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Cabo Verde e a sua lacuna identitária: Epistemologia de ausência*
Ponto de Vista

Cabo Verde e a sua lacuna identitária: Epistemologia de ausência*

Essa discussão marca uma diferença estabelecida no cerne da minha própria identidade, por ter nascido, crescido e vivido uma parte da minha vida num espaço ambíguo, na qual, o colonialismo português, feriu gravemente a existência de um povo, roubando-os seus recursos naturais (material e humano), reprimindo-os com trabalhos escravos e de capatazia, plantando discórdia no seio das suas comunidades, asfixiando as suas narrativas com as falsas histórias, assim, quebrando o elo harmônico desse povo com o jogo de classe, deixando o mesmo com a crise da identidade.

Não importa qual é o tipo de ação, no final de uma guerra a história legitimada, é aquela, que é contada pelos vitoriosos, e os oprimidos massacrados, serão desapropriados das suas histórias e culturas por uma hegemonia de força. Mesmo depois de dez anos de luta arma, para independência de Guiné Bissau e Cabo Verde, na qual, a ideia central de um dos maiores líderes dessa revolução, Amílcar Lopes Cabral, foi a libertação do jugo colonial, com objetivo de criar um homem novo, repleto da sua própria autonomia, com plena capacidade de se identificar e se representar, Cabo verde não conseguiu apropriar-se adequadamente da sua posição vitoriosa para contar autonomamente a sua própria história.

Desse modo, ficamos refém da nossa ação vitoriosa, o que nos levou a legitimar a história e a cultura dos opressores e agressores colonialista em nosso sistema Educativo. Essa postura adotada por Cabo Verde é classificado por diversos intelectuais contemporâneo que criticam a cultura hegemônica do ocidente, como violência epistémica, que é, o projeto remotamente orquestrado, vasto e heterogêneo de se construir o sujeito colonial como o outro. Essa violência epistêmica está invisibilizado e silenciado, estrategicamente na política, na linguagem, na religiosidade e na nossa educação. E quando, tentamos associar as nossas posturas nessa violência, o nosso sistema de educação serve como pano de fundo para as manobras ilusionista dos colonialistas.

Em análise, a minha crítica não se direciona especificamente há nenhum partido político e governo, mas sim, há uma conjuntura estabelecida desde a nossa independência. É plausível ação do nosso governo por implementação do “Programa Aprender e Estudar em Casa”, mas é necessário salientar, que essa ação não está isento da minha objeção. Levando em conta, que esse programa foi adotada primeiramente pelo governo Português, tendo em vista as suas necessidades, particularidade e especificidade, faz -se necessário uma profunda reflexão e estudo, para efetivação da implementação do programa em Cabo verde, sem ferir o direito de todos ter acesso a educação.

O ponto central da minha crítica, está centralizada na imagem publicado, que mostra distorções nos conteúdos disponibilizado pelo “Programa Aprender e Estudar em Casa”, partilha pela Televisão de Cabo Verde. A descrição do texto na imagem partilhada, apresenta Cabo verde como um País que não pertence a nenhum continente. Na verdade, sabemos que geograficamente Cabo verde Pertence ao continente Africana, e na descrição do texto da imagem partilhada, em momento algum essa relação foi evidenciada. Nessa mesma direção, o texto apresenta a localização geográfica de Cabo verde somente entre Brasil e Portugal, mostrando evidência claramente de tentativa de aproximação ao continente Europeu e Continente Americana, e assim, distanciando do continente Africano.

Libertamos das correntes que foram colocados em nossas mãos, mas agora, o nosso maior desafio é libertar da corrente que foi colocado em nossas mentes. Para o efeito, precisamos nos reinventar autonomamente em nossas próprias história e cultura, ciente das contribuições desencadeada pelas ações colonialista, numa versão da história que não romantiza o processo de formação de estado nação Cabo verdiana, assim como nos é apresentada.

Desse modo, para que possamos ser livres e sujeitos legítimos da própria história, devemos procurar estabelecer novas epistemologias e metodologias, comprometida com a re-significação de saberes e práticas emancipatória, capaz de restabelecer os problemas e os desafios sóciopolítico do nosso país. Para isso, devemos buscar uma ruptura com as teorias objetivista, racista, patriarcais, que no campo de produção de conhecimento, ignoraram o nosso movimento de pensamento e práxis, e optarmos por “desobediência epistémica”, que está vinculado a colonialidade, no sentido da configuração política sobre a identidade. A desobediência epistêmica pode ser ilustrado a partir da escrevivência, que é tomada como método de investigação, de produção de conhecimento e de posicionalidade implicada.

* Texto reflexivo referente a um conteúdo postado no "Programa Aprender em Casa" do governo de Cabo Verde, que carrega muitas contradições com a verdade sobre a nossa realidade. 

**Mestrado acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologia Sustentável. Sou graduado em Ciências da Natureza e Matemática com Habilitação em Física. Sou ex presidente de associação comunitária de Cobom. 

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SOBRE O AUTOR

Redação