espelhem a vontade maioritária dos angolanos”, disse Jorge Carlos Fonseca, numa referência ao partido do galo negro.
A equipa de observadores da CPLP tem 29 elementos depois de se confirmar a ausência dos cinco deputados da Guiné-Bissau que acabaram por não se deslocar a Luanda.
No dia da votação, na próxima quarta-feira, a maioria dos observadores ficará em Luanda, existindo ainda equipas de fiscalização nas províncias do Bengo, Cuanza Norte e Cuanza Sul.
No quadro das regras autorizadas pela CNE angolana, os observadores poderão acompanhar as assembleias durante o dia e o cumprimento da legislação durante o processo de votação mas o âmbito das missões não inclui a verificação da contagem dos votos.
No final da reunião, Álvaro Chicuamanga, secretário-geral da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), reafirmou as queixas e prometeu o empenho dos apoiantes no controlo da contagem da votação, nomeadamente pedindo-lhes que controlem e verifiquem os resultados afixados.
“Os eleitores angolanos estão conscientes de que devemos ter uma eleição pacífica e ordeira e, sobretudo, devemos garantir que tenhamos a oportunidade de, pela primeira vez, verificar todos nós uma verdade eleitoral”, explicou.
Por isso, a campanha “Votou, Sentou!” visa “simplesmente garantir que os cidadãos possam aferir de facto, que aquilo que foi afixado corresponde à vontade expressa nas urnas”, disse, referindo-se ao apelo do partido para que os eleitores se mantenham por perto das assembleias depois de votarem.
Depois de os dados serem confirmados pelas pessoas, “não há razão para que os eleitores continuem [no local]", disse, resumindo: "Depois é festa”.
Angola vai a votos no dia 24 de agosto para escolher um novo Presidente da República e novos representantes na Assembleia Nacional.
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