
O apelo é da coordenadora residente das Nações Unidas, que apelou à mobilização dos parceiros internacionais, incluindo investidores privados, para que os planos de desenvolvimento do arquipélago continuem a ter sucesso. Patrícia Portela sustenta que o “próximo passo” é na transição digital e energética, bem como em “investimento forte” na economia azul.
A coordenadora residente das Nações Unidas em Cabo Verde, Patrícia Portela, apelou à mobilização dos parceiros internacionais, em 2026, incluindo investidores privados, para que os planos de desenvolvimento do arquipélago continuem a ter sucesso.
“O país tem feito muito, já mostrou que é possível progredir em várias áreas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] e, agora, está num ponto crítico em que precisa do apoio forte dos parceiros internacionais, também do setor privado”, referiu a coordenadora residente da ONU ao fazer o balanço de 2025 e perspetivar 2026.
“Esse próximo passo de desenvolvimento é um passo maior, mais ambicioso, que passa necessariamente pela transição digital, energética e pelo investimento forte na economia azul”, detalhou, assinalando que o país “é 99 porcento [%] mar”, recurso natural capaz de se traduzir em rendimento “de uma forma mais estruturada, para toda a população”, disse Patrícia Portela em entrevista à agência Lusa.
O apelo surge “num contexto global mais difícil” em que o apoio ao desenvolvimento “mudou radicalmente”.
“Em contextos de crise, temos de ser mais criativos e procurar novas oportunidades”
“Os países têm outras prioridades, muito ligadas à defesa, o que é uma pena: vê-se a quantidade de investimento que é feito, no mundo, para alimentar a indústria bélica. Quando se compara com o investimento em desenvolvimento, a diferença é brutal, é abismal”, salientou a coordenadora residente das Nações Unidas em Cabo Verde.
“Eu digo sempre que, em contextos de crise, temos de ser mais criativos e procurar novas oportunidades”, destacou Patrícia Portela.
A forma como Cabo Verde tem conseguido abrir caminho e mobilizar recursos para a ação climática é apontada como um exemplo a seguir e a acelerar, sobretudo após o ano de 2025 - que serviu de aviso para os desafios meteorológicos extremos.
“Estou a viver aqui há dois anos e meio”, mas os registos mais dramáticos concentraram-se “nos últimos seis meses. Isso assusta-me um pouco, a frequência e a força desses eventos”, disse ainda a representante das Nações Unidas, numa alusão à tempestade Erin e às intempéries que se abateram sobre a ilha de Santiago.
As agências da ONU têm trabalhado com as autoridades em várias frentes, nomeadamente, na criação de alertas precoces sobre aproximação de intempéries e no planeamento de serviços e reconstrução com maior resiliência.
“Há um trabalho forte” com “todos os parceiros” numa área cujo sucesso “vai abranger vários ODS”, disse Patrícia Portela, que assinalou a plataforma Blue-X, na Bolsa de Valores de Cabo Verde e em parceria com a Bolsa do Luxemburgo, bem como a conversão de dívida em investimento climático, acordada com Portugal, como exemplos a seguir.
Até 2030, metade da eletricidade poderá ter origem renovável
São pontos ligados ao investimento em curso na transição energética e cujos projetos no terreno (reforço do parque eólico e solar, associado ao armazenamento de energia por bombagem) permitem antever que, até 2030, metade da eletricidade poderá ter origem renovável.
No balanço de 2025, a coordenadora residente da ONU destacou, ainda, a estabilidade macroeconómica e o crescimento económico do país, “apesar das adversidades”, num “momento difícil de circunstâncias globais com mudanças geopolíticas, conflitos e mudanças climáticas”.
Cabo Verde “reduziu drasticamente a pobreza, sobretudo a pobreza extrema e acho que é importante destacar o facto de mais de 60 por cento (%) da população cabo-verdiana ser coberta por, pelo menos, um esquema de proteção social”, disse Patrícia Portela, acrescentando que “o país “consegue identificar com nome, apelido e endereço quem são as pessoas mais vulneráveis. Isso é muito bom para beneficiarem de políticas sociais”.
Segundo aquela responsável, o ano ficou igualmente marcado pela consolidação da transformação digital do país, refletida na abertura dos parques tecnológicos da cidade da Praia e Mindelo e na concretização de serviços públicos digitais.
Transição digital é um acelerador para os ODS
A transição digital “é um acelerador para os ODS, sobretudo num país arquipelágico. Essa transformação para o mundo digital é uma necessidade urgente” e “um investimento inteligente” que atrai cabo-verdianos, “mas também estrangeiros”, referiu Patrícia Portela.
Ainda segundo a coordenadora das Nações Unidas em Cabo Verde, o desempenho do país na execução dos ODS avança “melhor do que a média global e melhor do que a média regional”, a um ritmo que vai beneficiar dos “aceleradores”, como “a transição digital, a transição energética e o foco na ação climática", ou seja, "áreas que vão beneficiar todos os ODS”, conclui Patrícia Portela.
C/Inforpress
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